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EUA aprovaram mais de 100 contratos secretos de armas com Israel desde início do genocídio em Gaza

Em meio à carnificina e à fome em Gaza, EUA aprovaram um contrato de armas para Israel a cada 36 horas. Biden agora eleva o tom contra seus parceiros
Redação | Tradução de Raul Chiliani
Um tanque e soldados israelenses durante a operação Guardião das Muralhas, em maio de 2021. (Foto: Israel Defense Forces / Flickr)

A evolução dos acontecimentos e as “contínuas e flagrantes violações” à Convenção sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio por parte de Israel levaram o governo sul-africano, em 6 de março, a solicitar medidas provisórias adicionais contra Tel Aviv no caso aberto por genocídio na Faixa de Gaza. 

Especificamente, a “situação de emergência extrema”, na qual se está produzindo uma situação de “fome generalizada” na Faixa, levou a África do Sul a solicitar uma nova intervenção da Corte Internacional de Justiça (CIJ), o mais alto órgão judicial das Nações Unidas, que decidiu contra os israelenses em 16 de fevereiro, exigindo uma série de medidas que, de acordo com a África do Sul, o governo de Benjamin Netanyahu se recusou a cumprir. Para a África do Sul, essa seria a “última chance que essa Corte terá de salvar o já faminto povo palestino”. 

De acordo com a UNRWA, pelo menos 560 mil pessoas em Gaza, um quarto da população, “está a um passo da inanição”. Uma situação que afeta especialmente as crianças: uma em cada seis crianças com menos de dois anos de idade no norte de Gaza sofre de desnutrição aguda e definhamento, a manifestação clínica da magreza excessiva causada pela fome.

De acordo com a agência de refugiados da ONU, Israel está causando uma crise sem precedentes na história recente, com “a maior proporção de pessoas que enfrentam esse nível de insegurança alimentar já registrada em todo o mundo”. Até o momento, 15 crianças morreram em Gaza em decorrência da fome e da sede, de acordo com o Ministério da Saúde palestino. “Acreditamos que dezenas de pessoas estão morrendo silenciosamente de fome sem chegar aos hospitais”, disse Ashraf al-Qudra, porta-voz do ministério, em um comunicado.

As operações militares, a destruição da infraestrutura e das indústrias de alimentos de Gaza, a insegurança e as restrições à entrega de ajuda humanitária por parte de Israel e do Egito são as principais causas da fome generalizada. “A escassez de produtos disponíveis fez com que os preços subissem a níveis absurdos em um momento em que os meios de subsistência foram destruídos pelo conflito”, disse a UNRWA. 

Em fevereiro, apenas 99 caminhões de ajuda humanitária entraram na Faixa por dia, um número muito abaixo dos 500 que seriam necessários, de acordo com a UNRWA. O exército israelense, denuncia a UNRWA, está dificultando o trabalho das organizações humanitárias e chegou a atirar contra palestinos que aguardavam ajuda humanitária na Cidade de Gaza, no que ficou conhecido como “Massacre da Farinha”, episódio em que Israel matou 132 palestinos.

Grupos de solidariedade aos palestinos em todo o mundo lançaram uma campanha para denunciar o “uso da fome como ferramenta de genocídio”, com dois dias de ação global em 8 e 9 de março.

Esses dias de ação global serão encerrados em 9 de março com um dia de jejum em solidariedade ao povo de Gaza. As organizações associadas à Via Campesina estão convocando as pessoas a participarem da ação, doarem dinheiro e apoiarem iniciativas humanitárias no local.

O apoio dos EUA ao genocídio

Os tímidos pedidos de cessar-fogo da comunidade internacional não surtiram efeito. No dia 7 de março, o Hamas se retirou das negociações no Egito, acusando Israel de “frustrar” um acordo que aguardava uma resposta de Tel Aviv às suas principais condições: um cessar-fogo permanente, a retirada das tropas da Faixa de Gaza e o retorno das pessoas deslocadas às suas casas.

Apesar das crescentes críticas da administração de Joe Biden à administração de Netanyahu, as vendas de armas a Tel Aviv continuam: de acordo com uma investigação do The Washington Post, o governo democrata autorizou mais de 100 operações de vendas de armas a israelenses desde o 7 de outubro sem qualquer notificação ao Congresso, sendo que cada uma dessas transações ficou abaixo do valor mínimo requerido. As armas entregues a Tel Aviv por meio desses contratos secretos incluíam “milhares de munições de precisão, bombas de pequeno diâmetro, bunker-busters, armas pequenas e outros materiais letais”. Jeremy Konyndyk, presidente da ONG Refugees International, observou que a atual campanha israelense “não seria sustentável sem esse nível de apoio dos EUA”. De acordo com a investigação do Washington Post, o governo Biden aprovou um pacote de armas para os israelenses a cada 36 horas.

Enquanto isso, o número de palestinos mortos por israelenses aumentou para 30.717 em 6 de março, um número que pode chegar a quase 40 mil se considerarmos os corpos soterrados e ainda não identificados sob os escombros. Pelo menos 72.198 pessoas ficaram feridas, dois milhões de palestinos foram deslocados, 432 escolas e 279 instalações de saúde foram destruídas ou desativadas. Desde 7 de outubro, o exército israelense massacrou 132 jornalistas e 756 profissionais de saúde.

(*) Tradução de Raul Chiliani

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