Até o século IV os papas eram eleitos por voto dos diáconos e padres de Roma. Assim como os fiéis das dioceses votavam na escolha de seus bispos. Evitava-se envolver os demais bispos nas questões internas da Sé romana.
Como se sabe que um bispo está ou não em comunhão com a Igreja Católica? Outrora, pesquisava-se a lista de seus antecessores, para se ter certeza de que descendia de um dos doze apóstolos de Jesus. Devido a incêndios, saques e outros imprevistos que faziam desaparecer as listas, decidiu-se que estão em comunhão com a Igreja todos os prelados que se afinam com a doutrina do bispo de Roma.
A eleição de papas por cardeais teve início em 1059. Cardeal vem de “cardo”, dobradiça de porta, e é título de honra que o papa tem o direito de conceder a qualquer católico, como fez João Paulo II ao estender o chapéu cardinalício a dois teólogos europeus: Yves Congar, frade dominicano francês, e o suíço Hans Urs von Balthazar, que faleceu dois dias antes de receber o barrete cardinalício.
Desde que o imperador Constantino aliou-se à Igreja, no início do século IV, para não perder o Império Romano, os bispos passaram a ser tratados como príncipes e os papas, como reis. Durante sete séculos os sucessores de Pedro eram quase sempre escolhidos segundo conveniências políticas de famílias nobres. Isso se reverteu no Natal de 800, quando Leão III coroou o imperador Carlos Magno. O poder espiritual sobrepujou o temporal.
Todo homem batizado na Igreja Católica é virtualmente candidato a papa. Se eleito, deve abandonar a família, abraçar o celibato, ser ordenado bispo. Gregório Magno, eleito em 590, foi prefeito de Roma. O calendário atual é conhecido como gregoriano por tê-lo adaptado ao ciclo solar.
Não há limite de tempo para eleger o papa. A regra atual é que nos primeiros 15 dias seja eleito aquele que obtiver 2/3 mais 1 dos votos. Em seguida, basta maioria simples, metade mais 1. Há um escrutínio no primeiro dia do conclave, no qual os cardeais costumam prestar uma homenagem aos mais idosos, concentrando neles seus votos. Do 2º ao 4º dia há quatro votações a cada 24 horas. Descansa-se no quinto dia. No sexto, há 3 escrutínios e, no sétimo, 4. Novo descanso no oitavo dia, mais 3 votações no 9º dia e 4 no décimo. Descansa-se no 11º dia, são feitos 3 escrutínios no dia seguinte e mais 4 no 13º dia. Após o descanso do 14º dia, passa-se ao critério da maioria simples.
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Entre uma votação e outra os cardeais conversam entre si, em geral divididos em grupos linguísticos, que pesam no resultado. Tudo indica que, nos primeiros escrutínios, os italianos tudo farão para recuperar o monopólio do papado. Desde 1522 houve uma sucessão de 44 papas italianos, quebrada em 1978 pela eleição do polonês Wojtyla. O fato de a África ser o continente no qual o catolicismo mais se expande atualmente pode favorecer a escolha de um africano. A prioridade que a Igreja dá à evangelização da África e da Ásia talvez se traduza na eleição de um cardeal negro ou de olhos puxados…
Tudo indica que os cardeais deste conclave farão de tudo para decidir a eleição o quanto antes, para não passarem a impressão de que não estão suficientemente unidos. Mas após um papa que se tornou o mais respeitado estadista do mundo, não será fácil encontrar um cardeal capaz de sucedê-lo à altura.
(*) Frei Betto é escritor e educador popular, autor de “Quando fui pai do meu irmão” (Alta Books), entre outros livros.