Pesquisar
,

ONU critica decisão que voltou a permitir uso de balas de borracha em protestos

Na carta dirigida ao presidente do TJSP, Paulo Dimas de Bellis Mascaretti, o relator da ONU disse estar “desapontado” com a decisão do juiz.
por Camila Boehm – Repórter da Agência Brasil
(Foto: Pedro Marin / Revista Opera)

O relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre liberdade de reunião e associação pacífica, Maina Kiai, criticou na tarde de hoje (9) a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) de suspender a decisão de primeira instância que proibia o uso de balas de borracha e gás lacrimogêneo em protestos e obrigava a Polícia Militar (PM) a elaborar um protocolo público para a gestão de manifestações.

Na carta dirigida ao presidente do TJSP, Paulo Dimas de Bellis Mascaretti, o relator disse estar “desapontado” com a decisão do juiz.

“Eu havia escrito uma carta saudando o entendimento aplicado pela Corte em determinar que as autoridades responsáveis desenvolvam um protocolo para a atuação policial em protestos. Infelizmente, a sentença foi suspensa antes que a carta pudesse ter sido enviada”, diz o documento. Kiai acrescentou que a decisão inicial era importante para a gestão de protestos no Brasil.

Apesar de crítico ao papel desempenhado pela Polícia Militar no lugar de autoridades civis na gestão de manifestações no Brasil, o relator disse acreditar que um protocolo para atuação policial possa melhorar substancialmente essa gestão e assim proteger de forma mais eficiente o interesse público, a segurança e facilitar a atividade policial.

Decisão do tribunal

O presidente do TJSP suspendeu na segunda-feira (7) a decisão que proibia o uso de balas de borracha e gás lacrimogêneo em manifestações. A determinação era do juiz Valentino Aparecido de Andrade, da 10ª Vara de Fazenda Pública de São Paulo, e tinha sido publicada no dia 19 de outubro. Andrade determinava também que o governo paulista pagasse uma indenização de R$ 8 milhões pela violência excessiva empregada pela Polícia Militar (PM) ao reprimir protestos e que elaborasse um projeto para atuação em manifestações.

Ao suspender a decisão, o presidente do tribunal disse que a sentença anterior causava “grave lesão à ordem e segurança públicas”. “Padronizar e burocratizar determinadas condutas, e de forma tão minuciosa, tolhendo a atuação da Polícia Militar e inclusive impedi-la de utilizar meios de defesa, como pretende a Defensoria Pública, coloca em risco a ordem e a segurança públicas e, mesmo, a vida e a segurança da população e dos próprios policiais militares”, disse o presidente do TJSP ao acatar os argumentos da procuradoria do estado e do Ministério Público contra a sentença.

Para Henrique Apolinario, advogado do programa de Justiça da organização não governamental Conectas, o mecanismo de suspensão de sentença “é excepcionalíssimo e só poderia ser utilizado em casos de flagrante violação do interesse público”. O advogado explicou que, depois de apresentado o recurso, a suspensão será julgada por uma Corte Especial do TJSP composta por 25 desembargadores – entre eles, o próprio presidente do tribunal.

“A manifestação da ONU é mais uma evidência de que o TJSP e o governo paulista estão na contramão das melhores práticas internacionais. A carta do especialista reitera a importância da transparência e da existência de protocolos públicos para a atuação da polícia. É um mínimo óbvio que as autoridades paulistas seguem negando à população, em clara violação dos compromissos assumidos pelo Brasil junto às Nações Unidas”, disse Apolinario.

Continue lendo

UNRWA
Por que Israel proibiu a UNRWA e o que isso significa para os refugiados palestinos
rsz_militares
Starlink: militares usam internet via satélite de Elon Musk sem teste de segurança da rede
boulos (2)
A retumbante derrota de Boulos e a marca de Marçal

Leia também

sao paulo
Eleições em São Paulo: o xadrez e o carteado
rsz_pablo-marcal
Pablo Marçal: não se deve subestimar o candidato coach
1-CAPA
Dando de comer: como a China venceu a miséria e eleva o padrão de vida dos pobres
rsz_escrita
No papel: o futuro da escrita à mão na educação
bolivia
Bolívia e o golpismo como espetáculo
rsz_1jodi_dean
Jodi Dean: “a Palestina é o cerne da luta contra o imperialismo em todo o mundo”
forcas armadas
As Forças Armadas contra o Brasil negro [parte 1]
PT
O esforço de Lula é inútil: o sonho das classes dominantes é destruir o PT
ratzel_geopolitica
Ratzel e o embrião da geopolítica: os anos iniciais
almir guineto
78 anos de Almir Guineto, rei e herói do pagode popular