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Problemas que podem levar ao ressurgimento do Daesh no Iraque

A pandemia da COVID-19, a ausência de um governo estável, os baixos preços do petróleo são fatores para a fragilidade da segurança no Iraque.
por Hayder Al-Khafaji | 1001IraqiThoughts – Tradução de Ciro Moreira para Revista Opera
(Foto: U.S. Army / Sgt. Jason Hull)

O comando das Forças de Mobilização Popular (FMP) anunciou no dia 4 de maio que dez de seus soldados foram mortos em ataques do Daesh [Estado Islâmico, ISIS] ao sul de Tikrit. Apesar do FMP ter conseguido eliminar outros ataques em várias partes dos subúrbios de Samarra, os ataques terroristas vieram de cinco direções diferentes: Balad, Mukaishifiya, Al-Dour, Tal Al-Dahab e no sul de Tikrit, todos dentro da área de operações Salahuddin.

O ressurgimento do Daesh segue uma série de eventos significativos no Iraque, incluindo a retirada das tropas da coalizão de três de oito bases militares iraquianas: Qaim, Qayyarah e Kirkuk. A pandemia da COVID-19, a ausência de um governo estável, os baixos preços do petróleo e seu impacto na situação econômica, todos são fatores que contribuíram para a fragilidade da segurança no Iraque, especialmente na região noroeste. O Daesh recentemente realizou 151 ataques terroristas, indicando o crescimento das capacidades do grupo terrorista e o apoio doméstico e externo que recebe.

Questões importante para se ter em mente são: quais são fatores por trás do ressurgimento do Daesh, qual sua plataforma e seu objetivo? Para responder essas perguntas, nós devemos considerar uma série de problemas distintos.

O primeiro problema é o que Daesh está explorando a pandemia e os conflitos políticos para expandir suas operações no Iraque, permitindo a concretização de seus planos de ocupar várias cidades iraquianas e estender sua base de poder e esfera de influência. Também ocorreram atrasos desordenados dos serviços de inteligência e segurança iraquianos em suprir informação confiável sobre os movimentos do Daesh e em restringir suas operações em diversas províncias, como Salahuddin, Kirkuk e Anbar. Esses fracassos foram potencializados pelas várias crises internas, bem como pelas fraquezas dos governo federal no seu combate à pandemia de COVID-19 e o colapso das receitas do petróleo. Agora, o Daesh está se reorganizando e tentando se reerguer das suas derrotas no Iraque através de operações dramáticas para criar uma atmosfera de medo e insegurança, em conjunto com a divulgação de fake news para exagerar a extensão de sua presença e influência na região.

O segundo problema é relacionado às potenciais preocupações e apreensões de certos países na região quanto as políticas e a agenda do novo Primeiro Ministro, Mustafa Al-Kadhimi. Se seu governo fracassar em priorizar as demandas e interesses desses países regionais no seu programa, ele sofrerá retaliações na forma de não cooperação regional, bem como sabotagem na política e na segurança. Como evidência disso, a maior parte dos terroristas do Daesh que participaram nos ataques recentes entraram no Iraque através da Síria.

A suposição subjacente do segundo problema concerne às preocupações de segurança de alguns dos vizinhos do Iraque e outros países na região, que os levaram a providenciar apoio logístico e outras formas de auxílio ao Daesh devido aos recentes ataques no Iraque. Esses eventos, não surpreendentes, aconteceram após diversas vozes nos últimos meses clamando pela retirada das tropas norte-americanas no Iraque. Apesar da decisão do parlamento iraquiano demandando a retirada de tropas norte-americanas e outras forças externas do país, Washington continua a insistir que suas forças permaneçam no Iraque. Além disso, os EUA estão investindo em várias táticas militares e está se esforçando para aumentar suas operações com o governo iraquiano.

Outro problema que provavelmente teve um impacto foi a demissão do Tenente-General Abdul-Wahab Al-Sa’adi, comandante do Serviço Anti-Terrorismo; uma decisão que foi feita durante o governo do ex-Primeiro Ministro, Adil Abd Al-Mahdi, que foi errônea e também refletiu uma série de decisões militares e administrativas incoerentes no momento que a guerra contra o Daesh ainda estava ocorrendo. Al-Sa’aadi comandou as forças que lutaram as batalhas mais difíceis contra o Daesh, de Anbar até Salahuddin, Mosul e Kirkuk. A marginalização de um dos símbolos mais fortes na vitória contra o inimigo, particularmente Al-Sa’adi, foi um desastre que levantou a moral do inimigo e danificou a confiança do povo nas decisões do Comandante-em-Chefe anterior.

No final, de acordo com a informação disponibilizada pelos experts de segurança e baseada na situação atual, todo problema pode ser analisado e compreendido que as recentes operações do Daesh no Iraque foram perfeitamente executadas e cronometradas para tirar vantagem do frágil estado do governo iraquiano. Portanto, intensificar o trabalho do governo, a construção de um consenso nacional e a produção de confiança através da vigilância, tanto do governo iraquiano como do povo são de longe as medidas mais importantes para impedir outra interferência externa e encerrar as atividades de grupos terroristas no Iraque.

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