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Mortes em ação policial crescem 100% entre abril e junho deste ano no Rio

De acordo com dados da Anistia Internacional, até maio 151 pessoas foram assassinadas por agentes de segurança na cidade do Rio de Janeiro.
da Agência Brasil
(Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil)

O número de casos de mortes resultantes de ações policiais cresceu 100% entre abril e junho de 2016 no Rio de Janeiro, na comparação com o mesmo período de 2015. A informação é da assessora de Direitos Humanos da Anistia Internacional, Renata Neder. Segundo ela, este já é um padrão quando se aproximam eventos de grande porte na cidade.

De acordo com dados da Anistia, até maio 151 pessoas foram assassinadas por agentes públicos de segurança na cidade do Rio de Janeiro, 40 somente em maio – 135% a mais que no mesmo mês de 2015.

Em 2007, ano de realização dos Jogos Pan-Americanos, o número de óbitos cresceu 30% se comparado a 2006. Em 2014, quando foi realizada a Copa do Mundo, a quantidade de casos aumentou em 40%, tendo como parâmetro o ano anterior. Os dados foram apresentados durante coletiva realizada para expor o uso excessivo de poder dos militares em alguns casos, entre eles as remoções de moradores da Vila Autódromo para os Jogos Rio 2016.

“Infelizmente, temos notando um padrão de casos sempre que esses eventos se aproximam. O Rio de Janeiro teve uma série de oportunidades de sediar eventos de grande porte, mas não soube aproveitá-lo da melhor maneira. Diversas pessoas morreram em virtude disso. Não custa lembrar da chacina do Pan, em 2007, quando 19 pessoas morreram na comunidade do Alemão. Não precisamos ir muito longe. Recentemente, estamos observando essas remoções da Vila Autódromo. Infelizmente, nossa polícia é uma organização que tem um histórico pesado de uso abusivo de poder. Pelo que mostram os dados, não aprendeu com erros anteriores”, disse Renata.

Aplicativo

No início de julho, a Anistia Internacional lançou um aplicativo que mapeava regiões da cidade com relatos de fogo cruzado em determinados momentos. Chamado de Fogo Cruzado, o aplicativo, segundo afirmou Renata, registrou, em um mês de uso, 756 notificações de confronto armado por toda a cidade. Mais de 30 mil pessoas baixaram o programa para seus dispositivos móveis.

“Quando lançamos esse aplicativo, buscávamos ajudar os cidadãos e também ter uma noção de como estava a cidade. É notório que o Rio de Janeiro tem muitos problemas na segurança pública, mas esses 756 relatos de tiroteio são impressionante. Ilustra bem como a cidade falhou imensamente no legado de segurança que a Olimpíada prometia. Como se sentir seguro em um lugar assim?” O Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, foi o local com maior número de ocorrências.

Solidariedade

Vitor Santiago, morador da comunidade da Maré, também na zona norte da cidade, ficou paraplégico ao ser atingido por disparos feitos pelo Exército em uma operação de segurança durante a Copa do Mundo de 2014. Segundo ele, o Estado em nenhum momento prestou solidariedade ao seu caso. Santiago foi mais um a classificar a segurança do Rio de Janeiro como falha e racista.

Santiago lembrou que chegou ao hospital com 7% de chance de sobreviver e que ficou  internado durante 98 dias.

“Graças a Deus estou vivo, mas com marcas desse absurdo. Fiquei paraplégico e tive de amputar uma perna. Tudo que tive de custear durante esse tempo, seja minha cadeira de rodas ou até mesmo os exames mais corriqueiros, saiu do meu bolso ou de doações. O Estado não me deu sequer um curativo. Hoje, sou pai de uma menina de 4 anos, mas não posso atender às expectativas e pedidos de minha filha graças à polícia que mata, fere e atinge jovens pobres e negros”.

Vila Autódromo

Para Naomy Oliveira, 14 anos, que vivia na Vila Autódromo, comunidade pobre que sofreu diversas remoções por conta dos jogos, o evento é importante, mas as atitudes da prefeitura durante esse tempo foram classificadas como erradas e irregulares.

“Pretendo ser atleta um dia. Um evento como esse na cidade é muito legal, mas isso não dá ao prefeito Eduardo Paes o direito de fazer o que fez. Uma postura totalmente errada e irregular com os moradores da Vila. Me lembro que tinha viajado para passar o carnaval em Cabo Frio. Quando voltei, não tinha mais minha casa. Tinham colocado tudo que era nosso em um depósito. Um tratamento digno de animal”, lamentou.

Prefeitura

Por meio de nota, a prefeitura informou que, para realização das obras de construção da via de acesso e recuperação ambiental da faixa marginal da Lagoa, 275 famílias teriam de deixar suas casas na Vila Autódromo.

Para todas essas famílias foram oferecidas opções de apartamentos do Condomínio Parque Carioca ou indenização. Essas opções forms escolhidas por 268 famílias. Na grande maioria dos casos, os moradores saíram de construções irregulares, em condições insalubres, para apartamentos do Parque Carioca. As demais 549 famílias não precisariam sair da comunidade.

De acordo com a nota, 531 famílias solicitaram à prefeitura reassentamento ou indenizações. Os moradores fizeram inclusive abaixo-assinados pedindo a inclusão no cadastro municipal.

Urbanização

A nota informou ainda que as 20 famílias remanescentes da Vila Autódromo serão beneficiadas com a urbanização da comunidade, projeto que inclui a construção de casas de dois quartos com quintal, redes de drenagem, esgoto, iluminação, pavimentação da Rua Nelson Piquet e paisagismo da área.

A prefeitura vai construir duas escolas e área de lazer na região. As escolas serão erguidas com a estrutura da Arena do Futuro, que receberá os jogos de handebol. Após a Olimpíada, a arena será desmontada e reaproveitada. Todo o processo de construção das casas foi resultado de um Termo de Acordo Administrativo, assinado entre a prefeitura do Rio e a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro.

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