Há 5.373 municípios no Brasil. O voto é voluntário se você tiver entre 16 e 18 anos ou mais de 70 anos, e obrigatório se tiver entre 18 e 70 anos.
Os prefeitos são eleitos em dois turnos, a menos que alguém receba mais de 50% dos votos no primeiro turno.
Os vereadores e as prefeituras são eleitos separadamente. Cada eleitor vota em um vereador e em um candidato a prefeito. Portanto, é possível que o partido do prefeito tenha poucos vereadores e vice-versa.
Deve-se lembrar também que as eleições municipais brasileiras não são binárias. Há muitos partidos históricos com forte presença local que não são nem o Partido Liberal (PL, Bolsonaro) nem o Partido dos Trabalhadores (PT, Lula). De fato, muitas vezes acontece do PL e o PT não apresentarem seu próprio candidato, mas apoiarem ou estarem na lista de apoiadores de outro candidato com mais chances de vitória.
No dia 6 de outubro, domingo passado, ocorreu o primeiro turno. O segundo turno ocorrerá no dia 27 de outubro, também em um domingo.
Sobre os resultados
De forma geral, as eleições foram bastante acirradas, com resultados mais positivos para os partidos de centro-direita como PSD e MDB, e com uma leve vantagem para o bolsonarismo e seus aliados. Houve grande número de reeleições, o que sugere que não há um clima de contestação em geral.
Excelente resultado para os partidos do chamado Centrão. Com PSD (888) e MDB (861), ficam com mais de 1.700 prefeituras no primeiro turno. Poderão ganhar ainda mais no segundo turno.
O PL passou de 344 para 523 prefeituras e o PT subiu de 188 para 251. Quando competiram entre si, o PL ficou à frente na maioria dos casos relevantes. Em termos de número de eleitores, o PL (3.067) está muito à frente do PT (1.388), mas ambos estão abaixo do MDB (3.872) e do PSD (3.347).
O PT, apesar de crescer no geral, não conseguiu vencer em nenhuma capital com seu próprio candidato. Seus principais sucessos vêm de coligações: vitória no Rio de Janeiro com Eduardo Paes e um bom resultado em São Paulo, onde Boulos (PSOL) vai para o segundo turno e o PT obteve o maior número de vereadores (8, o mesmo de 2020). Ainda em São Paulo, o PL de Bolsonaro cresceu e obteve 7 vereadores (5 a mais que em 2020).
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Dois casos especiais são Porto Alegre e São Luís. Porto Alegre foi devastada por enchentes há apenas seis meses. Haverá um segundo turno entre o candidato do MDB (centro-direita) e a candidata do PT, com uma clara vantagem para o MDB (23 pontos percentuais a mais). Em São Luís, capital do Maranhão, o PT e o PL estavam na mesma chapa e perderam para o PSB por mais de 50 pontos percentuais.
O resultado do partido de Lula não é ruim, mas é evidente que para a esquerda brasileira há dois tipos de eleições: em algumas, Lula se destaca e, em outras, não. A capacidade da centro-esquerda e da esquerda de formar alianças bem-sucedidas nas eleições municipais, sem Lula como candidato, é menor do que o esperado. Esse é um ponto a ser levado em conta para as eleições presidenciais de 2030, quando Bolsonaro voltar e Lula não puder concorrer.
No campo de Bolsonaro, parece claro que os candidatos com o apoio explícito do ex-presidente têm bons resultados e que esse apoio tem impacto, especialmente nas grandes cidades, para outros candidatos de direita ou de centro-direita. É verdade que há lugares importantes onde isso não acontece, por exemplo, o Rio de Janeiro; mas a tendência é clara: Bolsonaro tem influência, mesmo que não possa ser presidente a curto prazo.
Olhando para o segundo turno, ainda há muito a ser decidido. O mais importante será quem governará a cidade mais importante da América Latina e uma das mais importantes do Sul global: São Paulo. Lá, um candidato apoiado por Bolsonaro (Nunes) e um candidato apoiado por Lula (Boulos) estão competindo diretamente. Aliás, este cenário também está acontecendo em cinco grandes cidades: Cuiabá, Fortaleza, Natal, Porto Alegre, além da própria São Paulo.
(*) Tradução de Raul Chiliani