Donald Rumsfeld, um dos principais arquitetos das guerras criminosas no Afeganistão e no Iraque, morreu em 30 de junho. Rumsfeld era mais conhecido por seus mandatos como Secretário de “Defesa” dos Estados Unidos, de 1975 a 1977 e novamente, de 2001 a 2006.
Como é prática padrão para quase todos os altos funcionários do governo estadunidense quando falecem, a mídia corporativa, embora tenha tecido críticas moderadas, tratou Rumsfeld como uma pessoa honrada de forma geral. Ele não era. Na realidade, foi um assassino em massa, um co-conspirador na morte de centenas de milhares de pessoas que nunca ameaçaram ou poderiam ameaçar os Estados Unidos.
Rumsfeld, junto com o presidente George W. Bush, o vice-presidente Richard Cheney (um protegido de Rumsfeld), Paul Wolfowitz, e a conselheira de Segurança Nacional e secretária de Estado, Condoleezza Rice, entre outros, constituíram o núcleo de uma gangue neoconservadora determinada a reordenar o mundo à sua distorcida imagem e semelhança. Eles falharam, mas a custo de milhões de vidas, vasta destruição e trilhões de dólares em recursos desperdiçados.
Em sua segunda passagem pelo Pentágono, Rumsfeld supervisionou a invasão do Afeganistão em 2001, o bombardeio aéreo massivo de “choque e pavor” de 2003 e a ocupação do Iraque, e a institucionalização da tortura em prisões infames como Abu Ghraib no Iraque, a base militar de Bagram no Afeganistão, a Baía de Guantánamo em Cuba e muitas outras masmorras menos conhecidas. Ele brincava sobre os casos de tortura e exigiu saber por que prisioneiros colocados em posições de estresse prolongado – que causam uma dor terrível – eram mantidos nessas posições por apenas quatro horas seguidas.
Um relatório do Senado estadunidense declarou em 2009 que “o abuso de detidos em Abu Ghraib no final de 2003 não foi simplesmente o resultado de alguns soldados agindo por conta própria […]. Técnicas de interrogatório, como tirar as roupas dos detidos, colocá-los em posições de estresse e usar cães para intimidá-los apareceram no Iraque somente depois de terem sido aprovados para uso no Afeganistão e em [Guantánamo]. […] A autorização de Rumsfeld para técnicas de interrogatório agressivas [ênfase do autor] e as subsequentes políticas e planos de interrogatório aprovados por oficiais superiores, militares e civis, transmitiram a mensagem de que pressões físicas e degradação eram o tratamento adequado para detidos sob custódia militar dos EUA.”
Desde o dia em que assumiram o governo em 2001, a conquista do Iraque estava no topo da agenda de Rumsfeld e seus colegas. A reação imediata de Rumsfeld aos ataques de 11 de setembro em Nova York e Washington foi vê-los como uma possível oportunidade para invadir o Iraque, embora não houvesse nenhuma evidência de que o país fosse a fonte dos ataques.
De acordo com as notas de um assessor, Rumsfeld disse que precisava “das melhores informações, rápido. Julgue se são boas o suficiente para envolver S.H. [Saddam Hussein] ao mesmo tempo. Não apenas UBL [Osama bin Laden].” Mais tarde, no mesmo dia, ele defendeu: “Vá com tudo. Varra tudo. Coisas relacionadas [aos ataques de 11 de setembro] ou não”.
Claramente, Rumsfeld esperava que o público dos EUA, chocado após os atentados, permitisse a realização de ataques ao Iraque e talvez a outros “inimigos” além do Afeganistão.
Na realidade, a Al-Qaeda, que reivindicou a autoria dos ataques, e o governo secular no Iraque eram inimigos ferrenhos. Esse fato inegável não impediu Rumsfeld, Cheney e outros de continuarem a tentar fazer uma falsa ligação entre os dois, indo até a invasão do Iraque em março de 2003. Na preparação para a guerra, eles promoveram implacavelmente a “inteligência” fabricada de que o Iraque tinha “armas de destruição em massa”, incluindo armas nucleares.
Após a queda de Bagdá em 9 de abril de 2003, Rumsfeld disse que a remoção de Saddam Hussein “criou um mundo mais estável e seguro”. Ele também proclamou: “Não posso dizer se o uso da força no Iraque hoje vai durar cinco dias, cinco semanas ou cinco meses, mas não vai durar mais do que isso.”
Vinte e oito meses depois, conforme a resistência iraquiana à ocupação ganhava impulso, Rumsfeld negou que os EUA e as forças aliadas estivessem se afundando em um atoleiro. “Eu não faço atoleiros”, disse ele. A essa altura, a opinião pública estava se voltando dramaticamente tanto contra a guerra, quanto contra Rumsfeld e os outros criadores dela. Após a eleição de meio de mandato em 2006, Bush demitiu Rumsfeld na tentativa de desarmar os grupos que se opunham à guerra.
As forças dos EUA, embora muito reduzidas em número, ainda estão no Iraque até hoje, desafiando a vontade do povo e do governo iraquianos.
Apesar de desempenhar um papel fundamental nas guerras catastróficas no Afeganistão e no Iraque, Rumsfeld nunca emitiu um pedido de desculpas ao povo desses países ou às famílias de milhares de soldados norte-americanos mortos, ou às dezenas de milhares de feridos em suas guerras baseadas em falsos pretextos.
Em 2004, Rumsfeld enviou as forças dos EUA, junto com as da França e do Canadá, para derrubar o governo eleito de Jean Bertrand Aristide no Haiti e ocupar o país, que permanece ocupado até o presente.
Ele participou do golpe orquestrado pelos EUA contra o governo da Venezuela, liderado por Hugo Chávez, em abril de 2002. O golpe foi repelido pela mobilização em massa do povo venezuelano e das forças revolucionárias dentro do exército local. Rumsfeld era um inimigo jurado de Cuba, da Coreia do Norte, do povo palestino, e de todos os movimentos progressistas e de libertação nacional do mundo.
Embora Rumsfeld seja mais conhecido pelo seu papel nas guerras e intervenções, ele também era um inimigo da classe trabalhadora estadunidense. Nomeado por Nixon para ser diretor do novo Escritório de Oportunidades Econômicas em 1969, ele imediatamente agiu para reduzir os benefícios de saúde pública recentemente promulgados, o Programa de Assistência à Nutrição Suplementar (vale-refeição) e outros programas que atendiam às necessidades de pessoas de baixa renda.
Como tantos outros funcionários de alto escalão norte-americanos, Rumsfeld aproveitou ao máximo a porta giratória entre o governo e as empresas privadas, acumulando uma fortuna na casa das centenas de milhões. Ao contrário de muitas de suas vítimas, ele viveu sua vida no luxo e, infelizmente, nunca foi levado à justiça. Mas a história irá se lembrar dele pelo criminoso que foi.