Em meio a enormes sacrifícios, a China está controlando o coronavírus – o número de novos casos diários foi reduzido do pico de 3.887 em 5 de fevereiro para 11 em 13 de março (sete deles importados de fora da China), um declínio de 98,2%. Ao fazê-lo, as autoridades chinesas prestaram um serviço enorme não só ao povo chinês, mas também propiciaram uma oportunidade crucial para o resto do mundo inteiro se preparar.
Para ser preciso, com sua luta obstinada contra o vírus, a China alertou por quase dois meses ao resto do mundo antes que o coronavírus começasse a se espalhar significativamente por aqui. Porém, a terrível verdade é que, enquanto a China foi enormemente beneficiada por sua ação coordenada contra o vírus, os fatos demonstram que o Ocidente deixou passar por completo esse precioso tempo.
Como o gigantesco efeito econômico do coronavírus não pode ser separado do seu impacto médico, é necessário estudar os dois juntos. Isso se deve ao fato de o coronavírus ser um choque econômico simultaneamente do lado da oferta e da demanda. O choque do lado da oferta é que o risco à saúde significa que a força de trabalho não pode produzir normalmente, provocando enormes quedas na produção. O efeito colateral da demanda é que um número significativo de serviços e bens, caso não forem consumidos no curto prazo, não será comprado, principalmente no setor de serviços. As quedas no Índice de Gerentes de Compras Industrial (PMI) da China para 35,7 em fevereiro e no PMI Não-Industrial para 29,6 refletiram esse impacto.
Os fatos mostram claramente que a disseminação do vírus no Ocidente já está atingindo níveis muito mais altos do que o pior momento da crise na China. Como será demonstrado, nada menos que um desastre está ocorrendo na Europa. Até agora, a situação nos EUA segue a Europa com um atraso de cerca de 10 dias.
O fato de a intensidade da crise do coronavírus na Europa já ser mais grave do que em seu pior período na China é ocultado por comparações enganosas entre os números absolutos de casos europeus e chineses. Contudo, por exemplo, a população da China é 17 vezes maior que a da Alemanha ou 23 vezes maior que a da Itália. Para medir de modo realista o impacto relativo da crise de coronavírus na Europa em comparação com a China, é necessário medir a propagação do vírus em proporção à população.
O dia de pico de novas infecções na China foi 5 de fevereiro – 3.887 casos. Todavia, de acordo com os relatórios diários da Organização Mundial da Saúde, até o momento em que escrevo este artigo, o dia de pico na França (780 em 13 de março) equivaleria a mais de 16 mil casos em proporção à população chinesa; o pico na Espanha (1.266 novos casos em 13 de março) equivaleria a mais de 38 mil casos na China; o pico na Itália (2.651 casos em 12 de março) equivaleria a mais de 60 mil casos na China.
Os governos ocidentais dizem abertamente às suas populações que é apenas uma questão de tempo até que o número de mortes se torne muito alto. O primeiro-ministro britânico Boris Johnson anunciou: “Muitas outras famílias perderão seus entes queridos prematuramente”. O número de mortos acumulado na Itália (1.400 em 14 de março) seria equivalente a cerca de 33 mil em um país com a população da China!
Todos esses dados evidenciam que a situação da Europa já é muito mais grave do que no pior período da China. Em resumo, os governos europeus fracassaram totalmente em aproveitar o tempo que tinham para se preparar para a chegada do vírus.
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O enorme impacto econômico do vírus no Ocidente decorre desse desastre médico. Os dados sobre tal impacto ainda não estão disponíveis. Porém, as economias ocidentais já estavam fracas quando o coronavírus chegou. O pico dos atuais ciclos de negócios nos EUA e na União Europeia ocorreu no segundo trimestre de 2018. Desde então, até o quarto trimestre de 2018, o crescimento do PIB nos EUA caiu de 3,2% para 2,3% e o da UE de 2,5% para 1,2%. Sem um golpe de sorte extraordinário, o vírus que contaminou as decadentes economias ocidentais as levará à recessão.
Como as empresas ocidentais já haviam acumulado dívidas muito grandes, qualquer desaceleração da receita – gerando dificuldades para o pagamento dessas dívidas – acarreta o risco de transmissão de crises nos mercados de crédito, entre outros.
Isso explica o impacto literalmente sem precedentes nos mercados de ações ocidentais. A queda de 20% nos preços das ações americanas em um mercado já em baixa levou apenas 16 dias – ainda mais rápida do que em 1929.
Por que, enquanto a China segue mantendo o vírus sob controle, houve um fracasso tão catastrófico no Ocidente? Em grande medida, o motivo é que, em vez de aprender com as lições positivas da capacidade da China de controlar o vírus, a mídia ocidental e o governo dos EUA se engajaram na propaganda antichinesa. A verdade amarga é que a campanha anti-China, até certo ponto, contribuiu para o Ocidente negligenciar a crise iminente, e agora eles se veem enfrentando um desastre médico, humano e econômico.