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Luta anticorrupção made in USA: provas da perseguição política contra o Correísmo no Equador

Conversas vazadas deixam claro que EUA atuou contra o Correísmo em conluio com setores do Judiciário do Equador, como fez no Brasil com a Lava Jato
Silvina Romano
O então presidente do Equador, Rafael Correa (2007-2017). (Foto: Asamblea Nacional del Ecuador / Flickr)

No dia 29 de agosto, uma investigação conjunta do Drop Site News e do The Intercept Brasil revelou informações vazadas envolvendo a atual procuradora-geral do Equador, Diana Salazar, e a intervenção dos EUA no aparato jurídico e de segurança do Equador. 

Os documentos revelam que Diana Salazar ocultou informações relevantes sobre o assassinato do ex-candidato presidencial Fernando Villavicencio, que poderia ter tido um impacto (a favor do Correismo) nas eleições de julho de 2023. Também revelam a chantagem envolvida na “colaboração efetiva” (a técnica da “confissão arrependida” ou “ delação premiada”) aparentemente usada para esclarecer casos de corrupção, algo que se espalhou sistematicamente na região, começando com o uso e abuso desse mecanismo no mega-caso anticorrupção da “Lava Jato” no Brasil. Os dados revelados corroboram investigações anteriores que mostram a sistemática perseguição política por meios jurídico-midiáticos contra o Correismo e a crescente interferência dos EUA nos assuntos internos do Equador desde o governo de Lenín Moreno (2017).

Informações contidas nas mensagens vazadas por The Intercept e Drop Site News

1– Desde o início, a promotora Salazar sabia que o assassinato de Villavicencio havia sido organizado e cometido pelo grupo criminoso Los Lobos, mas ocultou essa informação do público por motivos políticos. Ela evitou focar nesse fato, deixando correr a teoria de que o assassinato havia sido orquestrado por Rafael Correa e seus aliados, uma suspeita que teve impacto direto contra Correa nas eleições de julho de 2023. Em uma conversa em 29 de setembro de 2023 (após o primeiro turno das eleições), Salazar avisou que só daria andamento ao caso (do assassinato) após o segundo turno das eleições (outubro), para evitar favorecer o partido Movimiento Revolución Ciudadana (RC).

2 – Informantes dos EUA e anticorreísmo: Fernando Villavicencio não foi apenas o candidato presidencial assassinado antes das eleições de julho de 2023. Ele também foi membro da plataforma de “jornalismo independente” Plan V (financiada pelo National Endowment for Democracy – NED), que contribuiu para a criação e espetacularização da Causa Arroz Verde (Causa Sobornos), e atuou como presidente da Comissão de Supervisão da Assembleia Nacional no governo Lasso. Ele também era informante do governo dos EUA. Uma conversa diz: “Além disso, os detidos [culpados pelo assassinato de Villavicencio] seriam levados para Nova York porque mataram um informante do governo dos EUA”. A própria promotora tem um relacionamento próximo com a embaixada e, em algumas mensagens, admite que o governo dos EUA não queria que o partido Movimiento Revolución Ciudadana (RC), de Correa, vencesse as eleições de 2023. A embaixada estava preocupada com o desempenho da Revolução Cidadã nas pesquisas e sua possível vitória nas eleições: “Eles querem a cabeça do RC”, diz uma mensagem.

3 – Um dos informantes de Salazar, de acordo com as mensagens, era Ronny Aleaga, um homem de confiança, anteriormente do partido de Correa, que mais tarde foi convidado a participar como um delator. Um fato importante é que a maioria dos processos anticorrupção movidos contra líderes progressistas na região baseou-se quase que exclusivamente em informações obtidas por meio de delação premiada ou colaboração efetiva, o que implica uma pena reduzida para aqueles que estão dispostos a testemunhar e informar sobre outros envolvidos em atos criminosos. Por definição, tais informações ou acusações são consideradas como indícios que levam à busca de provas verdadeiras e suficientes. No entanto, em todos os casos, esses testemunhos foram tomados como provas em si, dando a essas declarações um escopo legal indevido. Aleaga, que aparentemente manteve trocas de informações privilegiadas com Salazar entre 2021 e 2024, foi implicado no megaprocesso judicial anticorrupção “Metástase”, junto com outros funcionários públicos e membros do judiciário acusados de aceitar subornos de um traficante de drogas em troca de decisões favoráveis. Mas antes da acusação formal contra ele, Salazar avisou Aleaga de sua prisão iminente, aconselhando-o a fugir do país para evitá-la. Depois, em março de 2024, Salazar tentou convencer Aleaga a se tornar um delator, não apenas para o governo equatoriano, mas também para o governo dos EUA. Nas mensagens, Salazar deixa claro suas conexões com os promotores na Flórida e que, ao cooperar com os dois países, sua sentença poderia ser reduzida em 90%. Aleaga foi quem forneceu ao Drop Site as conversas trocadas com Diana Salazar em uma plataforma de mensagens privadas entre 2021 e 2024.

Conclusão

Essas informações corroboram investigações anteriores que mostram a perseguição sistemática do Correísmo através da imprensa. Relatórios indicam o financiamento oficial do governo dos EUA por meio do National Endowment for Democracy (NED) para veículos de jornalismo independente, como Mil Hojas, que iniciou a Causa Arroz Verde (que se tornou a Causa Sobornos) a partir de seu próprio portal, sem provas sólidas. Também foram publicados dados oficiais sobre o crescente financiamento e assessoria dos EUA para a securitização do Equador que contribuiu para um cenário de “terra arrasada” (ausência de instituições, economia falida, ruptura do tecido social e avanço do narcotráfico) por meio da chegada de agências de segurança como o Comando Sul, NSC, INL, DEA, FBI. Isso se articula com o protagonismo dos EUA na organização e implementação de cursos de treinamento e programas anticorrupção e antilavagem de dinheiro para funcionários do judiciário e de segurança no Equador.

CELAG Centro Estratégico Latinoamericano de Geopolítica

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