Massivas celebrações foram realizadas na China no 1º de julho para marcar o centenário da fundação do Partido Comunista da China (PCC). O pequeno grupo de líderes visionários que se reuniu em 1921 para formar o PCC logo testemunhou sua organização crescer e se tornar a força dirigente da luta revolucionária do povo chinês para se livrar da opressão e do domínio imperialista. Os grandes meios de comunicação anti-China nos Estados Unidos e em outros países ocidentais têm usado essa ocasião para atacar o Partido Comunista e a Revolução Chinesa. Mas, em todo o mundo, muitos estão tomando esse momento para refletir sobre as conquistas históricas do partido.
Resistência ao “Século da Humilhação”
Por mil anos, a China foi o lugar mais populoso, mais rico e mais sofisticado tecnologicamente da Terra. Comerciantes e aventureiros do resto da Ásia, da Europa e da África, e mais tarde das Américas, foram para a China em busca de fortuna nos produtos das fazendas e oficinas chinesas – de seda, algodão e chá a cerâmica, metalurgia e papel. Viajantes como Ibn Battuta e Marco Polo trouxeram notícias do poder e da prosperidade da China aos leitores do Ocidente e do mundo islâmico, alimentando ainda mais o desejo pela riqueza da Ásia. No século 16, os europeus começaram a ir para a China em um fluxo constante, não como conquistadores ou colonizadores, mas como participantes em busca de lucro em um sistema econômico global com a China como seu principal motor.
No início do século 19, as relações de longa data entre a Europa e a China começaram a mudar rapidamente. A Revolução Industrial deu aos britânicos e posteriormente a outras potências ocidentais a capacidade de produzir bens manufaturados em grande volume a preços baixos e a capacidade militar de impor seu domínio a outros povos do planeta. O capitalismo europeu reconfigurou as relações globais em uma divisão do trabalho dentro da qual as colônias forneciam matéria-prima e serviam como escoadouro para produtos industriais feitos nas fábricas da Inglaterra, Alemanha, França ou Estados Unidos.
A China tornou-se o principal alvo do impulso imperialista para dominar e explorar a mão-de-obra e os recursos do mundo. Primeiro, por meio do massivo comércio de ópio no início do século 19, depois, por meio da Guerra do Ópio de 1839-42, a Grã-Bretanha subordinou a China à sua busca capitalista por lucros. Isso deu início ao que na China é conhecido como o Século da Humilhação. No decorrer desse período, a economia doméstica da China foi destruída e seu povo foi submetido à opressão racista das forças combinadas das potências imperialistas.
O antigo sistema dinástico mostrou-se totalmente incapaz de defender o país e, em 1912, o último imperador abdicou. Mas os esforços para criar uma república democrática burguesa fracassaram e o país caiu na anarquia dos domínios de senhores da guerra. Enquanto isso, o país enfrentava novas ameaças do Japão, uma potência imperialista em ascensão que seguia os passos de seus mentores ocidentais.
Muitos chineses começaram a buscar maneiras de transformar e modernizar seu país. O Movimento da Nova Cultura rejeitou muitos aspectos da cultura política tradicional da China e buscou levar alfabetização e educação para as massas. A Revolução Bolchevique em 1917 inspirou ativistas chineses, e muitos começaram a estudar os escritos de Marx e Engels, junto com Lênin. Grupos de leitura surgiram em todo o país e iniciaram um processo de coordenação e cooperação na esperança de encontrar um caminho para a transformação revolucionária da China.
Em 1919, as potências vitoriosas na Primeira Guerra Mundial traíram a China na Conferência de Paz de Versalhes. Eles entregaram a antiga concessão alemã em Qingdao ao Japão, em vez de devolvê-la à soberania chinesa. Manifestações eclodiram em Pequim em 4 de maio, que se transformaram em um protesto nacional e uma campanha de boicote a produtos japoneses. O Movimento de 4 de maio foi um ponto de inflexão quando a falência da democracia capitalista ocidental foi exposta.
O nascimento do movimento comunista na China
Assim, no início da década de 1920, estava montado o cenário para o lançamento de um grande movimento revolucionário na China. Inspirando-se na Revolução Bolchevique e utilizando as ferramentas teóricas do marxismo, os militantes chineses buscaram criar uma organização política que pudesse liderar a luta anti-imperialista e traçar um caminho para uma nova ordem econômica e social para o povo. Os bolcheviques, travando uma guerra civil na Rússia pela sobrevivência de sua própria revolução, enviaram ajuda aos chineses por meio da recém-criada Internacional Comunista, também conhecida como Terceira Internacional ou Comintern. Conselheiros da Internacional trabalharam com grupos de leitura e outros ativistas com o objetivo de estabelecer um Partido Comunista na e para a revolução chinesa.
Este objetivo foi alcançado há 100 anos, quando foi tomada a decisão de realizar o primeiro Congresso do Partido Comunista da China. Embora o Congresso tenha sido aberto em 23 de julho, 1º de julho passou a ser celebrado como o aniversário da fundação do partido, data em que ocorreu a convocação às unidades locais para enviarem delegados para comparecer à reunião inaugural.
Apenas 12 membros estiveram presentes nestas sessões iniciais, realizadas em duas fases. A primeiro foi em um tranquilo quarteirão residencial em Xangai – hoje o Museu do Primeiro Congresso do PCC. Após vários dias de reuniões, o grupo mudou-se para uma casa-barco em um lago perto de Hangzhou, ao sul de Xangai, por motivos de segurança. Os 12 delegados representavam um total de apenas 55 membros, mas esse número cresceu dramaticamente nos meses e anos após a fundação do partido.
A história da China ao longo do século, desde a fundação do PCC, foi amplamente moldada pela luta revolucionária que o partido liderou. Não foi um processo simples ou direto, e houve reviravoltas ao longo do caminho, à medida que o curso das questões políticas navegava pelos desafios e oportunidades da época. O Partido teve que lidar com os sucessos e os fracassos da teoria e da prática.
O esforço inicial por uma aliança com o Partido Nacionalista burguês foi traído pelo líder nacionalista Chiang Kai-shek em 1927. O PCC lutou com as dificuldades de adaptar seus objetivos revolucionários à realidade das circunstâncias chinesas. Mas, no início dos anos 1930, foi desenvolvida uma estratégia de contar com as massas de trabalhadores rurais, os camponeses pobres e trabalhadores diaristas, que Mao Zedong veio a chamar de proletariado agrícola. Eles seriam a principal força da revolução, trabalhando em aliança com a pequena classe trabalhadora industrial urbana.
O PCC e o Exército Vermelho estabeleceram bases revolucionárias em diferentes e remotas partes do país, onde poderiam trabalhar para desenvolver políticas de reforma agrária, desenvolvimento econômico e política social em preparação para sua vitória final. Eles lutaram constantemente contra as campanhas de extermínio dirigidas a eles pelo governo do Partido Nacionalista, e tiveram que abandonar a área de Jiangxi, no sul, em 1934, para empreender a Longa Marcha. A Longa Marcha foi uma jornada épica que levou a liderança do Partido à sua nova sede em Yan’an, na província de Shaanxi, ao norte. Ela tornou-se o centro da revolução até 1945.
A Guerra de Resistência contra a agressão japonesa foi outro período de aliança tática com os nacionalistas, mas, quando o Japão se rendeu em agosto de 1945, a luta revolucionária recomeçou. Durante a Guerra Civil de 1945 a 1949, os nacionalistas corruptos e disfuncionais sob Chiang Kai-shek foram derrotados e fugiram para a ilha de Taiwan. A República Popular foi proclamada em Pequim em 1º de outubro de 1949.
A construção de uma sociedade socialista
Desde a vitória da revolução, o Partido Comunista tem sido a força motriz do desenvolvimento da República Popular. Ele liderou a campanha de Reforma Agrária que destruiu o poder remanescente da velha classe de proprietários rurais no campo e criou as bases para iniciar a construção de uma economia industrial moderna. Ele trouxe a Lei do Casamento de 1950, que aboliu os casamentos arranjados e se tornou a base para uma sociedade de igualdade de gênero. O partido supervisionou os processos de desenvolvimento econômico nas décadas seguintes. Durante este tempo, houve sérias divisões sobre políticas e procedimentos, e intensos confrontos sobre a melhor forma de perseguir o desenvolvimento socialista.
Houve uma grande reorientação na política com a transição da liderança de Mao Zedong após sua morte em 1976 e a ascensão de Deng Xiaoping como força orientadora de 1979 até sua morte em 1997. O partido empreendeu as políticas de reforma e abertura com o objetivo de acelerar a taxa de crescimento e elevar os padrões materiais de vida para as massas. Essas permaneceram as ideias norteadoras até o momento presente.
A história do Partido Comunista da China é uma história de luta revolucionária, de vitórias e derrotas, de sucessos e fracassos, de escolhas corretas e de erros de julgamento. É um processo de transformação econômica e social que ainda está em andamento. O resultado final e a eficácia do curso escolhido pela liderança do partido ainda estão por ser vistos. Mas o trabalho de construir uma vida melhor para os povos da China tem sido a missão do partido desde o seu início.
Houve grandes conquistas: a expectativa de vida aumentou drasticamente; a mortalidade infantil foi drasticamente reduzida. Existe uma oportunidade literária e educacional universal. A saúde é vista como um direito humano, não só uma mercadoria geradora de lucros. Centenas de milhões de pessoas foram tiradas da pobreza.
Ainda há muito trabalho a ser feito e muitos desafios precisam ser enfrentados. Mas o centenário da fundação do PCC é um momento de reflexão e, de fato, de celebração. As conquistas históricas do Partido Comunista são um testemunho da possibilidade de transformação revolucionária do mundo.