Muitas historietas já foram contadas sobre Cuba. Uma muito popular na ilha, e pessoalmente minha favorita, foi lançada em 1961, durante a campanha nacional de alfabetização, e dizia que os educadores voluntários, que se deslocavam para cada rincão da ilha, eram na verdade guerrilheiros ansiosos por roubar crianças camponesas para fazer salame e outros embutidos delas na União Soviética.
A mentira fora espalhada no campo por rádios norte-americanas, e tinha como objetivo boicotar a campanha. Era uma espécie de atualização do que ocorrera em 1870 na França, durante a Comuna de Paris, quando o conservador Louis Adolphe Thiers enviou balões com panfletos às zonas rurais francesas dizendo que os comunistas queriam roubar a família e propriedade dos camponeses. Ou das histórias sobre sopas feitas de crianças na União Soviética. Os reacionários não parecem ser muito criativos.
Durante a última edição do programa Roda Viva (17), da TV Cultura, no entanto, o apresentador Marcelo Tas foi inovador. Segundo a pergunta bastante séria que fez ao humorista Marcelo Adnet, convidado do programa, em Cuba não há humoristas.
Na internet, foi Tas quem virou piada. Alguns apontam que uma reportagem feita na década de 80 por ele, sob o manto do personagem Ernesto Varela, era a prova de que em Cuba havia humoristas. Outros, mais amargos, dizem que o argumento serve ao propósito contrário: a presença de Tas na ilha provaria que lá não há ou nem nunca houve humor.
Como não sou tão ranzinza, apresento um personagem cubano contemporâneo. Trata-se de El Asere Ilustrado (algo como ‘O Amigo Sapiente’), um programa do escritor, poeta, repentista e professor Alexis Díaz-Pimienta televisionado pela CubaInformación TV. Em cada episódio, El Alsere, o personagem, recebe no seu celular uma notificação do Google Notícias sobre Cuba enquanto joga partidas de dominó com seus colegas. Frustrado com as invenções, o Asere começa a versar décimas sobre o tema. Recomendo especialmente o primeiro episódio, sobre liberdade de expressão em Cuba, o terceiro, sobre a proibição do skate como uma prática contra-revolucionária, e o quinto, sobre turismo sexual.
Quem sabe as histórias de Marcelo Tas não caem no telefone do Asere, para ouvirmos alguns versos sobre o humor na ilha?