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Como Cuba me tratou da COVID

Apesar de bloqueio contra Cuba incluir equipamentos médicos e até remédios, ilha demonstrou-se mais capaz no combate à Covid-19 que países como Estados Unidos.
Apesar de bloqueio contra Cuba incluir equipamentos médicos e até remédios, ilha demonstrou-se mais capaz no combate à Covid-19 que países como Estados Unidos. Por Cecilia Paz | Liberation – Tradução de Pedro Marin para a Revista Opera
(Foto: Liberation)

No final de julho, fui para Cuba, junto de uma delegação de ativistas contra o bloqueio que viajou à ilha para entregar remédios. Três dias depois de chegar, testei positivo para COVID-19. Durante meus sete dias em quarentena, tive a experiência de ver em primeira mão um sistema de saúde profundamente empático e seu protocolo completo para a COVID-19.

Eu obtive meus resultados positivos do teste enquanto estava em Villa Clara, uma província a cerca de três horas de Havana. Nos Estados Unidos, os pacientes com COVID precisam procurar testes por conta própria, lidar com seguros e contas caras e conseguir seu próprio meio de transporte para as unidades de saúde. Em Cuba, poucas horas depois de ter o resultado positivo para o teste rápido, fui visitada por um médico que me fez um teste PCR, verificou meus sintomas e fez um relatório detalhado do meu trajeto desde minha chegada, com o fim de fazer o rastreamento dos meus contatos.

O cuidado médico gratuito e de qualidade é garantido a todos os cidadãos cubanos, e mesmo a estrangeiras como eu. Em comparação, nos Estados Unidos, consultar um médico é caro e testes são difíceis de obter. Onde moro, em Nova Orleans, os testes PCR estão disponíveis quase exclusivamente em farmácias drive thru. Depois de ser exposta ao vírus nos EUA em fevereiro passado, eu tive de caminhar por 30 minutos para encontrar o teste mais perto de mim – e tive-o recusado porque estava a pé.

Nos cinco dias seguintes ao teste positivo, fui visitada diariamente por médicos que checavam meus sinais vitais, me faziam perguntas sobre os sintomas e checavam se precisava de algo. Meu caso foi leve, mas para alguém que lide com sintomas ou complicações mais graves de COVID, esse cuidado completo e persistente pode fazer a diferença entre a vida e a morte. De fato, a taxa de mortalidade de Cuba para casos positivos de COVID é de 0,77%, significativamente inferior aos 1,1% nos Estados Unidos – isso significa que alguém que contraia COVID nos Estados Unidos tem cerca de 40% mais chances de morrer do que alguém que contrai a doença em Cuba.

Embora meu espanhol fosse falho, médicos, enfermeiros e funcionários do Instituto Cubano de Amizade com os Povos (ICAP) fizeram todo o possível para se comunicar comigo de forma efetiva. Apesar das dificuldades que o país enfrenta por causa do bloqueio, me foram oferecidas três refeições caseiras deliciosas todos os dias, bem como chá e garrafas de água. Diversos trabalhadores do ICAP me visitaram durante esse período, usando equipamentos de proteção e mantendo o distanciamento. Eu estava com medo de passar o isolamento em um lugar desconhecido, mas essas visitas sempre compunham as melhores partes do meu dia.

Ter um atendimento médico de qualidade não me impediu de me sentir isolada e ansiosa, mas todos que me atenderam também levaram em consideração minha saúde mental e fizeram de tudo para me animar. Certa manhã, quando eu estava deprimida, os funcionários do ICAP me convidaram para sentar distanciada deles e conversar tomando um café. Eles se revezaram compartilhando histórias de suas experiências com o COVID e me contaram sobre suas vidas, e logo minha ansiedade foi substituída pelo sentimento caloroso e alegre da comunidade.

O sistema de saúde socialista salva vidas

O sistema de saúde de Cuba é capaz de proteger seus cidadãos de forma mais efetiva que o sistema de saúde capitalista dos Estados Unidos, voltado ao lucro, resultando em taxas de mortalidade infantil mais baixas e uma maior expectativa de vida geral. Desde a revolução de 1959, Cuba deu grandes passos na melhoria do bem-estar de sua população por meio de investimentos estatais maciços em assistência médica e pesquisa biomédica. Enquanto nos Estados Unidos mais de 31 milhões de pessoas não têm acesso ao atendimento à saúde e um em cada dez adultos tem dívidas médicas, em Cuba o acesso à saúde é garantido como um direito humano. Cuba tem a maior proporção de médicos em relação à população do mundo, e envia seus médicos a vários países do globo que os necessitam. O atendimento médico nos Estados Unidos é dominado por corporações médicas e companhias de seguro que cobram preços exorbitantes na busca do lucro, enquanto o atendimento à saúde socializado de Cuba é administrado pelo governo, com o objetivo de promover a saúde pública.

Cuba tem um sistema de saúde comunitário de três níveis, que cultiva a confiança entre os cidadãos e os provedores de saúde, enquanto a presença direta nos bairros permite a prevenção e detecção precoce de doenças. O cuidado primário é realizado por médicos da família, que acompanham a população por meio de cuidados preventivos e serviços básicos nos próprios bairros em que vivem. Cada residente de cada bairro é visitado por um médico em sua casa, sem custos. Os médicos da família podem então encaminhar pacientes com doenças mais sérias para hospitais administrados a nível provincial ou para hospitais federais.

Essas conquistas foram alcançadas apesar do bloqueio sufocante que o governo dos EUA impõe a Cuba há mais de 60 anos. Não só entidades nos Estados Unidos estão proibidas de comercializar com Cuba, como qualquer empresa no mundo que faça negócios com Cuba está banida da economia estadunidense – com somente algumas poucas exceções. O peso do mercado dos EUA – 200 vezes maior do que o de Cuba –, bem como o domínio de Wall Street sobre a maioria das instituições financeiras do mundo, são assim usados em um esforço cruel para causar sofrimentos insuportáveis para toda a população cubana.

O bloqueio também se aplica a muitos tipos de remédios, e o governo estadunidense negou até mesmo um alívio temporário das sanções durante a pandemia. Quando o vírus chegou, Cuba teve uma dificuldade imensa em conseguir até mesmo oxigênio para tratar os pacientes com Covid. É necessário que essa política cruel acabe.

A batalha de Cuba contra a pandemia

Pela economia cubana e seu sistema de saúde serem centralmente planificados, o governo foi capaz de mobilizar recursos rapidamente para atender às demandas do povo durante a pandemia, mesmo enquanto lutava para ter acesso a testes e equipamentos de proteção individual. Nos Estados Unidos, o governo está à mercê dos lucros das empresas, e as medidas políticas se concentraram em levar as pessoas de volta ao trabalho, em vez de mantê-las saudáveis. Como consequência, os Estados Unidos tiveram de longe o maior número de mortos no mundo.

No começo de 2020, Cuba iniciou uma ampla mobilização da sociedade contra a pandemia, treinando equipes médicas, preparando locais para quarentena e informando o público sobre os sintomas e precauções. Quando os primeiros casos foram confirmados, no começo de março daquele ano, o governo mobilizou estudantes de medicina para que checassem sintomas em cada casa no país, e programas de testagem e rastreio de contatos começaram a valer imediatamente.

Em 20 de março de 2020, o governo já tinha instituído o distanciamento físico, garantido o pagamento dos salários inteiros dos trabalhadores em quarentena durante o primeiro mês de isolamento e 60% dos salários durante a pandemia, suspendido o turismo e expandido a distribuição de alimentos, em especial nos bairros mais vulneráveis. Os Comitês de Defesa da Revolução (CDR) nos bairros se responsabilizaram por serviços públicos como entrega de suprimentos e limpeza e serviços de  cozinha nos centros de quarentena.

Iniciativas baseadas na comunidade como essas e políticas públicas humanas que levavam em conta as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores ajudaram a manter a confiança do povo. Quando Cuba lançou sua própria vacina contra a COVID, em julho de 2021 – uma façanha biomédica monumental, necessária frente ao bloqueio dos EUA –, a maior parte da sua população se vacinou sem hesitação. 90,1% da população cubana está completamente vacinada, em comparação com 68% nos Estados Unidos.

A falta de transparência por parte do governo dos EUA, as atitudes hiper-individualistas estimuladas pela ideologia em uma sociedade capitalista e a histeria encorajada pela mídia corporativa contribuíram para as posturas anti-vacina nos Estados Unidos. Em contraste, o sistema socialista cubano cultiva uma cultura de coletividade e responsabilidade social entre o povo. Apesar do uso obrigatório de máscaras ter acabado em Cuba há alguns meses, muitos cubanos continuam a usá-las, no espaço público ou em espaços fechados, o que é uma prova de sua disposição de fazer pequenos sacrifícios em nome da saúde coletiva.

Depois de sete dias em quarentena, tive um resultado negativo de um teste PCR e saí do isolamento. Graças à minha quarentena e às medidas de segurança diligentes em Cuba, ninguém com quem eu estava viajando ou com quem fiquei se infectou com COVID a partir de mim. Sou agradecida a todos aqueles que ajudaram no meu cuidado, me mantiveram saudável e me mostraram como um sistema de saúde socialista funciona. Para alguém que vive nos Estados Unidos e está acostumada a consultas médicas apressadas e impessoais e despesas médicas caras, não poderia ser mais diferente receber um tratamento tão atento e de qualidade em Cuba.

O incansável compromisso de Cuba de servir sua população – e até visitantes como eu! – é especialmente impressionante tomando em conta o desumano bloqueio imposto pelos Estados Unidos, que impede acesso a suprimentos médicos essenciais e infringe intensas dificuldades econômicas ao povo cubano. Esforços como o projeto Hatuey – o grupo com o qual eu estava entregando medicamentos de venda livre na ilha – têm chamado a atenção para este componente particularmente cruel da guerra econômica travada contra Cuba. A administração Biden deveria acabar com esse bloqueio sufocante, para que Cuba possa avançar ainda mais no serviço ao seu povo.

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