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A eleição brasileira e seus reflexos internacionais

O Brasil é um palco central da disputa, parte por sua importância geopolítica inerente, parte pela aposta de Trump em uma candidatura específica do país.
por Pedro Marin | Revista Opera

“A vontade guia o geopolítico, que timbra em fazer de seu país o umbigo do mundo”, escreveu Oliveiros Ferreira. Padeci deste mal por algum tempo nas últimas semanas, para enfim me libertar: o Brasil não é o umbigo do mundo, não importa nossa vontade; os Estados Unidos o são, infelizmente.

A eleição de Donald Trump, em 2016, significou uma derrota para diversos frações da elite norte-americana e internacional, que, por necessidades intrínsecas à sua classe, tinham uma concepção de política externa completamente distinta da do atual ocupante da Casa Branca. Os setores diretamente ligados ao capital financeiro e especulativo, naquelas eleições, tinham sua representante na figura de Hillary Clinton, e apostavam na “Desordem Mundial”, como colocou o falecido Moniz Bandeira, com o patrocínio de revoluções coloridas e mudanças de regime mundo afora. Assim recheavam seus bolsos: sanguessugas da anarquia, vampiros da balbúrdia, especuladores do caos. Mantinham, além disso, uma política de confrontação com a Rússia.

Donald Trump, por outro lado, entendia que o impalpável dos mercados financeiros deveria ser contido – e emergiu como representante das frações mais ligadas à produção industrial, tecnológica, bélica e comercial. Sua estratégia na política externa naturalmente, diferente da representada pela Democrata, significa um retorno à política do big-stick, do “grande porrete em mãos”; privilegia-se a composição concreta de forças estatais e a intervenção direta em detrimento da semeadura da discórdia global, com o objetivo não de especular livremente, mas de, em última instância, conquistar mercados e aliados estratégicos. Como fenômeno, há uma reafirmação do estado-nação. O alvo prioritário passa a ser a competidora China.

No Brasil, esta última concepção encontrara um importante aliado: Jair Bolsonaro. Como disse ao participar do podcast “Zona Autônoma Literária” recentemente, e como André Ortega tem reiterado com ênfase, se há uma guerra híbrida levada a cabo pela campanha de Bolsonaro, e se há indícios da participação de Steve Bannon na campanha, é indicativo de que há um alinhamento do capitão reformado com a política externa norte-americana, contra o Brasil. Ocorre que nos EUA, como em toda Nação, há também cisões: e elas são, desde que Trump ascendeu à Presidência, cada vez maiores. A 12 dias das eleições legislativas, pelas quais os Democratas sonham reconquistar maioria na Câmara dos Deputados e do Senado, até explosivos têm sido recebidos por figuras ligadas ao Partido Democrata. 

O Brasil é um palco central dessa disputa, parte por sua importância geopolítica inerente para a região e a nível global (sua magnitude e suas relações com a China são demonstrativos óbvios), parte pela aposta da administração Trump em uma candidatura específica do país. A derrota de Jair Bolsonaro não é somente uma tarefa dos defensores da democracia no Brasil; é objetivo compartilhado, também, por forças externas.

Trump está fazendo uma aposta contra o Partido Democrata e contra burocratas globalistas que estão representados dentro do serviços do Estado que ele preside. Bolsonaro será um instrumento de reafirmação do unilateralismo trumpista na arena internacional.

Isso explica o alinhamento midiático internacional contra Jair Bolsonaro – os mesmos defensores internacionais da democracia no Brasil são os apologetas da monarquia Saudita, por exemplo, ou do Estado de Israel; não combatem Bolsonaro porque representa o fascismo, mas por interesses próprios – e também certos movimentos midiáticos no Brasil – uns mais abertos, outros um tanto tímidos, feitos como cálculos.

A grande variável, como não poderia deixar de ser, são os militares. A maior parte da cúpula, como temos reiterado, é aliada de Bolsonaro – “aliada” não por solidariedade ideológica, mas por ver nele agora uma peça útil a certos interesses. Bolsonaro pode querer extrapolar essa aliança apelando para sua base de apoiadores na população.

Indicativo de que esperam regalos da fração trumpista do império; dentre elas a possibilidade de serem, afinal, força de combate voltada ao Exterior. Há um certo cálculo estratégico em desejar ocupar a posição de capanga privilegiado do império. Creio que há algum espaço de manobra entre eles para o caso de Trump – quero dizer, Bolsonaro – não triunfar, mas a possibilidade de imporem sua vontade neste caso segue sendo muito alta.

Seguimos colônia.

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