Na última terça-feira (13) mais de cem famílias camponesas retomaram, com o apoio da Liga dos Camponeses Pobres (LCP) de Pará e Tocantins, a fazenda Santa Lúcia, no município de Pau D’arco, no Pará, onde dez camponeses foram assassinados no dia 24 de maio deste ano durante uma operação policial.
“Eles estavam lutando por um pedaço de terra, então nada mais justo do que eu estar aqui. Eles pensaram que a luta tinha acabado quando mataram minha família, mas não é assim. Voltamos aqui para lutar mais e para garantir o direito por essa terra”, disse a camponesa Geodete Oliveira dos Santos.
Na ocasião, nove homens e uma mulher foram mortos, o que representa a maior chacina no campo desde o massacre de Eldorado dos Carajás, em abril de 1996, que resultou na morte de 19 camponeses. Os policiais alegam que foram recebidos a tiros quando iniciaram a operação, que tinha por objetivo cumprir 16 mandatos de prisão.
A LCP, por outro lado, contesta a versão policial: “Todo mundo que conhece armamento sabe que aquelas poucas que foram apreendidas e mostradas não encorajariam ninguém a enfrentar a polícia. É só ver os corpos dos companheiros assassinados para concluir que foram fuzilados, e não estavam em posição de confronto”, disse um representante do movimento ao De Olho Nos Ruralistas.
Uma investigação do caso desde então foi iniciada. Um laudo pericial preliminar demonstrou que não há vestígios de impacto de projétil de bala nos coletes usados pelos policiais que participaram da ação, reforçando a versão de que não houve confronto entre os trabalhadores e os policiais. o delegado-geral da Polícia Civil do Pará, Rilmar Firmino, no entanto, ressaltou que o laudo preliminar não é suficiente, ainda, para dizer se houve ou não confrontos entre os camponeses e os policiais. “Não quer dizer que, para haver confronto, o policial tem de ser alvejado. Temos de ter cautela. Estamos aguardando a comparação balística, que vai nos dar condições de saber quem atirou, de que arma saiu o projétil. É muito cedo para chegar a uma conclusão”, disse.
A LCP afirma ainda que seguranças da fazenda também participaram da operação. A afirmação foi feita também por testemunhas, em depoimento ao Ministério Público do Pará (MPPA). “Em 23 dias de exaustiva investigaçãao nós ouvimos os policiais, testemunhas, vítimas, sobreviventes, então a gente já pode abandonar o eufemismo do ‘se houve excesso’. A promotoria já trabalha (com a versão) que houve execução”, disse o promotor Alfredo Amorim. É totalmente irregular a participação dos seguranças e pelo menos um deles estava armado com um (revólver) 38. Eu sei que estavam de serviço para a fazenda e, por sinal, evaporaram do local”, completou.
*Com informações da Liga dos Camponeses Pobres (LCP), Rede Liberal e De Olho Nos Ruralistas