Oito meses de guerra na Faixa de Gaza causaram uma perda maçiça de empregos e dos meios de subsistência, além de um declínio brutal do PIB no território palestino ocupado, de acordo com um novo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Escritório Central de Estatísticas da Palestina.
A guerra genocida conduzida pelo Estado de Israel, além das inúmeras perdas humanas, causou uma devastação sem precedentes no mercado de trabalho palestino e na economia como um todo, de acordo com novos dados e análises da OIT e do Escritório Central de Estatísticas da Palestina.
Desde a eclosão das hostilidades, em outubro de 2023, a taxa de desemprego na Faixa de Gaza atingiu a impressionante marca de 79,1%. Na Cisjordânia, que também foi gravemente afetada pela crise, o desemprego chegou a 32%.
Esses números elevam a taxa média de desemprego para 50,8% nas duas áreas do território palestino ocupado. No entanto, as taxas e os índices de desemprego não levam em conta as pessoas que desistiram completamente de trabalhar porque as perspectivas de emprego são inalcançáveis. Portanto, o número real de pessoas que perderam seus empregos é ainda maior do que as taxas de desemprego sugerem.
Além disso, o PIB real sofreu uma contração impressionante de 83,5% na Faixa de Gaza e de 22,7% na Cisjordânia nos últimos oito meses, com o PIB real de todo o território palestino ocupado caindo uma média de 32,8%.
Essas conclusões vêm na quarta edição de uma série de relatórios que descrevem o impacto da guerra em Gaza sobre o mercado de trabalho e os meios de subsistência nos territórios palestinos ocupados.
“Nosso novo relatório mostra que a guerra na Faixa de Gaza ceifou a vida de muitas pessoas e causou uma situação humanitária desesperadora, acompanhada por uma devastação generalizada das atividades econômicas e dos meios de subsistência. Isso agrava o sofrimento dos palestinos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, além de colocar em risco sua segurança e bem-estar”, disse Ruba Jaradat, Diretora Regional da OIT para os Estados Árabes.
A grave crise econômica que afeta atualmente os territórios palestinos ocupados atingiu o setor privado de forma extremamente severa, informa o boletim.
Na Faixa de Gaza, quase todos os estabelecimentos do setor privado paralisaram completamente ou reduziram significativamente sua produção, e o setor perdeu 85,8% do valor de sua produção – equivalente a 810 milhões de dólares – durante os primeiros quatro meses da guerra. Na Cisjordânia, o setor privado sofreu uma redução de 27% no valor da produção, equivalente a 1,5 bilhão de dólares, durante o mesmo período.
Isso se traduz em perdas diárias de produção do setor privado equivalentes a 19 milhões de dólares em todo a territorio palestino ocupado durante os primeiros quatro meses do conflito.
“O reestabelecimento dos meios de subsistência das pessoas e a criação de empregos decentes são vitais para que os palestinos da região possam se recuperar dos horrores que a guerra lhes infligiu”, disse Jaradat. “Esse trabalho de recuperação deve ser realizado paralelamente à resposta humanitária em curso, e a OIT e seus constituintes e parceiros estão implementando um plano de resposta emergencial para esse fim”, acrescentou.
O quarto relatório também fornece projeções do impacto da guerra sobre a economia e o mercado de trabalho nos territórios palestinos ocupados para todo o ano de 2024. Se a guerra terminasse em agosto de 2024 e os esforços de recuperação econômica e do mercado de trabalho continuassem, a taxa de desemprego anual para 2024 deveria ter uma média de 47,1%.
As projeções também sugerem que, nesse cenário, o PIB real cairia 16,1% e a renda per capita real cairia 18,0% em 2024 em comparação com 2023. Esses números representariam o declínio mais acentuado nas taxas de crescimento de ambos os indicadores em mais de duas décadas.
O novo relatório também analisa de perto o impacto da guerra em Gaza sobre os trabalhadores e empregadores na Cisjordânia, onde os bloqueios israelenses, as restrições de movimento e os ataques de colonos interromperam as redes da cadeia de suprimentos e as rotas de transporte.
Uma pesquisa realizada pela OIT em colaboração com a Federação Geral Palestina de Sindicatos constatou que, entre os trabalhadores da Cisjordânia que permanecem empregados, 51% enfrentaram uma redução nas horas de trabalho e 62,8% sofreram uma redução nos salários.
Uma segunda pesquisa realizada pela OIT e pela Federação das Câmaras de Comércio, Indústria e Agricultura da Palestina revelou que 65,3% das empresas da Cisjordânia haviam reduzido sua força de trabalho, sendo que muitas recorreram a demissões permanentes ou temporárias.
Quarenta mil mortes depois, nos perguntamos como seria se descrever um infortúnio fosse tão fácil… quanto vivê-lo!
(*) Eduardo Camín é um jornalista uruguaio vivendo em Genebra. Ex-membro da Associação de Correspondentes de Imprensa das Nações Unidas, é analista associado do Centro Latinoamericano de Análisis Estratégico (CLAE)
(*) Tradução de Raul Chiliani