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Cúpula EUA-Coreia do Norte: ainda nenhuma paz na Terra da Calma Manhã

O desejo de unir as duas Coreias é motivado pelo nacionalismo saudável, a permanência do conflito sino-americano e a sobrevivência econômica.
por Joseph H. Chung | Global Research – Tradução de Gabriel Deslandes para a Revista Opera
(Foto: Dan Scavino Jr. / WikiCommons)

Nos últimos dez meses, o mundo tem assistido – às vezes, com esperança, às vezes, com dúvidas e, muitas vezes, até medo – a três cúpulas intercoreanas e uma cúpula EUA-Coreia do Norte. Mas ainda não vemos a paz chegar à Terra da Calma Manhã – a Coreia do Sul.

Os Jogos Olímpicos de Inverno de 2018 em PyeongChang foram marcados pelos calorosos e apaixonados abraços entre pessoas separadas por 70 anos. As gélidas diferenças ideológicas se dissiparam. Em Pyongyang, em abril, o mundo também cantou com norte-coreanos e sul-coreanos: “A primavera da paz chegou; vamos nos encontrar, em Seul, no outono e colher a paz”. O outono se foi, e o inverno chegou. Porém, ainda não há paz! Por quê?

A resposta a essa questão reside em diferentes objetivos perseguidos por aqueles que estão diretamente envolvidos no processo de paz e são afetados por ele. De um modo geral, existem dois grupos – um defensor da paz e outro opositor da paz. O primeiro inclui o governo do presidente Moon Jae-in na Coreia do Sul e seus partidários, a Coreia do Norte e Donald Trump, enquanto o segundo é formado pelas elites conservadoras pró-japonesas sul-coreanas, os conservadores japoneses representados pelo primeiro-ministro Shinzō Abe e a oligarquia guerrista (hawkish) de Washington, constituída pela indústria de Defesa militar-inteligência-segurança.

Defensores da paz

Vamos começar pela Coreia do Norte. É verdade que não é fácil dialogar com Pyongyang, em parte, devido às suas sete décadas de isolamento, constantes ameaças militares e terríveis sanções econômicas que fizeram com que o país desconfiasse dos demais. Todavia, uma coisa é certa: Kim Jong-un quer a paz e um padrão de vida decente para oferecer aos seus 25 milhões de conterrâneos.

Muitos tendem a pensar que ele é um “ditador implacável”, tal qual teriam sido seu pai e seu avô. Mas há diferenças. Kim Jong-un foi sincero quando abandonou sua Byungjin (política de desenvolvimento paralelo entre poderio militar e crescimento econômico) e adotou a política de “economia em primeiro lugar”. Ele sabe que não pode desenvolver sua economia sem a paz, e ter paz significa terminar a relação de hostilidade com os EUA. Kim está pronto para abandonar seu arsenal nuclear em troca de um tratado de paz, fim de sanções econômicas e relações diplomáticas normais como quaisquer outros países.

De fato, a Coreia do Norte acredita que fez o bastante para demonstrar seu sincero desejo de paz. Foram destruídos cinco túneis de testes nucleares; desmantelados os principais locais de lançamento de mísseis; devolvidos os restos mortais de soldados norte-americanos mortos ou desaparecidos durante a Guerra da Coreia; houve a colaboração com Moon Jae-in para a remoção de postos de guarda e desarmamento de guardas na Zona Desmilitarizada da Coreia (ZDC); assinou-se com a Coreia do Sul a criação de amplas zonas de proteção sem exercícios militares ao longo da linha de fronteira.

Já o governo de Moon Jae-in da Coreia do Sul quer a paz por suas próprias razões. Primeiro, o povo coreano foi, nos últimos cinco mil anos, um único grupo étnico com uma cultura e uma língua. Como Moon Jae-in disse na frente de 150 mil norte-coreanos em setembro: “Estamos unidos há cinco mil anos, mas separados por 70”. Há um forte sentimento nacionalista entre a maioria dos coreanos por se tornar uma só nação, um povo e uma cultura.

Em segundo lugar, a Coreia se encontra novamente como um pequeno “camarão” que pode ser capturado e esmagado pelas grandes potências (baleias) na guerra. A atual Armadilha de Tucídides entre os EUA e a China é concebida por muitos formadores de opinião sul-coreanos como uma ameaça real à Península Coreana. A Coreia reunificada teria uma população de 80 milhões de habitantes, poderio militar superior e uma economia muito maior para poder minimizar, se não evitar, os danos colaterais de tal Armadilha de Tucídides.

Terceiro, a cooperação econômica com a Coreia do Norte poderia talvez ser a única saída para o atual desafio econômico que Moon precisa superar. Durante anos, o PIB do Sul cresceu menos de 3%; a taxa de aumento do valor das exportações vem caindo desde 2011. Em julho de 2018, o valor das exportações de navios caiu em relação ao mesmo período de 2017, em 60%, enquanto o de carros, em mais de 7%. Esses dois grupos de produtos representam mais de um terço do valor da exportação de mercadorias de Seul. Por enquanto, a exportação de semicondutores e outros produtos eletrônicos está indo razoavelmente bem, mas, no médio prazo, pode seriamente enfrentar a concorrência com os produtos chineses.

O cerne da questão é a perda da competitividade internacional das Chaebols – conglomerados das maiores empresas sul-coreanas –, combinada à impotência das pequenas e médias empresas (PME). Assim, há um grande buraco no qual a economia coreana está presa.

Esse fraco desempenho da economia coreana é largamente atribuído a décadas de política pró-Chaebol, conluio político-comercial e corrupção generalizada do establishment conservador. Entretanto, as pequenas e médias empresas – que representam 99,9% do número total de empresas que geram 85% dos postos de trabalho – não conseguiram desempenhar um papel central na economia sul-coreana. Francamente falando, o perigo da economia sul-coreana é sua estagnação de longo prazo.

A única saída é a cooperação econômica com a Coreia do Norte. A combinação da tecnologia, capital e vasta rede de comércio do Sul com mão de obra bem-educada, de baixo custo e bem disciplinada, além de 9 trilhões de dólares em recursos naturais do Norte poderia ser a melhor aposta – talvez a única – para a economia sul-coreana prosseguir crescendo.

A altamente eficaz e lucrativa cooperação Norte-Sul mostrou sua virtude por anos no Complexo Industrial de Gaesung (GIC), onde mais de 100 empresas sul-coreanas fabricavam produtos com mão de obra e capital intensivo, trabalhando com milhares de operários norte-coreanos à taxa salarial que era 1/10 da média salarial sul-coreana. Infelizmente, Park Geun-hye, agora cumprindo 33 anos de prisão, fechou o complexo há três anos – talvez para agradar Washington, embora a Casa Branca não tenha solicitado o fechamento. Agora, o governo de Moon se esforça para reabri-lo.

Em suma, o desejo da Coreia do Sul de unir dois povos coreanos é motivado pelo nacionalismo saudável, a permanência do conflito sino-americano e a sobrevivência econômica. Parece, às vezes, que Trump aparenta também ser sincero na busca pela paz na Península Coreana. Mas por que razão? Quais são seus objetivos reais?

Podemos pensar em três objetivos. Um é sua busca pela glória de ter feito algo que Obama ou George W. Bush não puderam fazer. O segundo é o uso da questão norte-coreana para sua agenda política. O terceiro objetivo é, talvez, sua estratégia de converter a Coreia do Norte na mais avançada linha de defesa contra a dominação chinesa na região.

Qual é então a importância relativa desses objetivos? É mais do que possível que sua agenda política venha primeiro, seguida pela busca da glória. Quanto ao terceiro objetivo, sendo uma raça rara de empresário, ele deve não estar interessado em construir sua política externa brincando com o Império.

Se essas suposições forem verdadeiras, então o processo de paz prosseguirá, ao menos, por mais dois anos. É bastante provável que ele dê aquilo que Kim Jong-un almeja, pelo menos, até poucos meses antes da próxima eleição presidencial. Se Trump vencer as eleições, ele poderá obter mais quatro anos de poder e, ao mesmo tempo, a glória do Prêmio Nobel.

Aqui estamos; vemos a motivação da busca da paz pelas duas Coreias e Washington de Trump. Mas a pergunta incômoda é: “Eles são bons e fortes o suficiente para vencerem o grupo anti-paz?”.

Grupos anti-paz

Os grupos anti-paz incluem a oligarquia sul-coreana conservadora da indústria de Defesa militar-inteligência-segurança, a oligarquia americana e os conservadores japoneses, liderados por Shinzo Abe. O desejo da oligarquia coreana em manter a tensão e a hostilidade na península é tão forte – se não mais – quanto o da contraparte americana. Uma coisa é certa: eles governaram a Coreia do Sul nos últimos 60 anos por meio de seis presidentes, incluindo Park Geun-hye. Desses seis presidentes, um foi perseguido por estudantes, um foi assassinado por seu diretor da CIA, enquanto os quatro restantes foram ou estão condenados à prisão por corrupção e abuso de poder.

Pode-se perguntar por que eles governam o país por tanto tempo e maximizam o interesse da oligarquia em detrimento dos interesses públicos. Esses presidentes sul-coreanos foram capazes de permanecer no poder, oprimindo brutalmente vozes de oposição em nome da segurança nacional contra ameaças do Norte. Já quanto à oligarquia de Washington, ela conseguiu aumentar o orçamento de Defesa e impulsionar a venda de equipamentos militares para Seul.

Assim, as duas oligarquias do Oceano Pacífico têm se beneficiado da tensão fabricada e estão fazendo o melhor que podem para liquidar com o processo de paz. A estratégia das oligarquias repousa sobre duas verdades fabricadas: “A Coreia do Norte é uma ameaça à Coreia do Sul e aos Estados Unidos” e, portanto, “não se pode confiar nela”. Todo o esquema de demonização da Coreia do Norte se baseia nessas duas “verdades”.

Poderia até ser verdade que a Coreia do Norte possa ameaçar Seul com suas bombas nucleares, mas a Coreia do Sul também representa uma ameaça ao Norte com sua cobertura nuclear e poder de fogo convencional superior. Para ser franco, quanto à ameaça do Norte aos EUA, é de se imaginar quantas pessoas que não caem no senso comum acreditam nisso. A Coreia do Norte tem sido consistente todos esses anos, pois conta com armas nucleares somente por razões defensivas.

Contudo, suponha que Kim Jong-un seja estúpido o suficiente para atacar o território dos EUA. O fato óbvio é que o míssil balístico intercontinental nuclear de Kim não pode passar pela rede de defesa aérea americana. Se a rede de defesa aérea não conseguir localizar e destruir os mísseis com antecedência, isso poderá representar um desperdício incrível de US$ 700 bilhões por parte da Defesa americana. Não devemos esquecer que o orçamento de Defesa da Coreia do Norte é menor que US$ 10 bilhões.

De qualquer forma, a suposição de que o Norte é uma ameaça fornece uma justificativa lógica para a desconfiança. Como a Coreia do Norte é uma ameaça e não pode ser confiável, deve ser punida. Existem três maneiras de punir a Coreia do Norte: guerra, exercícios militares e sanções.

O que as oligarquias querem é a criação do clima de tensão, perigo e medo, facilitando o domínio do regime político conservador e da venda de armas. Em virtude desses métodos de punição à Coreia do Norte, a oligarquia sul-coreana tem sido capaz de governar por 60 anos e enriquecer-se por meio de comércios de armas e o dinheiro sujo resultante dele.

Agora, chegamos à questão de adivinhar quais dos grupos pró-paz e anti-paz vencerão. O esforço conjunto do governo liberal de Moon, a necessidade norte-coreana de desenvolvimento econômico e, especialmente, o forte posicionamento de Trump podem sugerir que, cedo ou tarde, a paz estará sorrindo na Península Coreana, sanções não serão mais vistas e toda a península poderá desfrutar de uma vida tranquila e decente.

Porém, sendo realista, não devemos subestimar a força da oligarquia anti-paz, apoiada por think tanks muito bem financiados. Na Coreia do Sul, a oligarquia tem estado relativamente quieta desde que o governo liberal de Moon assumiu o poder, mas a força conservadora profundamente enraizada e bem financiada está voltando a desestabilizar o regime de Moon.

A oligarquia sul-coreana foi forçada a se recolher depois que sua líder, Park Geun-hye, foi impeachada e condenada a 33 anos de prisão. Entretanto, a oligarquia liderada por grandes corporações não está morta; pelo contrário, suspeita-se que tenha dinheiro ilimitado escondido e pode financiar campanhas anti-Moon e anti-paz.

Tal oligarquia está implantando as seguintes táticas. Primeiro, o principal partido de oposição e principal beneficiado do corrupto governo de Park Geun-hye – o Partido Coreia Liberdade – está fazendo todo o possível para desacreditar o governo de Moon.

Segundo, há grupos de elementos conservadores liderados por uma suspeita igreja cristã que está fabricando diariamente toneladas de fake news para “alertar” a população contra ameaças norte-coreanas fabricadas.

Terceiro, alguns intelectuais de direita, incluindo professores universitários, estão assustando o povo dizendo que a Coreia do Norte ainda planeja unificar a península sob a bandeira vermelha.

Quarto, é possível que a queda da economia sul-coreana se deva a cortes deliberados em investimentos por parte de algumas grandes corporações com o objetivo de responsabilizar o governo de Moon.

Em quinto lugar, os principais meios de comunicação liderados pelos três poderosos jornais tradicionais – Chosun Ilbo, JoongAng Ilbo e Dong-a Ilbo (Cho-Joong-Dong) – publicam, frequentemente sem provas, eventos e histórias concebidos para convencer as pessoas de que a Coreia do Norte não é digna de confiança.

Finalmente, os partidos de oposição, que certamente estão muito próximos da oligarquia, não escondem seu desapontamento com o gesto de paz de Trump. De fato, seu ex-líder não escondeu sua dura crítica a Trump.

O que os conservadores coreanos anti-paz estão tentando agora é recuperar o poder em dois anos ao desacreditar o governo liberal e restaurar a tensão que lhes foi benéfica. É difícil prever o resultado das táticas anti-paz da oligarquia, mas não se deve subestimar a força dos fundos anti-paz. Dinheiro fala mais alto! O dinheiro é persuasivo!

Há outra variável que parece afetar o processo de paz. A vitória dos democratas no Congresso dos EUA pode comprometer toda a dinâmica de diálogo, podendo ter efeitos duplos. Por um lado, poderia apressar o processo; Trump pode acelerar o diálogo antes que os democratas se organizem para lançar um movimento anti-Trump eficaz. A reunião de Pompeo-Kim Yong-chul está para ocorrer. Por outro lado, pode-se esperar mais dois anos até a próxima eleição presidencial antes de Trump oferecer algumas “recompensas” a Kim Jong-un.

Há outro evento relacionado à vitória dos democratas. Algumas semanas atrás, o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS) publicou uma imagem de satélite de 13 locais de testes de mísseis. Esse relatório levantou uma tempestade de controvérsia. O propósito oculto dele parece ser mostrar mais uma vez que a Coreia do Norte ainda é uma ameaça e não é confiável. Os 13 locais de teste de mísseis pareciam ativos, sugerindo que a Coreia do Norte não interrompeu seu programa de mísseis. Em outras palavras, Pyongyang traiu o acordo de Singapura e, portanto, é inútil continuar as negociações com Kim Jong-un.

Essa foi a mensagem que o relatório tentou transmitir ao público mundial. O New York Times e a CNN foram além do que o relatório pretendia realizar; esses dois veículos chegaram a dizer que Trump foi enganado por Kim Jong-un; Trump foi feito de bobo por Kim. Com base nessa informação midiática, o general Barry McCaffrey teria dito à NBC:

“No termo de sorte, a Coreia do Norte é a ameaça mais importante para a segurança nacional dos EUA. Eles têm armas nucleares, têm sistema de entrega, não vão se desnuclearizar”. (NBC: 12 de novembro de 2018)

O senador Edward Markey (Democrata), de Massachusetts, afirmou que Trump está sendo enganado por Kim Jong-un e, portanto, a segunda Cúpula Trump-Kim não deveria acontecer. (The Nation: 16 de novembro de 2018)

É bastante difícil entender tais reações emocionais, pois o que a imagem de satélite tem semeado tem pouco a ver com o acordo de Singapura. Como disse o professor Viping Narang, do MIT (The Nation: 16 de novembro de 2018), Kim Jong-un nunca se ofereceu para parar de produzir mísseis balísticos. Da mesma forma, Leon Sigal, diretor do Projeto de Segurança Cooperativa do Nordeste da Ásia, disse ao 38 North que não havia acordo que proibisse o lançamento de mísseis por Pyongyang. Existem outros especialistas que fazem observações semelhantes. Há muitos observadores da Coreia do Norte que estão intrigados com o que David E. Sager escreveu no Times (12 de novembro). Há várias coisas que tornam o relatório do CSIS questionável.

Por um lado, os 13 locais contam com mísseis de curto ou médio alcance, que não foram objeto do acordo de Singapura. Em segundo lugar, o relatório adverte que os locais foram ocultados. A Casa Azul e a Casa Branca sabem há muito tempo sobre essas áreas. Em terceiro lugar, a imagem foi tirada em março deste ano, meses antes da Cúpula de Singapura.

O que me incomoda é isso. Por que agora o relatório vem em primeiro lugar? Por que tal interpretação ofensiva do relatório por parte do Times? Tenho certeza de que o principal autor do relatório, Victor Cha, sabia que o que a imagem apresentada não consistia em uma violação do acordo de Singapura; afinal de contas, ele é um dos mais conhecidos observadores da Coreia.

O que preocupa Victor Cha parece ser a possibilidade de Trump aceitar um mau acordo. Cha disse: “A Coreia do Norte nos oferece um único local de teste e desmantela algumas outras coisas e, em troca, eles obtêm um acordo de paz” (The Nation: 16 de novembro 2018). Esta parece ser uma grave subestimação da capacidade de negociação de Trump.

Na Coreia do Sul, de onde ele veio, Cha é conhecido por ser a mais notória figura anti-Coreia do Norte e anti-paz. No entanto, para entendermos Cha, devemos conhecer a natureza de seu empregador, o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS). Esse centro é talvez um dos centros de estudos mais amplamente financiados pelo establishment. Os fundos provêm da Northrop Grumman, Lockheed Martin, Boeing, General Dynamics, Rockwell, General Atomics, Booz Allen, Hamilton, a japonesa Mitsubishi Heavy Industries, a sul-coreana Samsung Electronics e a Korea Aerospace Industries Ltd (The Nation: 16 de novembro de 2018).

Esses são os principais jogadores na produção de armas e têm uma participação importante no processo de paz na Coreia. A Coreia do Sul é, há décadas, o mercado mais lucrativo para esses grandes players. A integração global das empresas coreanas é tão completa que a cooperação militar entre a Coreia e os EUA se tornou um grande negócio.

Em 2016, o CSIS organizou uma reunião. No discurso de abertura, John Hamre, CEO do CSIS, afirmou: “Somos parceiros militares há 70 anos e agora vamos ser parceiros de negócios de uma forma muito nova” (The Nation: 16 de novembro de 2018).

Essas empresas são o núcleo da oligarquia, que não pode ganhar nada com a desnuclearização, o fim da Guerra da Coreia e a paz na Península Coreana. Pelo contrário, eles perderão bastante com o processo de paz por duas razões. Eles perderão vendendo menos equipamento militar para Seul e receberão menos dinheiro ilegal e imoral relacionado à transações de armas.

Não é necessariamente por acaso que o CSIS saiu com o relatório logo após o retorno dos democratas ao Congresso. É mais do que possível que a oligarquia e os democratas se uniram para destruir Trump e sua política para a Coreia. O relatório do CSIS, a interpretação do relatório pelo Times e várias vozes da mídia podem ser o primeiro subterfúgio contra os esforços de paz na Península Coreana. Já há vozes pessimistas sobre a desnuclearização e o tratado de paz na península; é de fato possível que a paz não venha desta vez.

Mas eu gostaria de dizer isso: Primeiro, a tensão Norte-Sul não é mais tolerável, graças aos acordos das cúpulas intercoreanas e sua implementação rápida. As oligarquias deveriam aceitar esse fato e buscar novos meios de explorar a Península Coreana; por exemplo, lucrar juntando-se ao desenvolvimento econômico do Norte.

Em segundo lugar, é tempo de os poucos ricos e poderosos pararem de tentar destruir os norte-coreanos. Eles têm sofrido o suficiente com 70 anos de ameaças, sanções, fome e desespero.

* O professor Joseph H. Chung é codiretor do Observatório do Leste da Ásia (OAE) do Centro de Estudos para Integração e Globalização (CEIM), Universidade de Quebec (UQAM). Ele é pesquisador associado ao Centro de Pesquisa sobre Globalização.

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