O mundo dá mesmo voltas. O mesmo presidente que já enviou uma carta a um neonazista condenado e cujo avô lutou nas tropas de Hitler recorre à “ajuda humanitária” de Israel para buscar vítimas da tragédia de Brumadinho. Particularmente irônico é o fato de a “ajuda humanitária” ser, na realidade, mera propaganda do sionismo, já que o equipamento de Israel é completamente inútil para esse tipo de busca. Ainda assim, nesses momentos toda ajuda é bem-vinda, e ninguém culparia Bolsonaro por recorrer agora à ajuda de Israel (exceto talvez seu avô nazista e seus contatos neonazistas). O problema, portanto, está em outra parte.
A tragédia de Brumadinho tem algumas de suas causas bastante claras e óbvias. Em 29 de agosto do ano passado, o insuspeito jornal Infomoney noticiava que a “Vale foca em eficiência e redução de custos para menor endividamento e dividendos elevados.” E hoje o El Pais noticia que “Todas as barragens da Vale estão em risco e podem se romper a qualquer momento. A empresa não quer gastar o dinheiro necessário para recuperar o meio ambiente” – isso nas palavras da fonte do jornal. Como se vê, trata-se da mais cristalina lógica de maximização de lucros, que envolve redução de custos – mesmo custos com segurança.
Como um mínimo contrapeso ao poderoso interesse privado, as únicas instituições que foram capazes de tomar certas medidas (ainda que tímidas e insuficientes) contra a Vale até o momento foram o Ibama (que a multou) e a Justiça do Trabalho (que bloqueou mais de 800 milhões de reais da empresa). E de que lado esteve até aqui o presidente que se empenha em obter “ajuda humanitária” de poderosos exércitos estrangeiros? Esteve contra a “indústria de multas” do Ibama e pelo fim da Justiça do Trabalho. Para Bolsonaro, a “ajuda” militar estrangeira é bem-vinda, mas as instituições brasileiras que zelam pelo interesse público nesse momento devem ser vistas com desconfiança, senão desmanteladas. Seu projeto é a falência do Estado nacional, a destruição de nossa soberania, o Brasil como terra de ninguém. Essa é a sua noção de liberdade: a anarquia de mercado, onde o poder privado pode tudo.
Ao se posicionar pelas privatizações indiscriminadas, contra o Ibama e contra a Justiça do Trabalho, o lado de Bolsonaro é inconfundível. Que ninguém se deixe enganar pelos sobrevoos de helicóptero e exércitos estrangeiros. Bolsonaro é o domínio do interesse privado sobre o interesse público, da ganância empresarial sobre a soberania popular. Na tragédia de Brumadinho, Bolsonaro está ao lado da catástrofe e do crime.