Há um ano, durante uma viagem do então Presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, a oposição ucraniana, com a legitimidade trazida pelas violentas manifestações em Kiev, derrubava um governo democraticamente eleito com um processo de impeachment inconstitucional, aprovado pelo Parlamento.
Desde então, mais de 5 mil morreram em meio à guerra civil que assola o país. A hyrvna, moeda ucraniana, tem perdido seu valor abruptamente – em 2014 caiu 40% em relação ao dólar. O PIB foi reduzido em 10%, e a inflação chegou a 19%.
A Ucrânia teve que pedir ajuda ao Fundo Monetário Internacional – que aprovou um empréstimo de 17 bilhões ao país. Sem a ajuda internacional, a economia seria reduzida em 10%. Com a ajuda, assegura o primeiro-ministro da Ucrânia, a redução será de pelo menos 3%.
O golpe na Ucrânia teve como principal motivação a iniciação de um acordo econômico do país com a Rússia. Hoje, o país se ajoelha perante a Europa, os EUA e o FMI, pedindo por dinheiro e armas.
Mas o pior está por vir. As tensões com a Rússia aumentam a cada dia. O exército ucraniano, que combate no leste do país, é derrotado repetidamente (a derrota mais recente foi em Debaltsevo, aonde frente a uma ofensiva dos combatentes do leste, o exército ucraniano foi obrigado a deixar a cidade) e algum dia o fantasma do FMI irá a Kiev, como foi em tantos países europeus e latino-americanos, e cobrará o povo da Ucrânia pela “ajuda” fornecida.
O novo governo
A catástrofe militar e econômica se soma ao completo desastre político do país. O novo governo da Ucrânia, que deveria acabar com a corrupção e melhorar a economia do país, é formado por pessoas como:
Arseniy Yatsenyuk; foi Ministro da Economia de 2005 a 2006, Ministro de Relações Exteriores em 2007, e Presidente do Parlamento de 2007 a 2008. Hoje é primeiro-ministro. Yatsenyuk é criador da fundação “Open Ukraine”, que ostenta entre seus parceiros a National Endowment for Democracy, desde 2009, a International Renaissance Foudation; de George Soros, e a OTAN, desde pelo menos 2011, entre outros. Yatsenyuk foi citado como favorito para o novo governo em uma conversa telefônica vazada entre Victoria Nuland, Secretária Assistente do Estado Americano, e Geoffrey Pyatt, Embaixador dos EUA na Ucrânia.
Arsen Avakov; empresário armênio e atual Ministro de Assuntos Internos, foi governador da Carcóvia de 2004 a 2010. Em janeiro de 2012, é acusado de transferir ilegalmente 55 hectares de terra, e é colocado na lista de procurados pela INTERPOL.
Natalia Ann Jaresko; americana e atual Ministra de Finanças da Ucrânia, trabalhou de 1992 a 1995 no Departamento de Estado Americano. Foi membra do conselho da fundação Open Ukraine, citada acima, além de CEO e sócia-fundadora da Horizon Capital, também parceira da fundação de Arseniy Yatsenyuk.
O atual Ministro de Política Social, Pavlo Rozenko; trabalhou de 2010 a 2011 como um expert no Razumkov Center, um think tank ucraniano com orçamento médio anual de 600 mil dólares. O think tank assina em 2010 um documento intitulado “A aliança com a qual gostaríamos de colaborar e ser parte”, hospedado no site da OTAN, na qual se defende, entre vários pontos, a “[…]filiação [da Ucrânia à OTAN] como um ponto essencial para a segurança nacional.”
Aivaras Abromavičius; Ministro do Desenvolvimento Econômico e Comércio da Ucrânia, é sócio da multinacional do setor de investimentos East Capital. Em entrevista à BloombergView em janeiro desse ano, se demonstrou favorável a cortes em gastos públicos.
O Ministro de Política de Informação, Yuriy Stets; trabalhou como produtor-chefe no Channel 5, canal de televisão cujo proprietário é Petro Poroshenko, atual Presidente da Ucrânia. A criação do “Ministério da Verdade”, como alguns críticos chamam, foi amplamente criticado como um ataque à liberdade de imprensa. Dunja Mijatovic, representante da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa), também se colocou contrária a criação do Ministério por essa razão.
Serhiy Kvit; Ministro da Educação e Ciência da Ucrânia, é membro da organização paramilitar de extrema-direita Tryzub, cujo líder era Dmytro Yarosh (hoje líder do Setor Direita).
O Ministro da Juventude e Esportes da Ucrânia, Ihor Zhdanov; também trabalhou no Razumkov Centre de 1995 a 1997 e depois de 1999 a 2005. Em 2004 trabalhou como analista da campanha eleitoral de Viktor Yushchenko, líder da chamada “Revolução Laranja” e opositor de Viktor Yanukovich.
Conclusão
Um ano se passou, e tudo mudou para pior. A população no leste vive mal, e a do oeste também. O sonho de uma “nova Ucrânia” defendido por manifestantes durante o Euromaidan não passava de uma série de sombras projetadas na população encavernada pela União Europeia e os EUA, em parceria com seus serviçais em Kiev. Para isso não houveram limites. Reviveram Stephan Bandera, o fascismo e o ultranacionalismo ucraniano. Incendiaram pessoas vivas, destruíram sedes de partidos e espancaram comunistas. Bombardearam e bombardeiam civis, censuram e atacam jornalistas. Não resta alternativa à Ucrânia; ou a Junta de Kiev é derrubada e os planos do Comandante Mozgovoi são colocados em prática, ou um futuro assombroso recairá sobre o país.