Essa é a segunda parte, de duas, do artigo “A Propagação Hegemônica.” Clique aqui para ler a primeira parte.
“Plantando histórias e informações questionáveis”
Enquanto alguns temas não aparecem na nossa mídia, outros são proeminentes embora não devessem ser:
“Frequentemente, os meios de comunicação de massa não informam sobre a realidade, mas sobre uma versão construída ou encenada dela. Vários estudos demonstram que os meios de comunicação de massa são predominantemente determinados pelas atividades de RP [Relações Públicas] e que as posturas de recepção passiva superam as de investigação ativa.” (BLUM, 1995, p. 16)
De fato, devido à baixa performance jornalística dos nossos meios de comunicação e à alta dependência para com algumas agências de notícias, é fácil para partes interessadas espalharem propaganda e desinformação em um formato supostamente respeitável para uma audiência mundial. O editor da DPA, Steffens, advertiu sobre esse perigo:
“O senso crítico fica mais baixo quanto mais respeitada é a agência de notícias ou o jornal. Alguém que queira introduzir uma informação questionável na imprensa mundial só precisa tentar colocá-la em uma agência razoavelmente respeitável, certamente ela aparecerá um pouco mais tarde nas outras. Às vezes, acontece de uma farsa passar de agência para agência, tornando-se cada vez mais confiável.” (STEFFENS, 1969, p. 234)
Entre os atores mais ativos em “plantar” notícias geopolíticas questionáveis estão os ministérios militares e de defesa. Em 2009, por exemplo, o chefe da agência de notícias americana AP, Tom Curley, divulgou que o Pentágono emprega mais de 27 mil especialistas em RP que trabalham na mídia circulando manipulações direcionadas, com um orçamento anual de quase 5 bilhões de dólares. Não obstante, generais de alto escalão dos EUA ameaçaram “arruinar” a AP e o Tom Curley caso os jornalistas cobrissem criticamente demais o exército dos EUA.
Apesar – ou por causa? – de tais ameaças dos militares, nossos meios de comunicação publicam, regularmente, informações duvidosas com base em “informantes” não identificados dos “círculos de defesa dos EUA”.
Ulrich Tilgner, correspondente veterano no Oriente Médio para emissoras alemãs e suíças, alertou em 2003, logo após a guerra no Iraque, sobre os atos fraudulentos dos militares e o papel desempenhado pela mídia:
“Com a ajuda da mídia, os militares determinavam a percepção do público e a utilizavam a favor de seus planos. Eles conseguiam fomentar expectativas e espalhar cenários enganosos. Nesse novo tipo de guerra, os estrategistas de RP da administração dos EUA cumprem uma função semelhante a dos pilotos de bombardeiros. Os departamentos especiais de relações públicas no Pentágono e nos serviços secretos tornaram-se combatentes na guerra da informação…. Os militares dos EUA utilizam exatamente a falta de transparência na cobertura da mídia para suas manobras de manipulação. A maneira como eles espalham informações e histórias, que são coletadas e distribuídas por jornais e emissoras, torna impossível para os leitores, ouvintes e espectadores rastrearem a fonte original. De maneira que o público falhará ao tentar identificar a verdadeira intenção dos militares.” (TILGNER, 2003, p. 132)
O que é de conhecimento das forças armadas dos EUA, não seria estranho aos serviços de inteligência dos EUA. Em uma reportagem notável da emissora britânica Canal 4, ex-funcionários da CIA e um correspondente da Reuters falaram abertamente sobre a disseminação sistemática de propaganda e desinformação na cobertura de conflitos geopolíticos:
“O ex-oficial e delator da CIA, John Stockwell, disse sobre o seu trabalho na guerra angolana: “O objetivo básico era fazer com que parecesse como uma agressão [inimiga] na Angola. Então, qualquer tipo de história que você pudesse escrever sustentando essa linha, para ser divulgada na mídia em qualquer lugar do mundo, nós fazíamos. Um terço da minha equipe nessa força-tarefa era de especialistas em RP, propagandistas, cujo trabalho era inventar histórias e encontrar maneiras de colocá-las na imprensa… Os editores da maioria dos jornais ocidentais não são muito céticos em relação às mensagens que estão de acordo com o senso comum e preconceitos… Algumas de nossas histórias circularam por semanas… [Mas] foi tudo inventado.”
Fred Bridgland relembra seu trabalho como correspondente de guerra da Reuters:
Nós baseávamos nossos informes em comunicados oficiais. Apenas anos mais tarde eu soube que a embaixada dos Estados Unidos tinha um especialista em desinformação da CIA que inventava aqueles comunicados que não tinham qualquer relação com a realidade… Honestamente, para explicar de maneira crua, não importa o que as agências publiquem, certamente chegará às redações dos jornais.
O ex-analista da CIA, David MacMichael, descreveu seu trabalho na guerra civil na Nicarágua com as seguintes palavras: ‘“eles falavam que a nossa inteligência na Nicarágua era tão boa que poderíamos até registrar quando alguém desse descarga. Mas eu tinha a sensação de que as histórias que estávamos dando à imprensa saíam diretamente de dentro do vaso’”. (HIRD, 1985 – assista a matéria completa)
Obviamente, os serviços de inteligência também possuem um grande número de contatos diretos na nossa mídia, os quais podem “vazar” informações se necessário. Porém, sem o papel central das agências de notícias globais, a sincronização mundial de propaganda hegemônica e de desinformação nunca seria tão eficiente.
Por meio do “multiplicador de propaganda”, histórias e informações suspeitas de especialistas em RP – que trabalham para governos, militares e serviços de inteligência – chegam ao público em geral praticamente sem serem checadas ou filtradas. Isto é, os jornalistas citam as agências de notícias, e as agências de notícias citam as suas fontes; embora, muitas vezes, os jornalistas tentem apontar incertezas com termos como “aparente”, “alegado” e similares para se protegerem, embora a essa altura o boato já se espalhou para o mundo e causou seu efeito.
Como o New York Times noticiou…
Além das agências de notícias globais, existe outra fonte que é frequentemente utilizada pelos meios de comunicação no mundo inteiro para cobrir conflitos geopolíticos: os principais veículos de comunicação da Inglaterra e dos EUA.
Por exemplo, veículos de comunicação como o New York Times e a BBC possuem até 100 correspondentes internacionais, além de outros funcionários no exterior. Como o correspondente no Oriente Médio, Luyendijk, destaca:
“Equipes de notícias holandesas, comigo incluso, se informavam através da seleção de notícias feitas por veículos de comunicação de qualidade como a CNN, a BBC e o New York Times. Fazíamos isso com base na suposição de que seus correspondentes entendiam o mundo árabe e possuíam uma perspectiva sobre ele. Contudo, muitos deles sequer falavam árabe, ou pelo menos não o suficiente para ter uma conversa ou para acompanhar os meios de comunicação locais. O pessoal mais importante da CNN, da BBC, do Independent, do The Guardian, do New Yorker e do NYT dependia, na maioria das vezes, de assistentes e tradutores.”
Para completar, as fontes desses veículos de comunicação geralmente não são fáceis de verificar (“círculos militares”, “funcionários anônimos do governo”, “funcionários da inteligência” etc.) e podem, portanto, também ser utilizadas para a disseminação de propaganda. Em todo caso, a orientação generalizada com base nas principais publicações norte-americanas e inglesas também leva a uma maior convergência na cobertura geopolítica dos nossos meios de comunicação.
A imagem a seguir ilustra alguns exemplos de referências na cobertura sobre a Síria pelo maior jornal diário da Suíça, Tages-Anzeiger. As matéria são todas dos primeiros dias de outubro de 2015, quando a Rússia, pela primeira vez, interveio diretamente na guerra na Síria (as fontes dos EUA/Reino Unido foram destacadas):
A narrativa desejada
Mas por que os jornalistas dos nossos meios de comunicação não tentam simplesmente investigar e informar de maneira independente das agências globais e da mídia anglo-saxônica? O correspondente do Oriente Médio, Luyendijk, descreve suas experiências:
“Você pode sugerir que eu deveria ter procurado por fontes nas quais pudesse confiar. Eu realmente tentei, mas sempre que eu queria escrever uma matéria sem utilizar as agências de notícias ou a principal mídia anglo-saxônica, não funcionava. Obviamente, como correspondente, eu poderia contar histórias muito diferentes sobre uma mesma situação. Mas a mídia só poderia apresentar uma delas e, com bastante frequência, era exatamente a história que confirmava a perspectiva predominante.”
O pesquisador Noam Chomsky descreveu esse efeito, em seu ensaio “O que faz a mídia mainstream ser mainstream” (1997), do seguinte modo:
“Se você abandonar a linha oficial, se você produzir relatos divergentes, logo sentirá isso… Há muitas maneiras de fazer você voltar à linha rapidamente. Se você não seguir as diretrizes, não manterá seu trabalho por muito tempo. Esse sistema funciona muito bem e reflete as estruturas de poder estabelecidas.”
Todavia, alguns jornalistas prestigiados continuam acreditando que ninguém pode os dizer o que escrever. Como isso faz sentido? Chomsky (1997) esclarece essa aparente contradição:
“O ponto é que eles não estariam lá se já não tivessem demonstrado que ninguém precisa dizer a eles o que escrever, pois eles já vão dizer ‘a coisa certa’. Se eles tivessem começado de baixo e tivessem seguido o tipo errado de histórias, nunca teriam chegado às posições em que agora podem ‘dizer o que quiserem’… Eles passaram por um processo de socialização.”
Em última análise, esse “processo de socialização” leva a um jornalismo que não mais investiga e relata criticamente conflitos geopolíticos (e outros temas), mas que procura consolidar a narrativa desejada por meio de editoriais, comentários e entrevistados apropriados.
Conclusão: a primeira lei do jornalismo
O ex-jornalista da AP, Herbert Altschull, chamou esse processo de Primeira Lei do Jornalismo:
“Em todos os sistemas de imprensa, os meios de comunicação são instrumentos daqueles que exercem o poder político e econômico. Jornais, periódicos, emissoras de rádio e televisão não atuam de forma independente, embora tenham a possibilidade de exercer poder independentemente.” (ALTSCHULL, [1984] 1995, p. 298)
Nesse sentido, é lógico que a nossa mídia tradicional – que é predominantemente financiada pela publicidade e chancelada pelo Estado – represente os interesses geopolíticos de uma aliança transatlântica, uma vez que tanto as corporações de publicidade quanto os próprios estados são, eles próprios, dependentes do sistema econômico e de segurança dominado pelos EUA.
Além do fato de que, ao encontro da “socialização” de Chomsky, a nossa mídia tradicional e suas principais figuras são, muitas vezes, elas próprias parte de redes da elite transatlântica. A esse respeito, algumas dessas instituições mais importantes incluem o Conselho de Relações Exteriores dos EUA (CFR), o grupo Bilderberg e a Comissão Trilateral (ver estudo aprofundado sobre essas redes).
De fato, a maioria das publicações popularmente conhecidas, basicamente, pode ser identificada como “mídia tradicional”. Isso porque, no passado, a liberdade de imprensa era bastante teórica, considerando as barreiras de entrada significativas, como licenças de transmissão, faixas de frequência, requisitos de financiamento e infra-estrutura técnica, canais de vendas limitados, dependência de publicidade e assim por diante. Foi apenas com a Internet que a Primeira Lei de Altschull foi quebrada em alguma medida.
Nos últimos anos, um jornalismo financiado por leitores e de alta qualidade emergiu, superando, em muitos casos, a mídia tradicional em termos de cobertura crítica e contextualizada. Algumas dessas publicações “alternativas” já atingem um público considerável, demonstrando que a abrangência de “massa” não precisa ser um problema para a qualidade de um veículo de comunicação.
Contudo, até o momento, a mídia tradicional tem conseguido atrair a sólida maioria de visitantes on-line. Tal fator está intimamente relacionado ao papel oculto das agências, cujas notícias de última hora formam a espinha dorsal da maioria dos portais de notícias.
Se “o poder político e econômico”, segundo a Lei de Altschull, manterá o controle sobre as notícias ou as notícias independentes mudarão a estrutura do poder político e econômico, os próximos anos irão dizer.
Estudo de caso: a cobertura da guerra na Síria
Como parte de um estudo de caso, a cobertura da guerra na Síria por nove dos principais jornais diários da Alemanha, Áustria e Suíça foi analisada em termos de (1) pluralidade de pontos de vista e (2) dependência de agências de notícias. Os seguintes jornais foram selecionados:
- Da Alemanha: Die Welt, Süddeutsche Zeitung (SZ) e Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ)
- Da Suíça: Neue Zürcher Zeitung (NZZ), Tagesanzeiger (TA) e Basler Zeitung (BaZ)
- Da Áustria: Standard, Kurier e Die Presse
O período de análise foi entre primeiro e quinze de outubro de 2015. Isto é, as duas primeiras semanas posteriores à intervenção direta da Rússia nos conflitos sírios. Toda a cobertura impressa e on-line desses jornais foi levada em conta. As edições de domingo não foram consideradas, uma vez que nem todos os jornais analisados as possuíam. Ao todo, 381 matérias dos jornais cumpriram os critérios estabelecidos.
Em uma primeira etapa, as matérias foram classificadas de acordo com suas características nos seguintes grupos:
- Agências: notícias de agências (com código)
- Mistas: reportagens simples (com nomes dos autores) baseadas completa ou parcialmente em notícias de agências
- Editoriais: textos e análises editoriais de contexto
- Artigos de opinião/comentários: artigos de opinião e comentários de convidados
- Entrevistas: entrevistas com especialistas, políticos etc.
- Investigativas: reportagens investigativas, que revelam conexões ou informações inéditas
A Tabela 1 a seguir mostra a composição das matérias dos nove jornais analisados no total. Como é possível observar, 55% das matérias foram notícias de agências; 23% foram reportagens simples baseadas em material de agências; 10% foram de artigos de opinião e comentários; 9% foram de textos e análises editoriais; 2% foram de entrevistas e 0% foi de reportagem investigativa.
Os textos diretos de agências – desde pequenas notas até reportagens detalhadas – estavam em sua maioria nos portais dos jornais diários: por um lado, a pressão por notícias nesse ambiente é maior do que na edição impressa, por outro, não há restrições de espaço. A maioria dos outros tipos de matérias foi encontrada tanto nas edições on-line quanto nas impressas, com exceção de algumas entrevistas exclusivas e editoriais encontrados apenas nas edições físicas. Todos os itens foram coletados apenas uma vez para a investigação.
A Tabela 2 a seguir mostra a mesma classificação com base em cada jornal. Durante o período de observação (duas semanas), a maioria dos jornais publicou entre 40 e 50 matérias sobre o conflito sírio (on-line e impressas). O jornal alemão Die Welt foi o que mais publicou sobre a guerra na Síria (58 matérias), enquanto o Basler Zeitung e o austríaco Kurier significativamente menos (respectivamente 29 e 33 matérias).
A depender do jornal, a proporção de notícias de agências mais baixa beira 50% das publicações (Welt, Süddeutsche, NZZ, Basler Zeitung), seguida de 60% (FAZ, Tagesanzeiger) e de 60 a 70% (Presse, Standard, Kurier). Em conjunto com as reportagens baseadas em material de agências (mistas), a proporção de notícias de agências na maioria dos jornais fica entre 70 e 80%. Esses números são consistentes em relação a estudos anteriores sobre mídia, como Blum (1995), Johnston (2011), MacGregor (2013), Paterson (2007).
Em termos de editoriais, os jornais da Suíça lideraram (entre 5 e 6), seguidos pelo Welt, Süddeutsche, Standard (4 cada) e pelo restante dos jornais (entre 1 e 3). Os editoriais e análises concentraram-se especificamente na situação e no contexto do Oriente Médio, assim como nos motivos e nos interesses de alguns atores individuais (como Rússia, Turquia e Estado Islâmico).
Além disso, a maioria dos comentários foi encontrada nos jornais alemães (7 cada), seguidos pelo Standard (5), NZZ e Tagesanzeiger (4 cada). O Basler Zeitung não publicou nenhum comentário durante o período de análise, porém publicou duas entrevistas. Outras entrevistas foram realizadas pelo Standard (3), Kurier e Die Presse (uma cada). Reportagens investigativas, no entanto, não foram encontradas em nenhum dos jornais.
Particularmente, no caso dos três jornais alemães, foi identificada uma junção jornalística peculiar entre textos de opinião e notícias. Frequentemente, as notícias apresentavam fortes expressões de opinião, embora não fossem categorizadas como comentário. O presente estudo, de qualquer forma, considerou a categorização realizada pelos jornais.
A Tabela 3 a seguir mostra a distribuição das notícias de agências por país e no total. As 211 notícias continham um total de 277 códigos de agência, já que uma mesma notícia pode ser constituída por material de mais de uma agência. No total, as notícias de agências em cada país vieram: 24% da AFP; da DPA, APA e Reuters cerca de 20% cada; 9% da SDA; 6% da AP e 11% foram desconhecidas (sem rótulo ou com o termo genérico “agências”).
Na Alemanha, a DPA, a AFP e a Reuters possuem, cada uma, cerca de um terço das notícias. Na Suíça, a SDA e a AFP estão na liderança, enquanto a APA e a Reuters lideram na Áustria.
Na verdade, a participação das agências globais AFP, AP e Reuters é, provavelmente, ainda maior, tendo em vista que (1) a suíça SDA e a austríaca APA obtêm suas notícias internacionais principalmente por meio dessas agências globais, e (2) a alemã DPA coopera estreitamente com a AP.
Também tem que ser levado em consideração que, por razões históricas, as agências globais são representadas de maneira diferente em diferentes regiões do mundo. Em eventos na Ásia, Ucrânia ou África, a participação de cada agência será diferente da dos eventos no Oriente Médio.
Na etapa seguinte, declarações substanciais foram utilizadas para avaliar a orientação: de opiniões editoriais (28), de comentários de convidados (10) e de entrevistas com especialistas (7) – totalizando 45 matérias. Como a Tabela 4 a seguir mostra, 82% dessas contribuições eram, no geral, favoráveis aos EUA/OTAN, enquanto 16% eram indistintas ou equilibradas e 2% predominantemente críticas aos EUA/OTAN.
A única contribuição predominantemente crítica em relação aos EUA/OTAN foi um editorial da austríaca Standard, de dois de outubro de 2015, intitulado: A estratégia da mudança de regime falhou. A distinção entre grupos terroristas “bons” e “maus” na Síria torna a política ocidental indigna de confiança.
A Tabela 5 a seguir mostra a orientação por jornal das contribuições editoriais, dos comentários dos convidados e dos entrevistados. Como é possível observar, Welt, Süddeutsche Zeitung, NZZ, Zürcher Tagesanzeiger e Kurier apresentaram apenas opiniões e contribuições favoráveis aos EUA/OTAN. O mesmo ocorreu com o FAZ, com exceção de uma contribuição indistinta/equilibrada. O Standard apresentou quatro opiniões favoráveis aos EUA/OTAN, três indistintas/equilibradas, além da única crítica aos EUA/OTAN mencionada.
O Die Presse foi o único dos jornais analisados que publicou opiniões e contribuições predominantemente indistintas/equilibradas. O Basler Zeitung publicou uma contribuição favorável aos EUA/OTAN e uma equilibrada. Logo após o período de análise, em dezesseis de outubro de 2015, o Basler Zeitung também publicou uma entrevista com o Presidente do Parlamento Russo, o que contaria como outra contribuição crítica aos EUA/OTAN.
Em uma análise mais aprofundada, uma pesquisa por palavras-chave como “propaganda” (e combinações derivadas) foi realizada para investigar em quais casos os próprios jornais identificaram propaganda em um dos lados do conflito geopolítico, EUA/OTAN e Rússia – o “EI/ISIS” não foi incluído. No total, foram identificados vinte casos desse tipo. A Tabela 6 mostra os resultados: 85% dos casos os jornais identificaram propaganda no lado russo do conflito; em 15% a identificação foi indistinta ou não declarada e em 0% dos casos os jornais identificaram propaganda no lado EUA/OTAN do conflito.
É importante notar que cerca de metade dos casos (9) eram do suíço NZZ, que falava sobre propaganda russa com bastante frequência (“propaganda do Kremlin”, “máquina de propaganda de Moscou”, “notícias propagandísticas”, “aparato de propaganda russa” etc.), seguido do alemão FAZ (3), Welt e Süddeutsche Zeitung (2 cada) e do jornal austríaco Kurier (1). Os outros jornais ou não mencionaram propaganda, ou apenas o fizeram em contextos indistintos (com exceção do contexto EI).
Conclusão
Neste estudo de caso, a cobertura geopolítica em nove dos principais jornais diários da Alemanha, Áustria e Suíça foi examinada em busca de diversidade e desempenho jornalísticos por meio do exemplo da guerra na Síria.
Os resultados confirmam a alta dependência da cobertura geopolítica para com agências de notícias globais (de 63 a 90%, excluindo comentários e entrevistas), assim como a ausência de pesquisa investigativa própria. Não obstante, os resultados também revelam o comentário unilateral dos eventos em favor da parte EUA/OTAN (82% positivos; 2% críticos), cujas histórias e informações não são verificadas pelos jornais a respeito de qualquer tipo de propaganda.
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