De acordo com um indiciamento recente do FBI, vários supremacistas brancos americanos teriam sido radicalizados e treinados pelo grupo neonazista ucraniano Batalhão Azov, que é financiado pelo atual governo da Ucrânia [1] assim como o governo americano [2]. O grupo também recebeu armas do governo israelense [3].
O indiciamento [4], feito mês passado em Los Angeles, Califórnia, afirma que quatro membros americanos do “Rise Above Movement” (RAM) – o co-fundador do RAM Robert Rundo, assim como Robert Boman, Tyler Laube e Aaron Eason – tinham “atacado violentamente e agredido contra-protestantes” em eventos pelos EUA, incluindo a violenta manifestação “Unite the Right” [5] em Charlottesville, no ano passado.
Alega-se que os indivíduos identificados “usaram a internet para coordenar treinamento de combate em preparação para os eventos” e que celebraram “seus atos de violência para recrutar membros para eventos futuros.”
Documentos da corte se referem ao RAM como um “grupo extremista de supremacia branca” enquanto o grupo se auto-representa como “um grupo pronto para o combate e militante de um novo movimento nacionalista de supremacia/identidade branca.”
O indiciamento dá atenção especial às atividades mais recentes de Rundo, particularmente sua viagem para a Europa no início deste ano, na qual teve passagens pela Alemanha, Ucrânia e Itália “para encontrar com membros de grupos europeus de supremacia branca.” O FBI descobriu que um dos indivíduos com quem Rundo se encontrou durante esta viagem foi Olena Semenyaka, uma líder do Departamento Internacional para os Corpos Nacionais, partido político ucraniano que foi formado como uma ramificação do Batalhão Azov em 2016.
O depoimento detalhando o encontro de Rundo com Semenyaka, assinado pelo agente do FBI Scott Bierwirth, declara que “o Batalhão Azov é uma unidade paramilitar da Guarda Nacional Ucraniana que é conhecida por sua associação com ideologia neonazista e por seu uso de simbolismo nazista.” Ele então acrescenta que o Batalhão Azov “teria participado no treinamento e na radicalização de organizações de supremacia branca sediadas nos Estados Unidos,” tal como a RAM.
Em outras palavras, o governo americano suspeita que o neonazista Batalhão Azov treinou e radicalizou grupos violentos de supremacia branca sediados nos Estados Unidos. Isto é particularmente perturbador ao considerar o fato de que o governo dos EUA habilitou diretamente o crescimento e proeminência do Batalhão Azov. Agora, parece que estas ações se traduziram em consequências domésticas perturbadoras para os Estados Unidos.
Como sempre, as galinhas americanas voltam ao ninho
A habilidade do Batalhão Azov em prover treinamento a grupos de supremacia branca norte-americanos é um testamento da proeminência do grupo em círculos neonazistas e de extrema-direita. Entretanto, a proeminência do grupo é o resultado direto da política do governo dos EUA em relação à Ucrânia.
Originalmente um grupo paramilitar de nacionalistas ucranianos de direita ligados ao Partido Social-Nacional, o Batalhão Azov desde então foi incorporado no Ministério do Interior da Ucrânia como um componente da Guarda Nacional do país. Além disso, o fundador do grupo Andrey Bilitsky é atualmente um membro do parlamento ucraniano. Bilitsky uma vez disse [6] que “a missão histórica de nossa nação neste momento crítico é liderar as Raças Brancas do mundo em uma cruzada final por sua sobrevivência.”
Apesar da fusão do Batalhão Azov com o governo ucraniano, os EUA por muito tempo continuaram a apoiar o exército ucraniano com centenas de milhões de dólares em “assistência técnica, programática e de segurança”, principalmente em nome do combate “à agressão russa.”
A ajuda militar seguiu seu caminho até o Batalhão Azov repetidas vezes. De fato, a cooperação entre o exército americano e o Batalhão Azov foi relatada em várias ocasiões desde 2015, como quando um membro do Batalhão Azov contou ao Daily Beast sobre “sua experiência no batalhão com treinadores e voluntários americanos com bastante carinho, até mencionando os médicos e engenheiros americanos que ainda estão ajudando-os como voluntários atualmente.”
Quando as notícias da cooperação causaram manifestações nos EUA, a administração de Obama derrubou esforços de congressistas que tentavam impor limites ao armamento, treinamento e outras assistências conferidas ao Batalhão Azov. A assistência dos EUA ao Batalhão Azov só foi banida [7] no começo desse ano.
Entretanto, o Batalhão Azov continua a receber armamento de aliados dos EUA como Israel. Como o jornalista Max Blumenthal notou no passado, Israel tem “uma história em servir como espécie de proxy para os EUA armarem forças que estão cometendo abusos de direitos humanos, ou que são fascistas.”
Mesmo hoje, como mostra o indiciamento recente contra membros do RAM, o treinamento que os EUA forneceram ao Batalhão Azov está voltando ao ninho americano, já que o grupo neonazista está treinando e radicalizando grupos sediados nos EUA com ideologias similarmente embebidas em ódio e com crença na supremacia branca.
Esta consequência perturbadora toma uma dimensão ainda pior dado que a administração Trump cortou o financiamento [8] para esforços destinados a refrear ameaças de terror doméstico, tais como representadas por grupos supremacistas brancos, focando ao invés disso quase que exclusivamente no extremismo islâmico.
[1] https://www.rt.com/news/439192-azov-battalion-memorial-lichtdom/
[6] https://www.thedailybeast.com/is-america-training-neonazis-in-ukraine