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Vijay Prashad: os Estados Unidos reúnem o esquadrão contra a China

Incapazes de criar a provocação necessária à China por meio de Taiwan, os Estados Unidos agora mudam sua mira para as Filipinas
Vijay Prashad
Forças filipinas e norte-americanas tomam parte no exércicio Balikatan em 2019. Na edição de 2024, Austrália e Japão também participaram, formando o “Squad”. (Foto: John Etheridge / U.S Army)

No começo de abril de 2024, as marinhas de quatro países – Austrália, Japão, Filipinas e Estados Unidos – realizaram um exercício marítimo no Mar do Sul da China. Os navios Warramunga, da Austrália, Akebono, do Japão, Antonio Luna, das Filipinas e Mobile, dos Estados Unidos, trabalharam juntos naquelas águas para fortalecer suas habilidades conjuntas e, como disseram em uma declaração conjunta, “defender o direito à liberdade de navegação e sobrevoo e o respeito aos direitos marítimos de acordo com o direito internacional”. Algumas semanas depois, entre 22 de abril e 8 de maio, navios das Filipinas e dos Estados Unidos operaram ao lado de tropas navais australianas e francesas no Exercício Balikatan 2024.

Para o exercício Balikatan (“ombro a ombro” em tagalo), mais de 16 mil soldados foram mobilizados em uma área do Mar do Sul da China que está fora das águas territoriais das Filipinas. Juntamente com as marinhas dessas nações, a Guarda Costeira das Filipinas também tomou parte do Exercício Balikatan. Isso é significativo porque são os barcos da Guarda Costeira que mais frequentemente encontram navios chineses nessas águas internacionais, parte das quais são disputadas entre a China e as Filipinas. Embora os documentos oficiais desses exercícios não mencionem a China pelo nome, eles certamente são projetados como parte da crescente atividade militar conduzida pelos Estados Unidos ao longo da fronteira marítima da China. 

Durante o exercício Balikatan, as embarcações das marinhas das Filipinas e dos Estados Unidos atacaram e afundaram conjuntamente o BRP Lake Caliraya, desativado, da Marinha das Filipinas. O navio – que foi fabricado na China – foi doado à Marinha pela companhia petrolífera Philippine National Oil Company em 2014. O fato de ser o único navio da Marinha das Filipinas fabricado na China não passou despercebido em Pequim. Mas o coronel Francel Margareth Padilla-Taborlupa, porta-voz das Forças Armadas das Filipinas, disse que isso era “pura coincidência”.

Durante o Balikatan, os ministros da Defesa das quatro nações se reuniram em Honolulu, no Havaí, para discutir as implicações políticas desses exercícios militares na costa da China. Richard Marles, da Austrália, Kihara Minoru, do Japão, Gilberto Teodoro, das Filipinas, e Lloyd Austin, dos Estados Unidos, se reuniram pela segunda vez para discutir sua colaboração na região que eles chamam de Indo-Pacífico. Foi no final dessa reunião que as equipes de relações públicas desses ministros começaram a usar o termo “Squad” (esquadrão) para se referir aos quatro países. Embora eles não tenham anunciado formalmente a criação de um novo bloco no Leste Asiático, esse novo apelido pretende ser um anúncio de fato de sua existência.

Do Quad para o Squad

Em 2007, os líderes da Austrália, Índia, Japão e Estados Unidos se reuniram em Manila (Filipinas) para estabelecer o Diálogo de Segurança Quadrilateral (ou Quad) enquanto suas Forças Armadas realizavam o Exercício Malabar no Mar das Filipinas. Inicialmente, o Quad não incluía as Filipinas, cuja presidente na época, Gloria Arroyo, estava tentando melhorar as relações entre seu país e a China. O Quad não se desenvolveu porque o primeiro-ministro da Austrália, Kevin Rudd, estava insatisfeito com a crescente beligerância de Washington em relação a Pequim. Mas ele ressurgiu em 2017, mais uma vez em Manila, com uma agenda mais direta para trabalhar contra as ambições do Cinturão e Rota da China na região (o que o secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, chamou de “economia predatória”).

Ao longo dos últimos dois anos, os Estados Unidos ficaram frustrados com o desconforto da Índia em relação ao tipo de campanha de pressão que os EUA vêm montando contra a China e a Rússia. A Índia se recusou a parar de comprar energia russa com descontos, o que foi uma decisão pragmática durante o período eleitoral (embora a compra de energia russa pela Índia tenha diminuído ao longo do tempo). Quando perguntado se a Índia consideraria ser um membro da OTAN+, o ministro das Relações Exteriores da Índia, S. Jaishankar, disse que a Índia não compartilha da “mentalidade da OTAN”. A relutância da Índia em participar da Nova Guerra Fria contra a China irritou o governo dos EUA, que, portanto, decidiu deixar de lado o Quad e montar o Squad com o governo mais flexível e disposto do presidente das Filipinas, Bongbong Marcos. É importante observar, no entanto, que em abril a Índia entregou um lote de mísseis de cruzeiro supersônicos BrahMos às Filipinas (vendidos por 375 milhões de dólares e produzidos por uma joint venture entre fabricantes de armas da Índia e da Rússia). O fato desses mísseis poderem fazer parte da nova campanha de pressão contra a China não é algo que esteja escondido nas letras pequenas do acordo.

Provocações

Desde seu “pivô para a Ásia”, os Estados Unidos têm procurado provocar a China. A guerra comercial dos EUA, que começou em 2018, em grande parte fracassou devido à Iniciativa Cinturão e Rota da China e sua tentativa de construir linhas de produção avançadas para contornar as restrições comerciais dos EUA (por exemplo, quando os EUA tentaram impedir a China de importar chips semicondutores, os chineses desenvolveram sua própria capacidade de fabricação). A tentativa dos EUA de transformar Taiwan na linha de frente de sua campanha de pressão também não deu resultado. A posse do novo presidente de Taiwan, Lai Ching-te, em 20 de maio, levou ao comando um homem que não está interessado em pressionar pela independência de Taiwan; apenas 6% da população de Taiwan é a favor da unificação com a China ou da independência, e o restante da população está satisfeito com o status quo. Incapazes de criar a provocação necessária em relação a Taiwan, os Estados Unidos mudaram sua mira para as Filipinas.

Embora as Filipinas e a China disputem o status de várias ilhas nas águas entre elas, essas divergências não são suficientes para levar qualquer um dos países à guerra. Em abril de 2024, o ex-presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, lembrou que, quando era presidente (2016-2022), “não havia disputa. Podemos voltar à normalidade. Espero que possamos acabar com o tumulto por lá, porque são os americanos que estão pressionando o governo filipino a ir até lá e arrumar uma briga e, eventualmente, talvez começar uma guerra”. Em março, o presidente Marcos disse que “não está cutucando o urso” e não quer “provocar” a China. Entretanto, a formação do Squad dois meses depois indica que as Filipinas substituíram Taiwan como o estado da linha de frente das provocações dos EUA contra a China.

O vice-presidente da Comissão Militar Central da China, Zhang Youxia, alertou contra os “músculos das canhoneiras”. “A realidade mostrou”, disse ele, “que aqueles que fazem provocações deliberadas, alimentam as tensões ou apoiam um lado contra o outro para obter ganhos egoístas acabarão prejudicando apenas a si mesmos”.

(*) Tradução de Raul Chiliani

Globetrotter O Globetrotter é um serviço independente de notícias e análises internacionais voltado aos povos do Sul Global.

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