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Fidel, 90 anos de rebeldia

Como a pomba branca é para a paz, ou o vermelho para a paixão, o velho barbudo de uniforme verde-oliva será sempre para a rebeldia.
por Pedro Marin | Revista Opera – (Foto: Warren K. Leffler)
(Foto: Warren K. Leffler)

Matutei por algum tempo sobre o que escrever nesse aniversário de 90 anos de Fidel Castro, motivo pelo qual só publico este artigo hoje. A razão é simples: Fidel, para mim, não é só mais uma das figuras-chave do movimento de libertação dos povos, mas referência máxima da rebeldia.

O primeiro livro que li sobre política foi “Fidel e a Religião”; um compilado de conversas entre Frei Betto e o líder cubano sobre o tema da religião, da guerra revolucionária e da construção do socialismo no país. Peguei-o emprestado na biblioteca de uma escola lassalista – ironicamente, Fidel também frequentou uma escola de mesmo tipo – e foi a primeira vez que compreendi o poder criador de um povo que assalta o presente e constrói o futuro de acordo com suas necessidades.

Há três anedotas que representam Fidel perfeitamente. A primeira é a de um músico cubano vivendo em algum país da Europa. Toca em uma praça, recebe alguns trocados, até que um casal se aproxima e, durante o intervalo do música, começam a conversar.

Perguntam de Cuba, no que o cubano dispara contra as dificuldades, o governo, as limitações. Reclama que alguns documentos que necessita e que não foram liberados. Continuam a conversar, até que se despedem.

Algum tempo depois, o rapaz – desta vez sozinho – volta a encontrar o cubano e, sem prudência, profere: “E o Castro, aquele filho da puta, já liberou os documentos?”

Contam que por pouco o cubano – que havia treinado boxe por algum tempo – não hospitalizou o coitado.

Há também a clássica, do repórter que pede a algum cubano qualquer que mande uma mensagem para seu país de origem. O cubano trata de discursar longamente, como é de praxe dos fidelistas, e pergunta: “Por que vocês não se rebelam contra o governo?”

E, por fim, há uma outra, descrita por García Márquez em uma de suas reportagens, em que um camponês cubano, já na faixa dos 60 anos de idade, é alfabetizado depois da revolução, e passa o resto da vida lendo e amaldiçoando diariamente o imperialismo porque nunca poderia ler tanto o quanto desejava, tendo sido alfabetizado tão tardiamente.

As anedotas representam Fidel perfeitamente, e expõem a importância de sua figura; ele já é patrimônio de Cuba e ficará na memória ao lado de Martí e tantos outros. Mesmo os que não o amam não o desprezam.

A revolução cubana não se tratou de uma quartelada de cúpulas, mas de um verdadeiro movimento de massas que reverbera, até hoje, em toda a sociedade cubana. Ultrapassa a fronteira material, de forma que se amanhã o socialismo ruir naquele país, depois de amanhã será reconstruído, a exemplo de Fidel.

Como a pomba branca é para a paz, ou o vermelho para a paixão, o velho barbudo de uniforme verde-oliva será sempre para a rebeldia. Que venham os 100 anos!

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