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São Paulo, Estado de exceção

Frente `A repetição de atos de repressão injustificados em São Paulo, é necessário avaliar os objetivos políticos da violência contra as manifestações.
por Pedro Marin | Revista Opera
(Foto: Pedro Marin / Revista Opera)

Seis manifestações contra o impeachment da presidenta afastada Dilma Roussef e contra o governo de Michel Temer ocorreram nesta semana em São Paulo. Todas as seis foram reprimidas pela Polícia Militar do Estado de São Paulo.

Na segunda-feira, o motivo da repressão seria o fato de os manifestantes terem furado um bloqueio policial que separava manifestações pró e contra o impeachment. Razão no mínimo absurda, considerando que em frente ao prédio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), onde havia um acampamento a favor do impeachment, manifestantes contrários ao processo foram espancados sob a vista grossa da PM.

Um vídeo feito pela Agência Democratize capturou o momento em que um manifestante corre em direção a uma briga com uma bandeira em mãos (a partir de 0:36). Um policial tenta detê-lo, mas logo após o deixa seguir:

1
Policial tenta tomar bandeira de manifestante pró-impeachment que se dirigia a briga entre manifestantes.
2
O manifestante e o policial parecem discutir.
3
Por fim, o policial deixa o manifestante seguir em direção à confusão.

Na terça-feira, sem motivo aparente ou justificativa concreta, a PM atacou a manifestação pelas ruas do centro da cidade. Revelou-se também naquela noite a impressionante quantidade de armas brancas guardadas no acampamento da FIESP. O mesmo ocorreu na quarta-feira, quando a polícia reprimiu os manifestantes na esquina da rua da Consolação com a Maria Antônia, causando a perda da visão do olho esquerdo em uma jovem de 19 anos. Houve até um caso de atropelamento intencional por parte da PM.

O roteiro se repetiu na quinta-feira, na Avenida 9 de Julho, e também na sexta-feira, quando a PM, após impedir a saída de uma manifestação organizada por um grupo de mulheres negras, atacou manifestantes que decidiram se manifestar nas ruas contra a vontade do comando da polícia.

Já no último domingo (4), a PM reprimiu uma manifestação em seu fim. Antes do início do ato, que de acordo com a organização contou com mais de 100 mil pessoas, ao menos 26 pessoas (dentre elas 8 menores de idade) foram presas e encaminhadas para o Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC), onde ficaram por cerca de seis horas sem falar com seus advogados.

Frente a essa repetição de atos de repressão injustificados, é necessário avaliar os objetivos políticos da violência contra as manifestações.

Três hipóteses para a escalada da repressão

Há três hipóteses: A primeira, de que o governador Geraldo Alckmin tenta amedrontar os manifestantes, para esvaziar os atos futuros. Basta voltar os olhos para junho de 2013, no entanto, para percebermos que não é este o caso. À época, o governador, em conluio com a grande imprensa, garantiu que a pauta fundamental das manifestações de então – o aumento das passagens do transporte público – fosse substituída por uma infinidade de bandeiras desconexas e, por vezes, reacionárias. Alckmin sabe, portanto, que atos de repressão descarada, injustificada e sem limites tendem a aumentar as manifestações, e deve imaginar que o momento político não possibilitaria uma troca de pautas tão facilmente.

A segunda hipótese é a de que o objetivo da repressão seja midiático. A repressão garantiria que o fundamental nas capas dos jornais fosse a violência da polícia e o “vandalismo” dos manifestantes, no lugar do fato de haver manifestações contra o governo. Essa hipótese faria sentido para a manifestação deste domingo, quando 100 mil pessoas marcharam contra Temer, mas não se encaixa no contexto dos outros protestos desta a semana, que tiveram menor presença de manifestantes.

A hipótese que resta é que Alckmin esteja tentando insuflar os ânimos dos manifestantes, o que possibilitaria, por fim, uma escalada de criminalização e repressão aos movimentos sociais sem precedentes. Esta tese é corroborada por um trecho do editorial “Fascistas à solta”, publicado pelo jornal Folha de São Paulo na última sexta-feira (2), que, na prática, é um chamado ao uso da lei antiterrorista:

“Grupelhos extremistas costumam atrair psicóticos, simplórios e agentes duplos, mas quem manipula os cordéis? O que pretendem tais pescadores de águas turvas? Quem financia e treina essas patrulhas fascistoides? Está mais do que na hora de as autoridades agirem de modo sistemático a fim de desbaratá-las e submeter os responsáveis ao rigor da lei.

Não podemos falhar em nossa memória, nem tão pouco com nossa visão. A repressão em São Paulo não é algo novo. Em 2013 contou, inclusive, com o consentimento do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT). No entanto, é absolutamente fora do comum que grandes manifestações convocadas por movimentos do campo democrático-popular (Povo Sem Medo, Brasil Popular) sejam reprimidas, como ocorreu neste domingo.

Fica a pergunta: qual a disposição de conciliar, negociar e transigir das forças políticas por trás da repressão? O projeto de conciliação e politicagem do petismo foi destruído por elites que rompem acordos quando lhes convém, e as ilusões de que por causa de negociatas e concessões as coisas não podem piorar também foram despedaçadas. A crise só está começando. Para os perdedores resta aprender com essas lições e priorizar o seu próprio fortalecimento para que, como ensina Maquiavel, possam se estabelecer com as próprias armas e não com as armas de outros.

 

 

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