Foi bastante frustrante ler um perfil recente de Noam Scheiber, no The New York Times, sobre Jaz Brisack, a jovem responsável por liderar a primeira campanha sindical bem-sucedida em uma loja da rede de cafés Starbucks. Brisack parece ser de fato uma pessoa impressionante, e é bom vê-la recebendo a atenção que seus esforços merecem. No entanto, Scheiber arruina seu perfil ao repetidamente escrever aos leitores que os neoliberais, que dominaram o debate político nas últimas décadas, querem o livre mercado. Nada poderia estar mais distante da verdade.
Vou começar a discussão pelo apoio deles à propriedade intelectual. Os monopólios de patentes e direitos autorais concedidos pelo governo dos EUA transferem várias centenas de bilhões de dólares anualmente de todos nós para os 10% mais ricos, especialmente para os 1% mais ricos. Bill Gates ainda estaria trabalhando por um salário todo mês se o governo não tivesse ameaçado prender qualquer um que fizesse cópias dos softwares da Microsoft sem a sua permissão.
Temos também a questão do “livre comércio”. Os neoliberais tornaram uma prioridade máxima facilitar tanto quanto possível a importação aos EUA de produtos manufaturados baratos de países em desenvolvimento. Isso custa milhões de empregos industriais internamente, e pressiona para baixo os salários de trabalhadores sem formação superior em geral.
Em contraste, se você defender a remoção de barreiras que dificultam que médicos estrangeiros atuem nos Estados Unidos, a maior parte dos neoliberais se tornarão magicamente estúpidos, como se não soubessem o que “livre comércio” significa. Os neoliberais alegremente apoiam a redução de barreiras de comércio que protegem os salários dos trabalhadores menos escolarizados, mas quando se tratam das barreiras que sustentam o pagamento de pessoas como eles, eles se tornam os maiores protecionistas.
O setor financeiro é outro exemplo. Quando as pessoas compram roupas e comida, na maior parte dos lugares, elas pagam impostos. Mas isso não se aplica quando se trata de compra de ativos financeiros. Suponhamos que nós acabássemos com o tratamento especial dispensado ao setor financeiro, impondo uma taxa bastante modesta de 0,1% sobre a venda de ações e outros ativos financeiros. Isso reduziria radicalmente os ganhos dos ricos de Wall Street, ao mesmo tempo que teria um impacto mínimo na capacidade do setor financeiro de realizar seus propósitos produtivos.
Também não é muito compatível com o “livre mercado” conceder ao Facebook e a outros gigantes de mídias sociais proteção contra processos de difamação que os meios de comunicação impressos e de televisão não desfrutam. Mark Zuckerberg e outros membros do Facebook seriam muito mais pobres sem essa proteção, mas nós nos aproximaríamos do “livre mercado” ao extingui-la.
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Eu poderia prosseguir com muitos exemplos (veja outros em meu livro, Rigged) mas o ponto já está claro. Os neoliberais não têm problema algum com todo tipo de intervenção governamental que redistribua os rendimentos para cima. Eles só se enfurecem quando os governos intervêm de forma a redistribuir daqueles que estão no topo para o resto de nós.
É compreensível que eles queiram parecer grandes defensores do livre mercado. Afinal, soa muito melhor dizer que você favorece o livre mercado do que dizer que você é a favor de redistribuir as riquezas dos pobres e da classe trabalhadora para os ricos e milionários.
Mas a autodescrição dos neoliberais não é precisa, e pessoas como Scheiber não deveriam estar repetindo-na. Os neoliberais precisam ser expostos pelo quê realmente são.