“Todos dias eu me preparo para o momento em que reencontre com ele. Ainda que ele me rejeite dizendo que não é meu filho, eu só quero conhece-lo, porque no fundo eu sinto que ele é meu filho. Mas se ele quiser me conhecer e me aceitar, eu vou ficar muito feliz”. As expectativas de Karen ainda não se concretizaram, ela não conhece o filho que hoje tem 17 anos e que foi entregue a uma amiga quando ingressou às fileiras das FARC-EP (Forças Armadas Revolucionárias da Colombia – Exército do Povo) em 1998.
Há 20 anos Karen começou a militar nas Milícias Populares das FARC-EP, organização responsável pelo trabalho de base da guerrilha. Nesta época, aos 12 anos, ela já conhecia a realidade da vida. “E quando eu tinha sete anos meu pai foi embora de casa. Eu criei meus oito irmãos enquanto minha mãe trabalhava para nos sustentar porque éramos muito pobres”, conta. Eles viviam em uma vereda no departamento de Meta, Colômbia. Hoje, aos 32 anos, a combatente não tem notícias da família.
Quando passou a integrar as Milícias Bolivarianas, em 1997 — uma parte da guerrilha sem armas — conheceu outro miliciano e iniciaram um relacionamento. “Quando estava com 15 anos fui morar com ele, e três meses depois fiquei grávida. Nós já éramos clandestinos, e quando o bebê estava com sete meses fui chamada para um curso em um acampamento nas montanhas”, diz ela. Nesta época, o relacionamento entre eles já tinha acabado porque o pai de seu filho foi embora.
O plano de Karen era voltar para seguir com seu filho, mas nesta época os grupos paramilitares ganharam força, principalmente na região onde vivia. “Três milicianos voltaram para o povoado depois do curso e foram assassinados. Depois disso decidi ficar trabalhando internamente [dentro das FARC-EP]”, explica. Pouco tempo depois, o pai do seu filho e seu próprio pai foram assassinados por paramilitares.
Karen tem uma voz suave e um sorriso largo. Romântica, guarda expectativas de encontrar um novo amor e de ter uma vida diferente quando o processo de paz inicie. “Eu gosto muito do que é a medicina, queria estudar para fazer cirurgias. E se não, aprender mecânica e ser motorista”, confessa.
[Entrevista feita durante a segunda quinzena de outubro, em El Diamante, na região de Yarí, Caquetá com os guerrilheiros do Bloco Oriental]