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Sete razões para sermos céticos quanto ao incidente no Golfo de Omã

Se o Irã de fato atacou navios no Golfo de Omã para mandar uma mensagem aos EUA, ela foi confusa, enviada de forma estranha, num momento muito esquisito.
por Caitlin Johnstone | Strategic Culture Foundation – Tradução de André Kanasiro
(Foto: Defense.mil / Michael Zeltakalns)

Em um movimento que não surpreendeu ninguém, o Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, não perdeu tempo em culpar o Irã pelo dano feito a duas embarcações marítimas no Golfo de Omã na quinta-feira, citando um total de zero evidências.

“Esta avaliação está baseada em inteligência, nas armas usadas, no nível de perícia necessária para executar a operação, em ataques iranianos recentes e similares a embarcações, e no fato de que nenhum proxy group operando na área tem os recursos e a proficiência para agir com sofisticação de tão alto nível,” Pompeo disse à imprensa em uma declaração.

“Os Estados Unidos defenderão suas forças, interesses, e permaneceremos com nossos parceiros e aliados para salvaguardar o comércio global e a estabilidade regional. E nós convocamos a todas as nações ameaçadas pelos atos provocativos do Irã para se juntar a nós nessa empreitada,” Pompeo concluiu antes de se retirar apressadamente, respondendo um total de zero perguntas.

Aqui constam sete razões para sermos extremamente céticos quanto a tudo que Pompeo disse:

1 – Pompeo é sabidamente um mentiroso, especialmente quando o assunto é Irã

Pompeo tem uma história bastante consolidada quanto a circular mentiras descaradas sobre o Irã e o comportamento do governo iraniano, e ele recentemente disse a uma platéia na Texas A&M University que quando ele liderava a CIA, “Nós mentíamos, nós enganávamos, nós roubávamos. Nós tivemos cursos inteiros de treinamento.”

2 – O império americano é conhecido por usar mentiras e falsas bandeiras para começar guerras

A aliança de poder centralizada nos EUA tem uma história extensa e bem documentada de avançar agendas militares pré-existentes usando mentiras, falsas bandeiras e operações psicológicas para fazer com que os governos alvejados pareçam ser os agressores. Este é um padrão tão bem estabelecido que “Golfo de Tonkin” (em referência ao incidente usado como pretexto pelo governo norte-americano para iniciar ações militares contra os norte-vietnamitas em 1964) foi brevemente uma trend no Twitter após o incidente no Golfo de Omã. Qualquer agência do governo de qualquer nação nessa aliança poderia estar envolvida, incluindo os EUA, o Reino Unido, a Arábia Saudita, os EAU, ou Israel.

3 – John Bolton endossou abertamente que se minta para avançar agendas militares

Eu escrevi um artigo sobre isso mês passado porque a administração Trump já começou a escalar a narrativa rapidamente contra o Irã de formas que parecem se alinhar perfeitamente com as agendas de longa data do psicopata e falcão do Irã que é o Secretário de Segurança Nacional de Trump. Naquele momento as pessoas estavam tão cientes da possibilidade de que Bolton poderia se envolver na encenação de outra guerra no Oriente Médio baseado em mentiras que o The Onion já estava fazendo paródias.

Em um episódio de dezembro de 2010 de Freedom Watch (Vigília da Liberdade), na Fox News, Bolton e o âncora do programa, Andrew Napolitano, estavam debatendo sobre publicações recentes do WikiLeaks, e naturalmente surgiu o assunto do sigilo do governo.

“Agora eu quero argumentar a favor do sigilo no governo quando se trata da conduta de assuntos de segurança nacional, e possivelmente de enganações quando apropriado,” disse Bolton. “Sabe, Winston Churchill disse durante a Segunda Guerra Mundial que em tempos de guerra a verdade é tão importante que ela deve estar cercada por mentiras como guarda-costas.”

– “Você acredita mesmo nisso?” perguntou um Napolitano incrédulo.

– “Totalmente,” respondeu Bolton.

– “Você mentiria para preservar a verdade?”

– “Se eu tivesse que dizer algo que eu sabia ser falso para proteger a segurança nacional americana, eu o faria,” respondeu Bolton.

Este é o mesmo John Bolton que recebeu honorários exorbitantes de uma seita terrorista pró-mudança de regime, o MEK (Organização dos Mujahidin do Povo Iraniano), para falar, prometendo à seita em um discurso de 2017 que eles estariam celebrando juntos a mudança de regime em Teerã antes de 2019. Este é também o mesmo John Bolton que uma vez ameaçou assassinar os filhos de um oficial da OPAQ (Organização para a Proibição de Armas Químicas) caso ele não parasse de ficar no caminho de sua agenda pela guerra no Iraque.

4 – Usar falsas bandeiras para começar uma guerra com o Irã já é uma ideia estabelecida no lodaçal de DC

De volta a 2012, em um fórum para o think tank Washington Insitute of Near East Policy, o Diretor de Pesquisa do grupo, Patrick Clawson, falou abertamente sobre a possibilidade de usar uma falsa bandeira para provocar uma guerra contra o Irã, citando as várias formas pelas quais os EUA fizeram exatamente o mesmo com suas guerras anteriores.

“Eu francamente acho que iniciar uma crise é realmente duro, e é muito difícil para mim ver como o presidente dos Estados Unidos pode nos conseguir uma guerra com o Irã,” começou Clawson.

“O que me leva a concluir que, caso o compromisso de fato não esteja vindo, a forma tradicional de levar a América à guerra seria o melhor para os interesses dos EUA,” acrescentou Clawson. “Alguns podem achar que o Sr. Roosevelt queria nos levar para a guerra… Vocês devem recordar que tivemos que aguardar até Pearl Harbor. Alguns podem achar que o Sr. Wilson queria nos levar para a Primeira Guerra Mundial; vocês devem recordar que tivemos que aguardar o episódio com o Lusitania. Alguns podem pensar que o Sr. Johnson queria nos levar à guerra contra o Vietnã; vocês devem recordar que tivemos que aguardar o episódio no Golfo de Tonkin. Nós não fomos à guerra contra a Espanha até o que o USS Maine explodisse. E eu posso apontar que o Sr. Lincoln não sentia que poderia convocar o Exército até que o Forte Sumter fosse atacado, e por isso ordenou ao comandante do Forte Sumter que fizesse exatamente o que os sul-carolinenses disseram que causaria um ataque.”

“Então se, de fato, os iranianos não forem se comprometer, seria melhor se outro alguém começasse a guerra,” continuou Clawson. “Podem-se combinar às sanções outros meios de pressão. Eu mencionei aquela explosão dia 17 de agosto. Poderíamos incrementar a pressão. Quero dizer, olhem só, submarinos iranianos mergulham periodicamente. Qualquer dia um deles pode não subir mais. Quem ia saber por quê? [Um punhado de sociopatas ri na multidão.] Nós podemos fazer uma variedade de coisas, e se desejamos aumentar a pressão (eu não estou advogando por isso) mas estou só sugerindo que este não é um caso de uma coisa ou outra – ou só as sanções têm sucesso ou outras coisas. Nós estamos no jogo de usar meios encobertos contra os iranianos. Poderíamos ficar mais sórdidos nisso.”

5 – O Departamento de Estado dos EUA já tem executado operações psicológicas para manipular a narrativa pública sobre o Irã.

Oficiais do Departamento de Estado admitiram a funcionários do Congresso em uma reunião a portas fechadas, na segunda-feira, que um exército de trolls de $1,5 milhão tinha ido “além do escopo de seu mandato” ao difamar agressivamente críticos da administração Trump e de sua política para o Irã como “propagandistas do governo iraniano:, de acordo com uma nova notícia do The Independent. Este “mandato” tinha alegadamente consistido em “contra-atacar propagandas do Irã”, também conhecido como conduzir propaganda anti-Irã.

“Os críticos em Washington foram mais longe, dizendo que o programa lembrava o tipo de exércitos de trolls usados por regimes autocráticos no exterior,” diz o The Independent.

“Uma mulher por trás da campanha de assédio, uma ativista iraniana-americana de longa data, recebeu centenas de milhares de dólares do Departamento de Estado ao longo dos anos para promover ‘liberdade de expressão e acesso livre à informação,” lê-se na notícia.

6 – A narrativa do Golfo de Omã não faz sentido

Um dos navios danificados nos ataques era de propriedade japonesa, e o outro era destinado ao Japão. Isso aconteceu justamente enquanto o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe estava em Teerã tentando negociar uma desescalada entre os EUA e o Irã, com a bênção de Trump, e justamente após o Irã libertar um prisioneiro acusado de conduzir espionagem para os EUA no que muitos tomaram como um gesto de boa fé.

O Irã tem sido notavelmente contido frente às sanções e provocações implacáveis dos EUA e seus aliados; não faria muito sentido que ele subitamente abandonasse seus freios com ataques a embarcações marítimas, então resgatasse sua tripulação, e então negasse perpetrar os ataques, durante um momento de trocas diplomáticas e enquanto tenta preservar o tratado nuclear com a Europa. Se Teerã de fato perpetrou os ataques para mandar uma forte mensagem aos americanos, teria sido uma mensagem muito confusa enviada de uma forma muito estranha num momento muito esquisito.

7 – Mesmo que o Irã tivesse de fato perpetrado o ataque, Pompeo ainda estaria mentindo

A declaração de Pompeo usa as palavras “sem provocação” duas vezes e “atos provocativos do Irã” uma vez, alegando explicitamente que o império americano estava só cuidando da sua própria vida e deixando o Irã em paz quando foi atacado do nada por um agressor violento. Às vezes as ideias expostas pelo Departamento de Estado americano passam a sensação de que estão conduzindo experimentos com a gente só para testar os limites de nossa estupidez.

Como notado nesse artigo pelo Moon of Alabama e nessa discussão no Ron Paul Liberty Report, os EUA têm provocado o Irã com sanções extremamente agressivas e que se apertam constantemente, o que significa que mesmo que Teerã estivesse por trás dos ataques, ele não seria o agressor e os ataques certamente não teriam sido “sem provocação”. Sanções econômicas são um ato de guerra; se a China fizesse à economia americana o que os EUA está fazendo à do Irã, os EUA estariam imediatamente em uma guerra de verdade com a China. Seria tecnicamente possível que o Irã estivesse revidando as agressões e provocações americanas, embora em moldes estranhos e convenientes aos neoconservadores.

De qualquer forma vimos zero evidências apoiando as alegações de Pompeo, então qualquer um que você encontrar se apressando em culpar o Irã pelo incidente no Golfo de Omã é ou uma concubina da guerra ou um idiota espumante – ou os dois. Sabendo o que sabemos sobre o império centralizado dos EUA e sua agenda pré-existente de mudança de regime contra o Irã, não há razões para acreditar em Pompeo, e muitas razões para não fazê-lo.

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