O senador republicano John McCain morreu aos 81 anos, em decorrência de uma forma rara de câncer no cérebro. Veterano político do estado do Arizona, McCain havia sido diagnosticado com um tumor cerebral maligno em 2017[1].
Filho e neto de almirantes quatro estrelas, McCain foi aviador na Guerra do Vietnã. Entrou na vida pública na década de 1980, eleito para a Câmara dos Representantes dos EUA em novembro de 1982 e para o Senado em 1986. Apelidado de “dissidente” por sua disposição em romper com as posições oficiais do Partido Republicano, McCain se ficou famoso pela malsucedida corrida eleitora para a Casa Branca contra Barack Obama em 2008.
Apoiador irredutível do direito às armas nos EUA, foi o senador americano que mais recebeu doações da Associação Nacional do Rifle[2]. Também profundo defensor do “livre mercado”, McCain era representante claro de um republicanismo às antigas, despontando nos últimos anos como uma das mais fortes vozes de oposição ao presidente Donald Trump de dentro do Partido Republicano. Foi um dos poucos republicanos a não cessar as críticas a Trump mesmo após sua posse como presidente americano em 2017, sobretudo pela relação do presidente com seu homólogo russo Vladimir Putin. No início deste ano, McCain chegou a “desconvidar” Trump para seu funeral[3].
Contudo, um dos principais marcos de sua trajetória em Washington estava na posição de intervencionista consumado em matéria de política externa. Nas últimas duas décadas, o senador do Arizona raramente perdeu a oportunidade de pedir a escalada de um conflito internacional. Impaciente para angariar apoio a guerras em terras distantes, chegou a subir ao palco, em 2007, para cantar uma música em defesa de uma invasão americana ao Irã: “Bomb, bomb bomb Iran”[4]. Também pressionou por políticas de regime changes em mais de meia dúzia de países – na maior parte das vezes, com consequências desastrosas.
Segue uma rápida lista de países para os quais McCain pediu ações militares americanas[5]:
- Síria
Palavras de guerra: “É necessário fornecer assistência militar ao Exército Sírio Livre e a outros grupos da oposição, mas, a esta hora tardia, isso por si só não será suficiente para deter o massacre e salvar vidas inocentes. A única maneira realista de fazer isso é com o poder aéreo estrangeiro”[6].
O que ele queria: ataques aéreos, culminando na mudança do regime de Bashar al-Assad.
- Iraque (parte I)
Palavras de guerra: “Está claro para mim que, se deixarmos de agir, haverá inevitavelmente uma sucessão de ditadores, de Saddams Husseins, dos quais há em abundância em todo o mundo”[7].
O que ele queria: guerra terrestre no Kuwait.
- Iraque (parte II)
Palavras de guerra: “Líderes sempre têm escolhas, e a história ensina que escolhas difíceis– apaziguar Hitler, escolher não deter Saddam Hussein em 1990 e não agir antes contra a Al-Qaeda – trazem, muitas vezes, as mesmas circunstâncias que desejamos evitar ao adiar a ação, exigindo que reajamos em defesa da liberdade. Os líderes da América hoje têm uma escolha. Isso determinará se nosso povo vive com medo por trás de muros que já foram violados, pois nossos inimigos planejam nossa derrota no tempo que lhes demos para fazê-lo”[8].
O que ele queria: guerra terrestre, culminando em mudança do regime de Saddam Hussein.
- Afeganistão
Palavras de guerra: “Devemos fazer uma declaração imediata sobre nossa decisão de que não pretendemos mais tolerar a sanção dada a nossos inimigos por qualquer nação… Se o Talibã recusar nossa demanda, eles devem saber que serão tratados como aliados de nosso inimigo, e, portanto, são eles mesmos nossos inimigos e sofrerão muito por sua fidelidade”[9].
O que ele queria: a entrega da cabeça de Osama bin Laden pelo Talibã.
- Líbia
Palavras de guerra: “Leva tempo, como aconteceu durante o período da ocupação russa do Afeganistão, mas nós fomos capazes de fornecer-lhes algumas armas e recursos para fazer com que os russos deixassem o Afeganistão. Então, podemos fazer isso”[10].
O que ele queria: mudança de regime.
- Irã
Palavras de guerra: “Essa é a velha música dos Beach Boys, ‘Bomb Iran’? ‘Bomb, bomb bomb Iran’”[11].
O que ele queria: Ataques aéreos e suporte não especificado para grupos dissidentes.
- Kosovo
Palavras de guerra: “O melhor caminho para nós, a OTAN, o Kosovo, a Rússia e até mesmo a Sérvia é começar a combater esta guerra como se fosse uma guerra, com grandes riscos envolvidos, ao invés de um estranho interlúdio entre as iniciativas de paz. Para esse fim, devemos começar hoje a mobilizar divisões de infantaria e blindados para uma possível guerra terrestre no Kosovo”[12].
O que ele queria: guerra terrestre, culminando na expulsão dos sérvios do Kosovo.
- Bósnia
Palavras de guerra: “Se [os bósnios] estavam equipados, especialmente com mísseis TOW, algumas armaduras pesadas, alguns tanques, então acho que poderíamos prever uma situação estável”[13].
O que ele queria: ataques aéreos e assistência militar contra a Sérvia.
- Coreia do Norte
Palavras de guerra: “Eu armaria, treinaria, equiparia, tanto de dentro quanto de fora do país, forças que acabariam derrubando os governos e instalando governos livres e democraticamente eleitos”[14].
O que ele queria: mudança de regime, ajudando a oposição local ou um confronto militar direto.
- Geórgia
Palavras de guerra: “Hoje somos todos georgianos”[15].
O que ele queria: Agressão não especificada contra a Rússia após a intervenção na Geórgia em 2008.
- Rússia
Palavras de guerra: “Agora é a hora de repensar fundamentalmente nosso relacionamento com a Rússia de Putin. Precisamos lidar com a Rússia, não com a Rússia que poderíamos desejar. Não podemos permitir que a ação de hoje de Putin permaneça sem sérias repercussões… Devemos pressionar para a conclusão de todas as fases de nossos programas de defesa antimísseis na Europa e avançar rapidamente em outra rodada de expansão da OTAN”[16].
O que ele queria: uma nova Guerra Fria.
- Sudão
Palavras de guerra: “A OTAN deveria estabelecer e fazer cumprir imediatamente uma zona de exclusão aérea sobre Darfur para garantir que Cartum termine com seus voos militares e bombardeios ofensivos, como o Conselho de Segurança já exigiu. Os Estados Unidos devem intensificar esforços para persuadir os membros da ONU para enviarem tropas e fundos para a força da ONU em Darfur, e devem desenvolver planos para o apoio logístico americano”[17].
O que ele queria: tropas da ONU.
- Mali
Palavras de guerra: “Precisamos ter a assistência do Departamento de Defesa, tanto quanto possível e necessário para impedir que o Mali se deteriore ainda mais em uma situação caótica”[18].
O que ele queria: assistência militar.
- Nigéria
Palavras de guerra: “Se soubessem onde eles estavam, certamente enviaria tropas dos EUA para resgatá-los em um minuto em Nova York, sem a permissão do país anfitrião. Eu não estaria esperando por algum tipo de permissão de um cara chamado Goodluck Jonathan”[19].
O que ele queria: operações especiais contra o Boko Haram.
- China
Palavras de guerra: “A Primavera Árabe está chegando à China”[20].
O que ele queria: Totalmente obscuro.
Fontes: