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Congresso do Partido Comunista da China formalizará o “xiismo”

por John Ross* | The Market Mogul – Tradução por Matheus Cornely
(Foto: Dong Fang / VOA)

Realizado uma vez a cada cinco anos, o congresso do Partido Comunista da China é, em qualquer circunstância, um evento político global importante. Mas o congresso deste ano é ainda mais significante porque consolida formalmente a posição de Xi Jinping como a de mais poderoso líder desde Deng Xiaoping e Mao Tsé-Tung. Em termos oficiais, Xi já é designado como “núcleo” da liderança chinesa, mas essa posição é passível de se estender formalmente para o campo ideológico e político no possível termo xiismo. Dada a posição de Xi Jinping, é portanto crucial, para entender a dinâmica da China, que se entenda com precisão as características básicas do xiismo e o que o distingue das políticas anteriores dos líderes chineses.

O desenvolvimento do xiismo

Adotar a forte terminologia de um “ismo” para caracterizar as políticas chinesas destaca a nova situação existente na China e internacionalmente em um contraste com os líderes chineses anteriores. Dado que pode haver choque com o conteúdo real das tendências globais e como estas se refletem na China, uma fonte não-chinesa será usada para estabelecê-las – as projeções do FMI publicadas acompanhadas da última Perspectiva Econômica Mundial.

Duas realidade simultâneas, uma doméstica chinesa e outra internacional, caracterizam o xiismo. A conclusão oriunda da inter-relação em jogo claramente explica porque a fala de Deng Xiaoping “esconda sua capacidade, espere a oportunidade” foi modificada para explicar a análise da China a uma audiência global em eventos como o amplamente divulgado discurso de Xi Jinping ao Fórum Econômico Mundial de Davos deste ano.

  • Domesticamente, a China está há cinco anos de um autoimputado critério de “prosperidade moderada” e há uma década da definição do Banco Mundial de uma “economia de alta renda”.
  • Internacionalmente, a presidência chinesa do G20 em 2016, e outras iniciativas, confirmam que ela espera – e inclusive tem um papel de auxílio – crescimento nas economias avançadas. Mas a China não pode depender disso. Os dados do FMI projetam, apesar de não ser muito reconhecido, que, por conta da crise financeira internacional, as economias avançadas enfrentarão um crescimento menor do que o posterior à Grande Depressão de 1929.

Levando em consideração que o lento desenvolvimento econômico dificulta que a China alcance seu objetivo de tornar-se uma economia de alta renda, o país conclui, portanto, que deve proativamente tomar não só iniciativas domésticas, mas também ajudar no crescimento mundial – eis a lógica das políticas internacionais da China, como a One Belt One Road (OBOR), que visa ajudar a fornecer os fundamentos de um centro de crescimento em toda a Ásia.

A situação internacional diante da China

Analisando primeiramente a situação das economias ocidentais diante da China, o termo “grande recessão” é geralmente utilizado para se referir aos eventos posteriores a 2007, mas muitos analistas foram adiante – a referência de Larry Summers, notável antigo secretário do Tesouro americano, à “estagnação secular”, e a de Christine Lagarde, diretora geral do FMI, ao “novo medíocre”. No entanto, pode ainda ser um choque para muitos perceber que as projeções econômicas do FMI implicam que o senso comum de que as economias ocidentais enfrentam os “problemas econômicos mais profundos desde a Grande Depressão”, em um aspecto crucial, subestima a situação.

As projeções do FMI mostram que, ao final de 2017, os 12% de crescimento total nas economias avançadas desde 2007 será mais lento que os 15% na década posterior a 1929. Surpreendentemente, até 2021, catorze anos depois de 2007, o FMI projeta que o crescimento total nas economias avançadas será menor que a metade dos 14 anos após 1929 – 21% comparado aos 50% do pós 1929. Como a estagnação relativa das economias ocidentais não será acompanhada por uma desaceleração na Ásia, uma surpreendente transformação da economia mundial está esperada para a metade da próxima década. Tomando uma definição central da região OBOR chinesa (Ásia em desenvolvimento, Ásia Oriental, excluindo o Japão, ex-URSS, Irã, Iraque e Turquia):

Nas atuais projeções das taxas de câmbio, os dados do FMI mostram que em 2016-2021 a região OBOR irá contar com 45% do crescimento mundial – comparado aos 24% da América do Norte e aos 10% da União Europeia. Nas paridades de poder de compra (PPC), a região OBOR representaria 57% do crescimento mundial – em comparação com os 14% da América do Norte e os 11% da UE. Consequentemente, o crescimento econômico mundial depende mais do sucesso da região OBOR do que da América do Norte ou da União Europeia. E a habilidade da China em utilizar o desenvolvimento econômico global é muito dependente do sucesso da região OBOR. Internacionalmente, por outro lado, Xi Jinping enfrenta uma situação diferente da dos líderes chineses anteriores.

A situação doméstica da China

Mas simultaneamente, a situação doméstica da China esteve se transformando através do crescimento cumulativo desde as reformas econômicas de 1978. Em 1949 apenas aproximadamente 10 países tinham um PIB per capita menor que o da China que Mao Tsé-Tung tomou a liderança. A China teve consideráveis ganhos sociais antes de 1978. A expectativa de vida chinesa, por exemplo, subiu de 78% da média mundial em 1949 para 105% em 1976, mas o crescimento médio de 4,9% do PIB ao ano de 1950 a 1978 era aproximadamente comparável à média mundial de 4,6%.

Em contraste, líderes chineses de Deng Xiaoping até a crise financeira internacional produziram rápido crescimento. Em 1978-2007 a taxa de crescimento anual do PIB era de 9,9%, conquistando a transição de uma economia de baixa renda para uma de renda média alta, segundo a classificação internacional. O resultado é de que, na taxa atual de crescimento, a China irá alcançar a definição do Banco Mundial de uma economia de alta renda cedo na próxima década. Para compreender o impacto global disso, deve ser notado que economias de alta renda, dentro da classificação do Banco Mundial em 2016, representavam apenas 15,6% de uma população mundial em que somente a China, sozinha, representa 18,5%. Assim sendo, a China atingindo um alto nível de renda irá mais do que dobrar o número de pessoas que vivem nesses países – uma transformação da economia mundial.

Conclusão

Xi Jinping é, consequentemente, o primeiro líder chinês a enfrentar uma combinação simultânea da transição para uma economia de alta renda com um crescimento ocidental pequeno. Essa combinação, assim sendo, produz uma nova configuração de políticas para a China – o xiismo.

A posição organizacional de Xi Jinping já se consolidou através de sua designação oficial como núcleo da liderança na China. Mas os anteriores mais poderosos líderes da China, Mao Tsé-Tung e Deng Xiaoping, também são oficialmente designados em termos de análise dos períodos de liderança sob a alcunha de “pensamento Mao Tsé-Tung” e “teoria de Deng Xiaoping”.

* John Ross é “Senior Fellow” do Instituto para Estudos Financeiros Chongyang, da Universidade de Renmin da China. Ele publica suas opiniões no website “Learning from China”. Este artigo representa sua análise pessoal, o que não implica o endosso pelo Instituto Chongyang.

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