Dizem por aí que o melhor negócio do mundo é um banco bem administrado, e que o segundo melhor negócio do mundo é um banco mal administrado. Pois bem, a realidade parece confirmar essa crença popular.
Em 2017, ano em que o PIB brasileiro teve uma pífia recuperação de 1% (sobretudo em função de safra recorde da “Fazenda Brasil”)¹, os maiores bancos voltaram a ter crescimento dos lucros (14,6% maiores do que em 2016²), e puderam assim pagar salários e participações significativas para seus executivos³, conforme destacado na figura.
No caso do Banco Itaú, que muito provavelmente conta com informações ultra-privilegiadas de um ex-executivo que atualmente ocupa o posto de Presidente do Banco Central do Brasil⁴, seu atual presidente recebeu quase R$ 41 milhões entre salários e participações, quantia que um funcionário médio do Itaú levaria centenas de anos para ganhar. Os presidentes do Santander e Bradesco receberam R$ 29,9 e 15,9 milhões, respectivamente. Os demais diretores também auferiram rendimentos milionários: a média do Itaú, Santander e Bradesco é de, respectivamente R$ 13,5, 5,6 e 6,9 milhões por diretor.
Será que tais executivos são centenas de vezes mais produtivos que um funcionário que ganha centenas de vezes menos para justificar tamanha discrepância? Obviamente que não. Entretanto, por estarem no topo desse grande “esquema de pirâmide” que é o atual sistema econômico, conseguem obter rendimentos cada vez maiores, sobretudo por simplesmente poderem determinar que assim será, já que são eles quem concentram o poder dessas instituições em suas mãos. E enquanto acionistas recebem gordos dividendos, não há objeções quanto ao fato de executivos ganharem centenas de vezes mais que os trabalhadores dos bancos que comandam.
Este fenômeno não é exclusividade do Brasil. De acordo com Chang, “a razão entre a remuneração do CEO e a do trabalhador típico nos Estados Unidos situava-se em torno de 30 a 40 para 1 nas décadas de 1960 e 1970. Essa razão aumentou rapidamente a partir da década de 1980, alcançando mais ou menos 100 para 1 no início da década de 1990 e subindo para 300 a 400 para 1 na década de 2000”⁵.
Oras, será que os executivos dos anos 60 são 10 vezes menos produtivos que os atuais? Ou será que as empresas de hoje obtém taxas de lucro 10 vezes maiores do que há 50 anos? E se assim for, será que tudo isso se deve a um punhado de diretores ou aos trabalhadores subordinados a esses diretores-magnatas?
Obviamente não. Infelizmente, trata-se de uma classe que adquiriu um poder desproporcionalmente grande, a ponto de conseguir traduzir para si própria benefícios cada vez maiores, mesmo que as empresas onde trabalham estejam mal das pernas. Afinal, “os mercados eliminam as práticas ineficazes, mas somente quando ninguém tem poder suficiente para manipulá-las”⁶.
Em 2008, quando os governos dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha injetaram dinheiro dos contribuintes nas instituições financeiras que estavam em dificuldades, poucos dirigentes responsáveis pelo fracasso das suas instituições foram punidos. É verdade que alguns CEOs perderam o emprego. Entretanto, “poucos dos que permaneceram no cargo tiveram uma redução substancial de salário, e tem havido uma enorme, e eficaz, resistência às tentativas do Congresso dos Estados Unidos de estabelecer um limite na remuneração dos dirigentes das instituições financeiras que estão recebendo dinheiro dos contribuintes”⁷.
Quer exemplos? Pense na “Oi”: mesmo em recuperação judicial, seu presidente recebeu R$ 15,5 milhões, sendo 47,6% a mais do que em 2016, valor superior aos presidentes da Vivo e Tim (R$ 3,7 e 3,4 milhões, respectivamente)³. É certo que para os funcionários da Oi, responsáveis por salvar a empresa de acordo com um de seus maiores acionistas⁸, toda sorte de alegações e desculpas foi utilizada para o corte de benefícios, demissões, suspensão de promoções etc.
Afinal, alguém precisa pagar pela crise. E no momento atual, com uma profunda desorganização da classe trabalhadora frente a uma poderosa ofensiva burguesa neoliberal, é esperado que a conta recaia sobre quem produz, de fato as riquezas.
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Referências
¹ https://glo.bo/2lF8CNC
² https://glo.bo/2pvtV6G
³ http://bit.ly/2tBgBQe
⁴ http://bit.ly/2N2neU5
⁵ CHANG, Ha-Joon. 23 coisas que não nos contaram sobre o Capitalismo. Capítulo 14. Ed. Cultrix. 1ª Edição, 2013. Recomendamos a leitura do capítulo na íntegra, onde é possível constatar que os executivos dos EUA obtém rendimentos significativamente maiores que os de países europeus e do Japão, por exemplo, sem no entanto haver uma justificativa plausível para tais diferenças até mesmo entre executivos. Uma versão digital do livro encontra-se no link a seguir: http://bit.ly/2kzMG5M.
⁶ idem.
⁷ ibidem.
⁸ http://bit.ly/2tAOEbl