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Li Ssu-Kuang: o geólogo vermelho que mudou as concepções científicas na China

Revolucionário desde os 15 anos, o geólogo Li Ssu-Kuang, fundador da geomecânica chinesa, deu contribuições fundamentais à exploração petrolífera na China socialista

Enrico Di Gregorio
Li Ssu-Kuang, o geólogo vermelho, dá aulas na Academia Chinesa de Ciências Geológicas. (Foto: Xinhua)
Li Ssu-Kuang, o geólogo vermelho, dá aulas na Academia Chinesa de Ciências Geológicas. (Foto: Xinhua)

Quando o geólogo chinês Li Ssu-Kuang soube da libertação do seu país pelos revolucionários dirigidos pelo Partido Comunista da China (PCCh) em 1949, ele não hesitou em fazer as malas na Inglaterra e viajar de volta para a terra natal. A viagem não foi fácil: ele só chegaria a Pequim em 1950, “depois de superar um obstáculo após o outro colocados em seu caminho pelo imperialismo e reacionários do Kuomintang”, conforme conta o obituário de Ssu-Kuang no jornal Hsinhua, publicado em 2 de maio de 1971.

O obituário também dá ênfase na participação de Ssu-Kuang na Revolução de 1911 contra a Dinastia Qing, um movimento democrático liderado pelo líder progressista chinês Dr. Sun Yat-Sen, seus serviços em várias instituições do Estado socialista chinês e até no Comitê Central do PCCh, para onde foi eleito no 9° Congresso do Partido. Por conta dessa história, honraram-lhe em seu funeral o ex-primeiro-ministro do país, Chou En-Lai, e outros membros do Comitê Central do PCCh e demais órgãos partidários. 

Ssu-Kuang sempre foi um jovem agitado. Aos 15 anos, foi enviado para o Japão para estudar engenharia de navios e se juntou à Liga Chinesa Unida, movimento dirigido pelo Dr. Sun Yat-Sen. Nessa época, o futuro geólogo chegou a conhecer pessoalmente o dirigente revolucionário e ganhou dele um bilhete com oito caracteres chineses. Em português, eles significam “lute para aprender e se torne uma pessoa útil para o País”. Até hoje, no museu montado na casa de Ssu-Kuang, há um quadro do encontro do adolescente com o dirigente, com os oito caracteres pintados no fundo amarelado. 

Depois de participar da Revolução de 1911, Ssu-Kuang decidiu concentrar-se mais uma vez nos estudos e conseguiu entrar na Universidade de Birmingham, na Inglaterra, onde estudou mineração, metalurgia e conseguiu um diploma em geologia em 1919. O jovem chinês impressionou os britânicos com a qualidade do seu trabalho. “A tese de mestrado que Ssu-Kuang escreveu sobre a geologia da China foi publicada como um livro em 1939 e, a partir dela, ele foi premiado com um doutorado na Universidade de Birmingham”, conta o geólogo Jason Hilton, da instituição britânica, no mini-documentário Li Siguang – O legado de um gigante da geologia

Depois de formado, foi nomeado professor no Departamento de Geologia da Universidade Nacional de Pequim e, posteriormente, diretor do Instituto de Geologia da Academia Sinica entre 1928 e 1949. Nessa época, Ssu-Kuang comprovou que grandes geleiras existiram na China em três Eras do Gelo que ocorreram entre 1,8 milhão e 11,8 mil anos atrás, em um período geológico chamado de Pleistoceno. Na época, teses sobre a geologia chinesa afirmavam que o país não tinha registros dessa época. Até hoje, essas evidências de gelados tempos ancestrais são estudados em pontos como a Montanha Taihang e o parque de Lushan.

Outra grande conquista científica de Ssu-Kuang foi inaugurar os estudos sobre o comportamento mecânico das rochas na China. Há estudiosos que dizem até mesmo que Ssu-Kuang foi um pioneiro na geomecânica mundial. “Após um estudo sistemático das obras de Li Ssu-Kuang sobre geomecânica (especialmente o livro ‘A Base e o Método da Geomecânica’), não é difícil descobrir que Li Ssu-Kuang expôs sistematicamente os conceitos e princípios básicos da geomecânica, os métodos básicos de análise de deformação tectônica e as características e leis básicas da deformação tectônica (especialmente a ideia de sistema tectônico)”, defende o geólogo chinês Hengmao Tong em um artigo científico publicado em comemoração ao 135° aniversário do cientista pioneiro. No artigo, Tong defende que foi Li Ssu-Kuang, e não o estadunidense Donald Wood Taylor (1900-1955), quem estabeleceu de maneira inédita os princípios da geomecânica. Com deformação tectônica, ele se refere às alterações na crosta terrestre causadas por movimentos a centenas de quilômetros (km) de profundidade na Terra, onde o movimento de correntes no mar de magma – chamado manto terrestre – faz com que as placas tectônicas se separem, se comprimam ou afundem. 

Li Ssu-Kuang também estudou os tremores terrestres causados pelos movimentos tectônicos e elaborou formas de prever terremotos. Ainda de maneira pioneira, ele foi o primeiro a apontar que as rochas têm comportamentos elásticos, estabeleceu modelos para análises de tensão e deformação de rochas e criou conceitos importantes para estudar as fraturas geológicas.

Por conta das pesquisas, Ssu-Kuang viajou para a França, Alemanha e Pequim e estava na Inglaterra na época do triunfo da Revolução. Uma vez de volta, ele logo foi nomeado pelo governo do chefe comunista chinês Mao Tsé-tung como presidente da Academia Chinesa de Ciências e ministro da Geologia.

Uma vez no cargo, Ssu-Kuang assimilou rapidamente a tarefa que lhe cabia: ajudar na construção de uma Nova China. Nos textos que Ssu-Kuang escreveu ao longo da vida, é possível notar a forma como ele encarava o trabalho. “Sou um filho da Nação chinesa e fui criado pela Pátria. Meu conhecimento e meus resultados de pesquisa devem ser devolvidos ao povo da terra-mãe. Essa é uma responsabilidade sagrada dos profissionais técnicos e científicos”, escreveu ele, em um dos seus textos. 

Sob sua direção, o Instituto de Geologia de Pequim assumiu, em 1964, a liderança na criação de um grupo de ensino de geomecânica na Seção Regional de Ensino e Pesquisa de Geologia. Trabalhando com o primeiro-ministro da China, Chou En-Lai, Ssu-Kuang orientou a criação de um Departamento de Geomecânica no mesmo instituto em 1971 e iniciou as contratações em 1973. Os escolhidos foram operários, camponeses e soldados. 

Graças a esse trabalho, a China Socialista conseguiu descobrir e passar a explorar os abundantes recursos de petróleo e gás do País, até então desconhecidos. Em 1959, ele descobriu o campo petrolífero de Daqing, o maior campo de petróleo terrestre na China até hoje. Um ano depois, as pesquisas orientadas por Ssu-Kuang revelaram o campo petrolífero de Shengli, na província de Shandong, e em 1964, a equipe do geólogo descobriu o campo de Dagang, o terceiro campo petrolífero desenvolvido e operado pela China após o triunfo da Revolução. 

Ssu-Kuang também coordenou a descoberta de importantes reservas minerais em áreas onde outros geólogos haviam declarado como estéreis. Um dos minerais foi o tungstênio, metal de cor cinza chumbo conhecido por sua extrema dureza, alta densidade e elevado ponto de fusão, usado para ferramentas que precisam aguentar altas temperaturas e desgaste, como filamentos de lâmpadas e ferramentas de corte. 

Segundo vários geólogos chineses, algumas minas da China estavam esgotadas e tinham se tornado inúteis. Mas quando Ssu-Kuang examinou as mesmas localidades, aplicando, segundo ele próprio, o marxismo-leninismo-pensamento-mao-tsé-tung na ciência e estudando os fenômenos como unidades de contrários e de maneira interrelacionada, ele encontrou “uma área extremamente rica em recursos minerais”, com “metais raros, metais ferrosos, combustíveis e metais não-ferrosos”, conforme descrito em um de seus artigos científicos. 

Os feitos de Ssu-Kuang só foram possíveis pela base econômica criada pela Nova China, dirigida pelo PCCh e pelo líder Mao Tsé-tung. O próprio geólogo reconheceu isso. Cativado pelas maravilhas do socialismo, ele ingressou no PCCh em 1958, participou dos 1°, 2° e 3° Congressos Nacionais do Partido, foi vice-presidente da 2a e 3a Conferência Consultiva Política do Povo Chinês e membro do Comitê Central do Partido. 

Em 1970, ele publicou na revista Bandeira Vermelha (Hung Ch’i) o artigo Aplicar o pensamento filosófico do Presidente Mao ao desenvolvimento da ciência e tecnologia, traduzido de forma inédita e publicado ao final da reportagem. O documento é cristalino nas suas posições.

Li Ssu-Kuang, sua esposa Xu Shubin e a filha Li Lin em Xangai, 1935.
Li Ssu-Kuang, sua esposa Xu Shubin e a filha Li Lin em Xangai, 1935.

“O rápido desenvolvimento da produção industrial e agrícola e da ciência e tecnologia, e o lançamento exitoso do primeiro satélite terrestre feito pelo homem, marcam um novo nível na ciência e tecnologia de nosso país. Nossa Pátria se tornou ainda mais bonita e a ditadura do proletariado nunca foi tão forte”, escreveu Ssu-Kuang. 

“Tudo isso representa uma imensa vitória da linha revolucionária do Presidente Mao e uma imensa vitória do pensamento Mao Tsé-tung. Quando uma pessoa bebe água, ela deve pensar na sua fonte. Se uma pessoa não se esquecer da amargura do passado, ela terá uma melhor apreciação da felicidade do presente. Com profundos sentimentos proletários, vamos dizer ardentemente: Viva o Marxismo-Leninismo-Pensamento Mao Tsé-tung! Viva o nosso grande líder, Presidente Mao!”. 

No artigo, Ssu-Kuang defende que a ciência deve ser feita para e pelas amplas massas populares: os operários, camponeses e soldados, e critica o entendimento da ciência e tecnologia como coisa para as “citadelas científicas” ou para os “poucos gênios”, como defendido pelo “sarnento Liu Shao-chi e sua camarilha”. 

Ssu-Kuang critica a ciência burguesa por não estudar os fenômenos naturais de forma interrelacionada. “Por exemplo, diferentes fenômenos causados pelo mesmo movimento de contradições são muitas vezes separados uns dos outros e considerados como uma série de movimentos totalmente sem relação uns com os outros. A geologia tradicional divide arbitrariamente o mesmo movimento da crosta terrestre em movimentos de elevação e depressão, movimentos de movimento de torção e o movimento de clivagem. Essa é uma das manifestações da metafísica. Ela não usa a lei da unidade dos contrários como uma ideia orientadora e não analisa as contradições das coisas. Como resultado, ela se afunda na metafísica pluralista, em vez de aderir ao monismo do pensamento do marxismo-leninismo-Mao Tsé-tung.”

O geólogo vermelho morreu alguns meses depois da publicação do artigo, no dia 29 de abril de 1971, com 82 anos, após um longo tratamento médico. A morte foi noticiada pelo principal jornal do país, no qual Li Ssu-Kuang foi descrito como “um cientista extraordinário, leal ao Partido e ao Presidente Mao.”

A cerimônia fúnebre foi organizada no cemitério de Papaoshan, onde respeitáveis integrantes do PCCh, amigos de Ssu-Kuang, representantes das massas revolucionárias, da Academia de Ciências, do Birô de Geologia da Comissão de Planejamento do Estado e familiares se reuniram para prestar as últimas homenagens. 

 Leia também – Um arqueólogo quis provar que o Sul do Líbano era israelense: morto pelo Hezbollah, não encontrou evidências 

Abaixo, o artigo Aplicar o pensamento filosófico do Presidente Mao ao desenvolvimento da ciência e tecnologia na íntegra. 

Aplicar o pensamento filosófico do Presidente Mao ao desenvolvimento da ciência e tecnologia

Desde a fundação da República Popular da China, vinte e um anos passaram. Durante esses vinte e um anos, as amplas massas revolucionárias de nosso país, sob a sábia liderança de nosso grande líder, o Presidente Mao, e do Partido Comunista Chinês, lutaram e obtiveram resultados brilhantes em várias frentes. Após a Grande Revolução Cultural Proletária, o pensamento de Mao Tsé-tung foi popularizado em uma escala sem precedentes, a mentalidade do povo mudou completamente, e seu espírito de luta revolucionária aumentou a cada dia que passava. O rápido desenvolvimento da produção industrial e agrícola e da ciência e tecnologia, e o lançamento bem-sucedido do primeiro satélite terrestre feito pelo homem, marcam um novo patamar na ciência e tecnologia de nosso país. Nossa pátria se tornou ainda mais bela e a ditadura proletária nunca esteve tão forte.

Tudo isso representa uma grande vitória para a linha revolucionária proletária do Presidente Mao e uma grande vitória para o pensamento de Mao Tsé-tung. Quando se bebe água, é preciso pensar em sua fonte. Se não esquecermos a amargura do passado, teremos uma maior apreciação da felicidade do futuro. Com profundos sentimentos proletários, proclamemos calorosamente: “Vida longa ao grande marxismo-leninismo-pensamento de Mao Tsé-tung! Vida longa ao nosso grande líder, Presidente Mao”.

Por muitos anos, no campo da ciência e da tecnologia, a luta entre as duas classes, entre as duas estradas e entre as duas linhas sempre foi aguda. Isso se expressa especialmente nas seguintes questões: Colocamos consistentemente a política proletária ou a tecnologia no comando? Confiamos nas massas, nos apoiamos nas massas e realizamos movimentos de massa em grande escala, ou nos divorciamos das massas e da realidade e seguimos a linha dos especialistas? Promovemos o espírito revolucionário de “autossuficiência” e “trabalho árduo e vida simples” e seguimos nosso próprio caminho, ou temos fé cega nos estrangeiros e seguimos a mentalidade servil da prática estrangeira e a doutrina de rastejar em um ritmo de caracol? Inúmeros fatos mostram que quando trabalhamos de acordo com a linha revolucionária do Presidente Mao, armamos as massas com o pensamento de Mao Tsé-tung e desenvolvemos o espírito criativo das massas, temos uma força inesgotável e superamos qualquer tipo de dificuldade e escalamos qualquer pico na ciência e na tecnologia. Se não conseguirmos fazer isso ou não o fizermos suficientemente bem, obteremos resultados ruins ou até mesmo nos desviaremos do caminho.

A fim de restaurar o capitalismo e tornar a pesquisa científica “mística” e uma coisa de poucos “privilegiados”, o renegado, traidor oculto e escória Liu Shao-ch’i e seus agentes nos círculos científicos e tecnológicos criaram “cidadelas da ciência”, onde eles aprisionaram as grandes massas de pesquisadores científicos de modo que ficaram divorciados da política proletária, das massas operárias e camponesas e da prática da produção. Eles enterraram suas cabeças em documentos e em seu próprio trabalho, perseguiram a fama e a riqueza e viajaram cada vez mais longe na estrada decadente do feudalismo, do capitalismo e do revisionismo. Esse caminho das “Três Separações”, do tipo acadêmico, impediu gravemente o desenvolvimento da ciência.

A pesquisa do tipo acadêmica teve origem em alguns mosteiros na Europa Ocidental. Essa pesquisa era mística em si mesma; era controlada e usada por apenas alguns. Na fase inicial do desenvolvimento capitalista, por se adequar às necessidades da burguesia, esse trabalho de pesquisa científica de tipo acadêmico foi desenvolvido. Quando o capitalismo atingiu seu estágio monopolista, os grupos capitalistas monopolistas, por vários meios, estabelecem controle sobre as forças de pesquisa científica, que eles exigiam em faculdades e escolas, e usaram grandes quantias de fundos para estabelecer todos os tipos de institutos de pesquisa científica especializados para servir ao capitalismo monopolista. As instalações de pesquisa científica do social-imperialismo não são diferentes das dos países capitalistas. Eles desconsideram os interesses das amplas massas do povo e servem às classes dominantes reacionárias. Como uma superestrutura do capitalismo, eles são totalmente inadequados para a base econômica do socialismo.

Com base na economia socialista, então, como devemos fazer o trabalho de pesquisa científica? A linha de massa é a linha básica do nosso partido para realizar todos os tipos de trabalho. Podemos não seguir a linha de massa no trabalho científico? Claro que não. O conhecimento vem da prática social das pessoas. A experimentação científica, sendo um componente dos Três Grandes movimentos revolucionários, definitivamente não pode ser separada das massas. A quem o trabalho científico deve servir? Naturalmente, deve servir às amplas massas revolucionárias e aos trabalhadores, camponeses e soldados. As conquistas científicas devem certamente pertencer às amplas massas revolucionárias e não a apenas poucas pessoas. Quem deve cuidar do trabalho científico? Naturalmente, deve ser realizado principalmente pelas amplas massas revolucionárias, e os operários, camponeses e soldados, e não por alguns especialistas e autoridades. O que nos interessa não é a fama e a riqueza de alguns poucos, mas os interesses das amplas massas do povo revolucionário. Não queremos cultivar alguns gênios para enfeitar nossa fachada. O que queremos é concentrar a experiência prática e a sabedoria das amplas massas do povo para acelerar a revolução. “Os 600 milhões de pessoas na China são todos Shuns e Yaos”. Isso certamente pode ser alcançado e está sendo gradualmente alcançado em nossa grande pátria socialista. E é exatamente isso que manifesta mais claramente a superioridade de nosso sistema socialista. Por essa razão, no que diz respeito à pesquisa científica, devemos reverter os métodos usados por Liu Shao Shi e sua camarilha. Nós, as amplas massas de pesquisadores científicos, devemos descartar o caminho da “tese-pesquisa-tese”, o caminho que leva à separação das massas, e descartar a perspectiva do mundo capitalista de trabalhar pela fama pessoal e lucro. Devemos seguir o caminho da integração com os trabalhadores, camponeses e soldados, e estabelecer uma relação de confiança com as massas, camponeses e soldados, e estabelecer a perspectiva mundial proletária de trabalhar de acordo com o princípio do materialismo dialético, ou seja, prática-conhecimento-prática.

Para resolver a questão de servir aos trabalhadores, camponeses e soldados e adotar a linha de massa, os trabalhadores científicos também devem ter maneiras corretas de pensar. Ou seja, será que o trabalho de pesquisa científica deve ser guiado pelo idealismo e pela metafísica ou pelo materialismo dialético? Deve-se fazer uma escolha entre as duas. A experiência substancial adquirida com a prática científica prova que, enquanto aqueles que fazem a primeira escolha entram em um beco sem saída, as pessoas que fazem a segunda escolha seguem um caminho brilhante. No campo da ciência natural, sempre existe uma luta entre o materialismo dialético de um lado, e o idealismo e a metafísica, de outro. Quaisquer que sejam os desejos subjetivos dos trabalhadores científicos, uma vez que eles iniciem o trabalho de pesquisa científica, certamente serão influenciados, quer saibam disso ou não, por esse ou aquele tipo de pensamento filosófico. Eles são guiados pelo pensamento materialista e dialético ou pelo pensamento idealista e metafísico. Se se afastarem do caminho do materialismo dialético, eles certamente embarcariam no caminho do idealismo ou do materialismo mecânico. Dessa forma, nenhuma ciência poderia ser desenvolvida e não haveria ciência.

O Comunicado da Segunda Sessão Plenária do Comitê Central do Nono Comitê Central do Partido aponta que: “Todo o Partido deve estudar conscientemente as obras filosóficas do Presidente Mao, promover o materialismo-dialético e o materialismo histórico e se opor ao idealismo e à metafísica”. Nós, trabalhadores científicos, devemos usar o pensamento de Mao Tsé-tung como uma arma poderosa para realizar, em um plano filosófico, uma crítica massiva e fortalecida contra os pontos de vista reacionários na teoria da ciência natural e eliminar o pensamento idealista e metafísico na pesquisa científica.

O pensamento filosófico dialético-materialista não se desenvolve naturalmente. Os trabalhadores científicos devem estudar assiduamente o marxismo-leninismo pensamento-mao-tsé-tung, particularmente as obras filosóficas de nosso grande mestre, o Presidente Mao – combinando-as com sua própria experiência prática antes de poderem gradualmente aplicar bem esse pensamento. Se eles não forem bons em aplicá-lo, é porque não o estudaram de fato. O Presidente Mao nos ensina: “Devemos ser capazes de dominar e aplicar a teoria marxista, e dominá-la é aplicá-la“ (”Retificando o estilo de trabalho do partido”). Durante muito tempo, a visão metafísica do mundo tem tido um amplo mercado na área de ciências naturais. Uma das razões para isso é que os trabalhadores científicos não foram capazes de aplicar conscientemente a dialética materialista a uma análise e crítica das teorias errôneas da ciência natural, não conseguiram entender, em um plano filosófico, as polêmicas entre as várias escolas de estudos e foram incapazes de apresentar provas filosóficas para os pontos de vista novos e corretos. Lênin disse: “Qualquer ciência natural e qualquer materialismo, se desprovidos de uma base filosófica adequada e confiável, não podem persistir na luta contra o ataque das ideias burguesas e a restauração da visão de mundo burguesa” (Collected Works of Lenin, Edição chinesa, Vol. 33, p. 204). Nós, trabalhadores científicos, devemos nos esforçar para fazer um estudo vivo e uma aplicação viva do pensamento filosófico do Presidente Mao, lutar contra o idealismo e a metafísica nas ciências naturais, e resolver os problemas surgindo do desenvolvimento de várias ramificações na ciência. Esse ponto se tornou ainda mais claro e mais importante hoje.

Por exemplo, na esfera da geologia, o ponto de vista metafísico está profundamente arraigado. Ele separa mecanicamente fenômenos geológicos inerentemente interrelacionados e os estuda isoladamente uns dos outros. Ele considera os fenômenos geológicos que estão em movimento, especialmente os fenômenos estruturais, como estáticos e congelados. Ele se contenta com descrições de vários fenômenos geológicos sem revelar a essência desses fenômenos ou descobrir as leis de suas relações mútuas. Em outras palavras, não analisa as contradições inerentes às próprias coisas. Ela substitui a teoria cíclica pela teoria do desenvolvimento da dialética, e assim por diante. Até hoje, esses pontos de vista errôneos ainda não foram  criticados como deveriam, impedindo seriamente o desenvolvimento da geologia, dificultando a solução de alguns problemas importantes e impedindo que a geologia sirva melhor à revolução socialista e à construção socialista.

O Presidente Mao nos ensina: “O método analítico é o método dialético. Análise significa análise das contradições das coisas“ (”Discurso na Conferência Nacional de Trabalho de Propaganda do Partido Comunista Chinês”). Até hoje, no entanto, a geologia tradicional ainda considera os fenômenos puramente como fenômenos. Sua teoria não é construída com base na ideia norteadora – a lei da unidade dos contrários – e, portanto, é fragmentada. Uma parte é tratada, mas outra parte é negligenciada, e não há conexão interna. Por exemplo, diferentes fenômenos causados pelo mesmo movimento de contradições são frequentemente separados uns dos outros e considerados como uma série de movimentos totalmente sem relação uns com os outros. Por exemplo, a geologia tradicional divide arbitrariamente o mesmo movimento da crosta terrestre em movimentos de elevação e depressão, movimentos de torção e o movimento de clivagem. Essa é uma das manifestações da metafísica. Ela não usa a lei da unidade dos contrários como uma ideia norteadora e não analisa as contradições das coisas. Como resultado, se afunda em pluralismo metafísico, em vez de aderir ao monismo¹ do marxismo-leninismo pensamento-mao-tsé-tung

A geologia tradicional, vinculada à visão metafísica do mundo, entrou em um beco sem saída. Em muitos problemas importantes, ela não consegue explicar seus próprios pontos de vista, que estão cheios de lacunas. Aqueles que se apegam ao ponto de vista tradicional também se sentem assim, mas não conseguem se libertar dos grilhões da metafísica e tentam produzir alguns termos para compensar os vazamentos como “super-vale”, “vale elevado” e “sub vale” como “super-canal”, “canal elevado” e “sub-canal”, e “esta plataforma” e “aquela plataforma”. Nos últimos anos, algumas pessoas também propuseram a teoria da “ativação” da plataforma, tratando uma área como uma ‘plataforma’ estável. Isso não passa de uma hipótese subjetiva e idealista; basicamente, a questão da ativação não se coloca. Outros propõem a recorrência múltipla de movimentos estruturais e a recorrência múltipla da mineralização. Esse ponto de vista é essencialmente a teoria cíclica da metafísica. As coisas se desenvolvem de maneira ondulatória, do nível mais baixo para o mais alto. A tendência geral é irresistível. Na natureza, não existe recorrência absoluta da forma original.

A distribuição dos recursos minerais é regida por condições geológicas. Por esse motivo, o conhecimento correto da estrutura da crosta e das leis que regem o movimento da crosta é um fator crucial na busca por minerais. Nessa questão, entretanto, os pesquisadores geológicos estão muito divididos em suas opiniões. Muitos conceitos que prevalecem nos países capitalistas e revisionistas evoluíram a partir do pequeno mundo fragmentado da Europa Ocidental e do Norte. Trabalhadores geológicos nos países capitalistas e revisionistas geralmente consideram os fenômenos especiais em suas localidades como critérios gerais para medir as leis estruturais em outras áreas. Esse é obviamente um ponto de vista metafísico que não se sustenta.

Em nosso país, alguns trabalhadores geológicos, há muito tempo presos a esses conceitos que são incompatíveis com nossas condições reais, tomaram alguns desvios e enfrentaram alguns contratempos. Em consequência, houve desperdício de mão de obra e recursos materiais. O minério de tungstênio da província de Kiangsi é mundialmente famoso.

Alguns trabalhadores geológicos tentaram os métodos importados chamados de “falhas profundas e grandes” e “contagem de grandes veios”, considerando as torções ascendentes ou descendentes da crosta como fenômenos isolados. Usando esses pontos de vista para orientar sua busca por minerais, eles não conseguiram encontrar nenhum vestígio de minérios. Mesmo no caso do minério de tungstênio, eles pensaram que as “minas estavam esgotadas” e que “não era mais útil continuar a busca”. Por isso, usaram a “abordagem de linha externa” e, no final, acabaram executando projetos às cegas em todos os lugares. Como resultado, eles se conformaram com a falta de esperança de seus esforços. Veja! Uma área extremamente rica em recursos minerais foi rebaixada como “inútil”. No entanto, os trabalhadores geológicos revolucionários das equipes geológicas nº 909 e nº 908, aplicando o pensamento filosófico do Presidente Mao em sua busca por minerais, mobilizaram as massas e romperam a escravidão da metafísica. Partindo das condições reais da China, eles resumiram seriamente suas próprias experiências práticas. Agora é precisamente nessa região que eles descobriram uma grande mina de sal, além de muitos leitos minerais. Além disso, eles determinaram o padrão que rege a distribuição dos depósitos minerais. Mais minérios e depósitos maiores foram descobertos à medida que a busca continua. Camadas minerais que cobrem metais raros, metais ferrosos, combustíveis e metais não ferrosos foram encontradas.

Suas experiências – especialmente as da equipe geológica nº 909 – ilustram amplamente que, se for influenciado pelo ponto de vista metafísico, o trabalho de pesquisa científica será retardado, e que somente usando o pensamento filosófico do Presidente Mao como guia podemos desenvolver empreendimentos científicos e tecnológicos com resultados maiores, mais rápidos e melhores a custos mais baixos.

O grande líder, Presidente Mao, nos ensina: “Sem destruição não haverá construção. Destruição significa crítica e revolução. Destruição significa explicar as coisas, e explicar as coisas é construção. A construção está implícita no processo de destruição”. A destruição e a construção são uma unidade de opostos. Sem criticar as coisas antigas velhas e errôneas, será impossível construir coisas novas e corretas. Os “Dezesseis Artigos”, formulados sob direção pessoal do Presidente Mao, há muito tempo salientaram que a crítica deve ser realizada contra os pontos de vista reacionários na teoria da ciência natural. Agora é o momento de fazer uma crítica mais profunda a essas teses metafísicas reacionárias. Devemos construir e desenvolver nossas próprias teorias de acordo com nossa própria experiência prática no curso da crítica revolucionária de massa.

Atualmente, está ocorrendo um novo surto de revolução socialista e construção socialista. As atividades de experimentação científica popular estão sendo desenvolvidas com vigor. Guiados pela grande política estratégica de nosso grande líder, o Presidente Mao, de “estar preparado para a guerra, estar preparado para desastres naturais e fazer tudo pelo povo” e “tomar a iniciativa e confiar em nossos próprios esforços”, precisamos encontrar as matérias-primas e os combustíveis necessários para o desenvolvimento da produção industrial e agrícola, especialmente a produção industrial nas vastas áreas do nosso país, que mede 9,6 milhões de quilômetros quadrados. Há uma necessidade especial de buscar esses minérios essenciais em áreas com importância estratégica para atender às necessidades da construção socialista e da construção para a defesa nacional. Os trabalhadores científicos revolucionários devem ir até as grandes massas de trabalhadores, camponeses e soldados, e mergulhar na prática das Três Grandes Lutas Revolucionárias. Lá eles terão excelentes oportunidades de estabelecer contato com as massas e com a realidade. Lá eles podem não somente aceitar a reeducação dos trabalhadores, camponeses e soldados e transformar sua visão de mundo, mas também resumir as experiências práticas revolucionárias das amplas massas. As teorias também são desenvolvidas lá. É somente lá que podemos verificar a exatidão de nossas teorias, aumentar nossa compreensão e aprofundar nosso conhecimento. Somente quando nos unirmos em torno do Comitê Central do Partido, liderado pelo Presidente Mao e seu vice, o vice-presidente Lin, continuarmos a aprofundar o movimento de massa para o estudo vivo e a aplicação viva do pensamento de Mao Tsé-tung, coordenando-o estreitamente com a prática dos três grandes movimentos revolucionários – a luta de classes, a luta pela produção e o experimento científico –, usarmos o pensamento marxista-leninista-mao-tsé-tung para transformar conscientemente nossa visão de mundo, estudar seriamente as obras filosóficas do Presidente Mao, promover o materialismo dialético e o materialismo histórico e nos opormos ao idealismo e à metafísica, poderemos alcançar um sucesso maior, desenvolver a ciência e a cultura socialistas mais rapidamente e fazer uma contribuição maior para a humanidade.

(*) Enrico Di Gregorio é arqueólogo e jornalista de ciência e política. Tem textos publicados no jornal A Nova Democracia, na revista Pesquisa Fapesp e nos portais Palestine Chronicle e Monitor do Oriente Médio. Ele contribuiu com esse e outro artigo para a Revista Opera.

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