O ataque foi realizado com “munições precisas” com base em “inteligência precisa” contra o que Tel Aviv descreve como um ” centro do Hamas em Rafah”. Especificamente, o bombardeio tinha a intenção de matar dois líderes de alto escalão do Hamas, Yassin Rabia e Khaled Nagar. Uma declaração das forças israelenses reconheceu que o fogo iniciado pelas bombas feriu vários civis e que “o incidente está sendo analisado”. Fontes de saúde do governo de Gaza estimam em 50 o número de pessoas mortas no bombardeio do campo de refugiados, incluindo muitas crianças.
O ataque ocorreu poucas horas depois do Hamas lançar oito foguetes contra Tel Aviv e outras partes do centro de Israel, sem causar danos graves à infraestrutura ou ferimentos à população.
O porta-voz da Autoridade Nacional Palestina, Nabil Abu Rudeina, classificou o ataque como um “massacre que ultrapassou todos os limites”. A organização Médicos Sem Fronteiras Internacional disse estar “horrorizada com esse massacre, que mostra mais uma vez que ninguém está seguro”.
Esse novo ataque ocorre apenas três dias após a Corte Internacional de Justiça ( CIJ) ordenar que Israel interrompa a ofensiva em Rafah “e qualquer outra ação na província de Rafah que possa infligir ao grupo palestino em Gaza condições de vida que possam levar à sua destruição física total ou parcial”.
Após a ordem de Haia, que Tel Aviv não reconheceu, o exército israelense continuou sua ofensiva em Rafah, na cidade de Deir al-Balah, na região central da Faixa de Gaza, e especialmente no campo de refugiados de Jabalia, no norte da Faixa. A CIJ também ordenou que Israel reabrisse a passagem de Rafah, que está fechada desde que o país invadiu a região.
Como o número de palestinos mortos ultrapassa a marca de 36 mil – sem contar os desaparecidos e enterrados nos escombros, que podem ultrapassar outros 10 mil – a discórdia entre Tel Aviv e alguns de seus aliados tradicionais aumentou. Depois que a ministra da Defesa da Espanha, Margarita Robles, chamou a ofensiva israelense em Gaza de “verdadeiro genocídio”, a diplomacia israelense a acusou de falar em nome do Hamas, o mesmo argumento usado para atacar a CIJ.
O volume de ataques discursivos da diplomacia israelense aumenta à medida que se aproxima o reconhecimento anunciado do Estado palestino pela Espanha, Irlanda e Noruega, marcado para 28 de maio. “Estamos em 2024, os dias da Inquisição acabaram. Hoje nós, judeus, temos um Estado soberano e independente e ninguém nos forçará a converter nossa religião ou ameaçará nossa existência. Quem nos ferir, nós o feriremos”, declarou o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, em 27 de maio.
Entre as primeiras medidas punitivas pelo reconhecimento do Estado palestino, no dia 1º de junho o Consulado da Espanha em Jerusalém será proibido de prestar serviços aos palestinos “residentes sob a Autoridade Palestina”. Para Irene Montero, candidata do Podemos para as eleições europeias, é “incompreensível que o governo espanhol não rompa as relações diplomáticas e não concorde com um embargo total de armas”. Apesar dos discursos e palavras de crítica, inclusive reconhecendo que Israel está cometendo um “verdadeiro genocídio”, o Partido Socialista Espanhol tem se recusado em sucessivas votações no Congresso a parar de comprar armas e sistemas de defesa “testados em combate” de Israel e a realizar um embargo real, interrompendo a venda de armas mesmo que os contratos tenham sido assinados antes de 7 de outubro de 2023.