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O ultimato dos EUA à Huawei está saindo pela culatra

Na guerra contra a Huawei e a China, parece que os EUA esqueceram que “para cada ação há uma reação igual e oposta”.
por Andrew Korybko* | Global Research – Tradução de Gabriel Deslandes
(Foto: CGTN)

Os Estados Unidos estão pressionando seus muitos parceiros por todo o mundo para seguirem a sua liderança e banirem a Huawei de suas redes nacionais de telecomunicações, com o governo Trump reproduzindo George W. Bush no rescaldo dos ataques terroristas de 11 de setembro, sugerindo fortemente que tais países “ou estão conosco, ou estão contra nós”.

Diferentemente do passado, porém, poucos países estão se dobrando à pressão americana; provavelmente porque eles compreendem a enorme diferença entre participar de uma coalizão militar antiterrorista e de uma coalizão antichinesa.

Considerando essa observação, os serviços da Huawei são baratos e de alta qualidade, o que é exatamente o oposto do que a concorrência vem oferecendo, seja a americana ou não, e faz sentido que os países comprem tecnologia para ajudá-los a modernizar sua infraestrutura de telecomunicações, preparando-se para a revolução global do 5G.

Seja como for, os EUA não cedem em suas campanhas de pressão com tamanha facilidade, e é por isso que ameaçam interromper o compartilhamento de inteligência com os países que fecham parcerias com a Huawei, sob o falso pretexto de que isso seria o equivalente a entregar informações americanas à China.

Esse ultimato é surpreendente porque evidencia que os EUA estão dispostos a permanecerem de braços cruzados e permitirem que terroristas ataquem seus parceiros como forma de punição por tais países se recusarem a seguir as diretrizes de comércio americanas, o que não é apenas extremamente antiético, mas também contradiz de maneira contraproducente com o espírito por trás do clima imediato pós-11 de setembro no governo Bush.

Brincar com a vida das pessoas a menos que seus governos aceitem as demandas de seus “parceiros” econômicos é uma nova tática baixa de abordagem em negociações internacionais promovida pelo presidente Trump e desmente um desespero estratégico – a “Guerra ao Terror” – criado com o objetivo de fazer o necessário para que os demais países se submetam aos EUA.

Para seu crédito, a maioria dos países europeus está resistindo à chantagem de segurança dos EUA e tem avançado corajosamente em seus planos de parceria com a Huawei, paralelamente à intensificação de sua própria cooperação militar por meio da iniciativa de Cooperação Estruturada Permanente (PESCO), da qual Washington recentemente se queixou mais uma vez.

De fato, pode-se dizer que quanto mais os EUA pressionam seus parceiros europeus por meio dessa tática de negociação antiética, mais provável é que eles reajam e respondam fortalecendo sua cooperação uns com os outros.

Esta não é só uma reação cega, mas parte da nova política do bloco para se adaptar às novas condições internacionais, que foi recentemente elaborada pela chanceler alemã, Angela Merkel, quando a líder de facto da União Europeia declarou que “as velhas certezas da ordem do pós-Guerra já não se aplicam mais” e que “a Europa precisa se reposicionar em um mundo transformado”.

O bloco já estava se movendo nessa direção ante a campanha de pressão antichinesa dos EUA, mas a estratégia do presidente Trump de chantagem por segurança só vai acelerar esse processo. Além disso, parece provável que também amplie a divisão transatlântica existente em outras questões.

As táticas da guerra comercial dos EUA não estão apenas sendo aplicadas contra a China, mas também contra a União Europeia, e as conversações a respeito da Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP) da era Obama congelaram. Em resposta às políticas econômicas protecionistas dos EUA, os países da UE vislumbraram na China a nova herdeira da globalização e fortaleceram seus laços comerciais com ela, com alguns países influentes como a Itália, Estado-membro do G7, aderindo à Iniciativa Um Cinturão, Uma Estrada.

Parece, portanto, que os EUA esqueceram que “para cada ação há uma reação igual e oposta” e que a política de pressão que está impondo a seus parceiros visando afastá-los da China é obviamente um tiro pela culatra.

* Andrew Korybko é um analista político norte-americano baseado em Moscou, especializado na relação entre Guerra Híbrida, a estratégia americana na Eurafrásia e a visão global chinesa da Iniciativa Um Cinturão, Uma Estrada quanto à conectividade da Nova Rota da Seda. Ele é um colaborador frequente da Global Research.

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