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73,3%: o número real da pobreza na Argentina

Apesar de ser considerado um “país de classe média”, Argentina tem três quartos de seu povo na pobreza
Alfredo Serrano Mancilla e Mariana Dondo
Villa 31, em Buenos Aires, na Argentina. (Foto: christoph.wesemann / Flickr)

Infelizmente, a pobreza na Argentina pode ser vista em toda parte: nas ruas, nas casas, nos supermercados, nas fábricas, nas lojas, nos hospitais, nas escolas.

Há muitos números que corroboram esse “mal-viver” nesses oito meses de governo de Milei. E todos coincidem num mesmo fato: a classe média quase não existe e a classe pobre é a maioria.

Se analisarmos os dados da Pesquisa Domiciliar Permanente do Primeiro Trimestre de 2024, poderíamos quase afirmar que a renda média é pouco representativa da realidade social. Com uma distribuição tão desigual, é muito mais rigoroso analisar o valor da mediana do que o da média. Por quê? Porque quase não há famílias argentinas com renda próxima à média e porque a média não está no meio da distribuição da renda, mas deslocada para a direita, como pode ser visto no gráfico 1. 68% das famílias estão abaixo desse “valor médio” e 32% estão acima dele.

A desigualdade de renda na Argentina. Renda familiar média e mediana no primeiro trimestre de 2024. (Imagem: CELAG Data)

O aspecto mais pertinente a ser observado, então, é o valor da mediana: 50% das famílias argentinas têm uma renda mensal per capita inferior a 198 mil pesos.

Essa metade do país é pobre. Essa metade e um pouco mais: a pobreza na Argentina afeta 55% da sociedade.

Mas esse número é insuficiente para medir a pobreza real, porque esse tipo de medida ignora as famílias com renda muito próxima do limite. Em outras palavras, se uma família tiver 100 pesos a mais do que o valor da cesta básica total (CBT), apenas 100 pesos a mais, ela não seria mais considerada pobre de acordo com os cálculos usuais. Entretanto, seria correto dizer que uma família com renda per capita de 222.332 pesos por mês é pobre, mas uma família com renda per capita de 222.352 pesos por mês não é?

A resposta deve exigir bom senso: não é correto.

Portanto, é politicamente crucial saber quantas famílias estão um pouco acima desse limite; alguns pesos a mais, mas não muito mais.

Pois essas famílias são “quase pobres”: estão no limite, são vulneráveis e não são de forma alguma de classe média.

Na figura 2, vemos que há 18,3% de famílias “quase pobres” com renda na faixa de 1 a 1,5 CBT (Canasta Básica Total – medida do quanto uma família precisa para cobrir suas necessidades durante o mês).

Pobreza na Argentina. Percentagem de pessoas segundo a quantidade de cestas básicas por adulto equivalente (CBT). (Imagem: CELAG Data)

Em suma, se estivermos realmente preocupados com a pobreza, devemos analisar a soma de um e de outro, os “pobres” mais os “quase pobres”. Ou seja: 73,3%.

Três quartos da sociedade argentina são “pobres”, mas ainda seguimos falando de um país de classe média.

Se não aceitarmos esse diagnóstico, ou seja, que a maioria das pessoas na Argentina hoje vive em condições de pobreza, continuaremos insistindo no erro de propor um projeto político, social e econômico que não está fundamentado na realidade.

Isso seria o mesmo que querer falar com um povo que não existe. E é impossível que isso seja eficaz quando se trata de “fazer política”.

CELAG Centro Estratégico Latinoamericano de Geopolítica

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