O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou na última quinta-feira (29) a aplicação de novas sanções contra a Rússia, em resposta à suposta participação do país nos chamados ciberataques ao Comitê Nacional Democrata durante as eleições norte-americanas.
Além das sanções contra oficiais russos, a medida incluiu também a expulsão de 35 diplomatas do país, acusados de “espionagem”, e o fechamento de duas instalações russas nos EUA.
A medida foi anunciada pouco após as declarações por mais sanções contra a Rússia por parte de um grupo bipartidário de senadores norte-americanos que fazem nesta semana uma visita à Ucrânia, Georgia, Montenegro, Letônia e Estônia, com o objetivo de reiterar que os países terão o apoio militar dos EUA.
“Nós temos de sancionar a Rússia por esses ciberataques [e] enviar uma mensagem clara à administração que virá de que há bastante apoio bipartidário no Congresso para perseguir isso”, disse a democrata Amy Klobuchar, por telefone, da Letônia, à AFP.
Além de Klobuchar, o grupo é formado pelos republicanos John McCain e Lindsey Graham, que no mês passado lideravam uma iniciativa no Congresso para impedir uma aproximação entre Rússia e EUA, após a vitória de Trump.
Graham havia “previsto” (o senador literalmente usou essa palavra) a aplicação de novas sanções um dia antes do anúncio de Obama – o que para qualquer pessoa consequente revela a formação de um conchavo entre Obama e os republicanos, numa espécie de motim impreterível para que o destino da Casa Branca – e consequentemente do globo – pelos próximos quatro anos seja selado até o final do próximo mês.
Impressiona o fato das sanções terem sido aplicadas antes da conclusão da investigação final do FBI sobre o caso, que Obama havia ordenado fosse terminada antes do dia 20 de janeiro, quando deixa a Casa Branca.
Por sorte, o Presidente russo Vladimir Putin tem resistido às incontáveis provocações de Washington com lenidade, e não com bombardeiros Su-24 ou submarinos nucleares – caso contrário, as guerras e tensões sentidas nas frias estepes do Leste Europeu e nos planaltos do Oriente Médio afetariam também, sem dúvidas, o Hemisfério Sul. Também nesta ofensa Putin respondeu de maneira perspicaz, ao declarar que o país reserva-se o direito de retaliar, mas que não iria tomar medidas no mesmo nível, aguardando a administração Trump para definir os próximos passos. Chegou inclusive a convidar as famílias dos diplomatas americanos em seu país a participar das festividades no Kremlin.
O objetivo prioritário dos amotinados é impedir que um conflito direto com a Rússia seja protelado. Isso incluiria, naturalmente, um avanço (mesmo que não ideal) no conflito sírio, e possivelmente uma solução temporária para o conflito ucraniano (é sabido, afinal, que os Acordos de Minsk falharam porque foram repetidamente violados por Kiev, com a complacência de Washington).
Para isso, contam com ferramentas importantes. Ao acusar os russos pelos ciberataques, como escrevi há algumas semanas, nos distraem do que efetivamente importa: o conteúdo revelado. Não me prolongarei sobre isso (para uma descrição mais detalhada, confiram o artigo), mas os emails vazados essencialmente revelaram o uso de práticas sujas por parte da campanha de Hillary Clinton.
Ao aplicar as sanções, por sua vez, tentavam uma resposta forte do presidente russo – motivo pelo qual a declaração de Putin foi tão acertada.
Ironicamente, nos EUA, o player mais responsável tem sido Trump, tão apedrejado nas páginas dos jornais como um insano – (talvez porque, para o monopólio da imprensa, equilíbrio consista em provocar uma potência nuclear, expulsando seus diplomatas, em meio a duas guerras sanguinolentas, na Síria e Ucrânia).
Na quarta-feira, quando perguntado sobre o escândalo dos hackers russos, Trump disse que “ninguém sabe o que está acontecendo” e que “nós temos de seguir com nossas vidas”. Resta saber quanto tempo ele resistirá à pressão do Partido da Guerra, que agora oficialmente conta, até 20 de janeiro, com um presidente amotinado.