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Uso de fósforo branco por Israel no Líbano atingiu forças de paz da ONU, diz relatório

Relatório revelado pelo Financial Times apontaria só um dos ataques de Israel às forças da ONU, que os condena como violações flagrantes do direito internacional

Brett Wilkins
Um peacekeeper italiano da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL) patrulha a “linha azul” entre a fronteira do Líbano e Israel, em janeiro de 2009. (Foto: Eskinder Debebe / UN Photo)

Recentemente, tropas das Forças de Defesa de Israel (IDF) invadiram uma base de manutenção de paz das Nações Unidas no sul do Líbano e dispararam munições de fósforo branco com proximidade suficiente para ferir 15 funcionários da ONU, de acordo com um relatório publicado na terça-feira (22).

O Financial Times analisou “um relatório confidencial que descreve uma dezena de incidentes recentemente ocorridos em que as IDF atacaram tropas internacionais no Líbano”. O jornal disse que o relatório foi preparado por um país que contribui com tropas para a Força Interina da ONU no Líbano (UNIFIL), que conta com 10 mil membros.

As forças e instalações da UNIFIL têm sido repetidamente atacadas por tropas israelenses desde que as IDF iniciaram uma invasão terrestre no Líbano no início deste mês, em meio a um pesado bombardeio aéreo que matou ou feriu milhares de libaneses. A UNIFIL condenou os ataques a suas posições e pessoal como uma “violação flagrante do direito internacional”.

De acordo com o relatório confidencial, as forças israelenses começaram a disparar diretamente contra as bases da UNIFIL no passado 8 de outubro. Dois dias depois, dois soldados de paz indonésios ficaram feridos quando um tanque israelense disparou contra uma torre de observação.

Em um incidente diferente, mas no mesmo dia, as tropas israelenses abriram fogo contra um bunker da UNIFIL onde soldados pacificadores italianos buscavam refúgio.

“Isso não foi um erro nem um acidente”, disse o ministro da Defesa italiano, Guido Crosetto, após o incidente. “Isso poderia constituir um crime de guerra e representou uma violação muito grave do direito humanitário internacional.”

Em 13 de outubro, a UNIFIL disse que dois tanques israelenses atravessaram o portão principal de uma de suas bases e dispararam contra uma torre de vigia, destruindo câmeras e danificando a estrutura. Os tanques deixaram a base depois de cerca de 45 minutos, após reclamações de funcionários da UNIFIL.

No entanto, o relatório afirma que, em uma hora, as tropas israelenses dispararam o que a UNIFIL acredita serem projéteis de fósforo branco a aproximadamente 100 metros, ou 328 pés, ao norte da base, ferindo 15 pessoas.

Israel nega ter deliberadamente como alvo as tropas da UNIFIL e alega, sem evidências, que as forças de paz da ONU estão sendo usadas como escudos humanos pelo Hezbollah, que lançou uma saraivada quase incessante de foguetes e outros projéteis contra Israel em solidariedade a Gaza. Israel exigiu que a ONU evacuasse suas forças de paz do sul do Líbano. A UNIFIL e os países que contribuem com tropas para a missão têm se recusado firmemente.

“Apesar da pressão exercida sobre a missão e nossos países contribuintes de tropas, as forças de paz permanecem em todas as posições”, disse a UNIFIL no domingo (20). “Continuaremos executando nossas tarefas obrigatórias de monitorar e relatar”.

A utilização de fósforo branco é proibida em áreas civis, mas é comumente utilizada em campos de batalha como cortina de fumaça ou para afastar as forças inimigas. Ele queima a uma temperatura de até 815°C. A água não o apaga. Ao entrar em contato com a pele, o fósforo branco queima térmica e químicamente até os ossos.

Ele também pode entrar na corrente sanguínea e causar falência de órgãos. Os ferimentos cobertos podem reacender quando os curativos são removidos e as feridas são reexpostas ao oxigênio. Queimaduras de fósforo branco relativamente leves costumam ser fatais. Os sobreviventes geralmente sofrem várias sequelas físicas.

As forças israelenses têm usado fósforo branco em Gaza e no Líbano desde outubro do ano passado, quando Israel retaliou o ataque mais mortal de todos os tempos em seu território, destruindo o enclave costeiro governado pelo Hamas em uma guerra pela qual agora está sendo julgado por genocídio na Corte Internacional de Justiça.

 Leia também – Gaza: se não é genocídio, é guerra total 

Israel também usou fósforo branco em guerras anteriores, inclusive durante a invasão do Líbano em 2006 e em uma escola das Nações Unidas durante a invasão de Gaza pela Operação Chumbo Fundido em 2008-09. Em resposta a uma petição de 2013 ao Tribunal Superior de Justiça de Israel apresentada por grupos de direitos humanos, incluindo a Human Rights Watch, as IDF disseram que não usariam mais fósforo branco em áreas povoadas, com “exceções muito restritas” que não foram reveladas.

Outras nações também usam fósforo branco, inclusive os Estados Unidos, cujas forças dispararam munições contendo o agente químico durante a invasão do Iraque e em outros lugares da região durante a chamada “Guerra ao Terrorismo” pós-11 de setembro.

(*) Tradução de Raul Chiliani.

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