O presidentes chinês Xi Jinping e o presidente laociano Bounnhang Vorachit assinaram um plano de ação para construir uma comunidade de futuro compartilhado após a última viagem de Vorachit a Pequim, para participar do recente Fórum da Iniciativa Um Cinturão, Uma Estrada (One Belt, One Road). Essas duas nações podem parecer um par estranho para o observador ignorante, que notaria instantaneamente as óbvias assimetrias em seus tamanhos geográficos e demográficos. Porém, esses dois países compartilham realmente de relações muito próximas e fraternas entre si, que estão destinadas a se fortalecerem após a conclusão da ferrovia China-Laos até o final deste ano, fazendo com que o acordo que seus dois líderes assinaram seja o mais relevante no próximo contexto estratégico.
O projeto acima mencionado não é isolado, mas é parte da grande malha ferroviária de alta velocidade entre Kunming e Cingapura, que forma a base regional dos investimentos da Iniciativa Um Cinturão, Uma Estrada da China na Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), e a chave para o sucesso dessa “Rota da Seda Marítima” da ASEAN não é outra senão o Laos.
Apesar de pequeno, o Laos tem uma enorme importância geoestratégica, uma vez que é adjacente a todos os Estados da Sub-Região do Grande Mekong (a ASEAN continental), e é por isso que os tomadores de decisão consideram que ele é “ligado por terra”, em vez de apenas “cercado por terra”. Além disso, o país está investindo pesadamente em represas ao longo do Rio Mekong para se tornar a “bateria do Sudeste Asiático” por meio de sua exportação planejada de hidroeletricidade para toda uma região que consome muita energia.
Ambas as visões interconectadas complementam com perfeição os sistemas de integração da China por meio da Iniciativa Um Cinturão, Uma Estrada (BRI), tornando o país, assim, o parceiro perfeito para a República Popular. Além disso, o Laos é também um país governado por comunistas, como a China, o que é mais uma convergência de interesses que esses dois países compartilham. De fato, seu modelo de governo e sua pequena população tornam mais provável que o Laos consiga distribuir de maneira justa a riqueza ligada à terra, hidroeletricidade e à Nova Rota da Seda que espera ganhar no futuro próximo.
Esse é um ponto muito importante porque o Laos ainda está lutando para se recuperar da devastação da época da Guerra do Vietnã, quando os Estados Unidos lançaram no país mais bombas do que durante toda a Segunda Guerra Mundial. Trata-se de um fato infame, mas pouco conhecido, a ponto de o ex-presidente Barack Obama até pedir desculpas durante sua histórica visita de 2016 ao país.
Sem o apoio chinês, o Laos teria dificuldade em se desenvolver e trazer seu povo para o século XXI. A geografia do país é muito variada e muito difícil de atravessar em algumas regiões, embora a Rota da Seda da ASEAN mude tudo isso por causa dos inúmeros túneis e pontes que estão sendo construídos ao longo de seu trajeto, que são, por conta própria, maravilhas da engenharia que contribuirão enormemente para conectar a população do Laos ao resto da região e ao mundo em geral, especialmente por meio de seus vizinhos chineses e tailandeses.
O exemplo das relações sino-laocianas é que a cooperação ganha-ganha ainda pode prevalecer, independentemente das assimetrias de tamanho entre os Estados. A China tem interesse em desenvolver o potencial de conectividade do Laos e ajudar a atingir sua meta de se tornar o núcleo terrestre da Sub-Região do Grande Mekong, pois fornece à República Popular um acesso terrestre confiável à Tailândia, que conta com a maior economia da ASEAN continental.
O Laos, enquanto isso, se beneficia dos bilhões de dólares em projetos de infraestrutura que a China está financiando e pode transformar a Rota da Seda da ASEAN no principal corredor de desenvolvimento do país, aproveitando seu papel insubstituível para facilitar o comércio sino-tailandês.
Como resultado, tanto a China quanto o Laos podem colher os benefícios de sua cooperação bilateral, apesar das diferenças gritantes em seus tamanhos geográficos e populacionais, provando que a Iniciativa Um Cinturão, Uma Estrada é o equalizador final entre os Estados e é pioneira de um novo modelo de relações internacionais.