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Equador: é possível vencer uma eleição sendo um inútil?

Com popularidade em queda, o presidente do Equador, Daniel Noboa, diz que todos os problemas de sua gestão estão relacionados a “não ter tido tempo” suficiente para fazer o necessário
Alfredo Serrano Mancilla
O presidente do Equador, Daniel Noboa, durante entrevista. (Foto: Isaac Castillo/Presidencia de la República.)

O presidente do Equador, Daniel Noboa, deixou de ter uma avaliação positiva de 80% nos primeiros meses de seu governo para chegar a um valor atual de menos de 40% (em qualquer pesquisa).

Isso significa que ele perdeu metade de seu apoio? Não, porque o percentual de avaliação positiva nos primeiros meses de qualquer mandato é sempre ilusório para qualquer presidente. Ele nunca deve ser entendido como um “apoio verdadeiro”. Além disso, esse indicador no início do mandato é completamente distorcido por uma espécie de efeito de “lua de mel” pós-eleitoral.

O problema é quando o presidente em exercício acredita nisso e age embriagado por essa suposta aprovação extraordinária, que quase sempre acaba sendo de curta duração.

O importante, nesses casos, é analisar o que acontece à medida que o tempo passa e ele começa a ser julgado por sua capacidade de resolver os problemas, e não por sua narrativa, como se ainda estivesse na trilha da campanha, colocando a culpa de todos os males nos outros.

De acordo com as últimas pesquisas, a imagem de Noboa e a avaliação de sua administração estão em constante tendência de queda. E não sabemos até onde isso vai chegar. Por enquanto, já ultrapassa mais de 40%.

Em termos de intenções de voto, ele também vem caindo, embora ainda retenha mais do que obteve no primeiro turno (mas muito menos do que conseguiu no segundo turno).

A essa altura do jogo, a pergunta que interessa a todos é a seguinte: será que Noboa chegará com um índice de aprovação relativamente competitivo às eleições presidenciais de 9 de fevereiro, nas quais ele estará novamente concorrendo como candidato?

Certamente é difícil metabolizar (democraticamente) que um presidente inútil possa ter alguma chance de obter votos suficientes para chegar ao segundo turno.

Sinceramente, algo deve estar nos escapando para entender que, com tantos sinais de incapacidade, ele ainda esteja na disputa, embora seu prestígio eleitoral esteja diminuindo a cada dia.

Após ser o máximo responsável pela falta de eletricidade no país nos últimos meses; após piorar a situação econômica, tanto a nível cotidiano quanto no macro; depois da incapacidade de resolver a questão da segurança e do narcotráfico, apesar de ter governado por meio de um estado de exceção; depois de ter subido o IVA (Imposto de Valor Agregado); depois de ter deixado de cumprir múltimas promessas de campanha; depois de ter violado o direito internacional ao “invadir” a embaixada mexicana no Equador; depois de ter se livrado de sua vice-presidente, primeiro mandando-a para Israel e depois para a Turquia, até sua demissão ilegal; depois de ter banido da corrida eleitoral o candidato com maior probabilidade de tirar votos dele (como foi o caso de Jan Tomislav Topic); depois de tanta incompetência e inépcia, Noboa está se candidatando com o único argumento de que teve pouco tempo para fazer qualquer coisa.

E o que o presidente equatoriano não entende é que a paciência é um privilégio de apenas alguns que têm muito – muito mesmo – para poder esperar pacientemente. As expectativas e as narrativas têm um limite: a realidade.

Além disso, Noboa continua acreditando que, por ser o único candidato contra a principal força política do país (o correísmo), isso é suficiente para conquistar sua reeleição.

Entretanto, ele está errado. Os números estão começando a mostrar uma clara tendência de queda. E, por outro lado, não se pode descartar que na reta final – como já aconteceu em 2021 e 2023 – algum outro candidato ideologicamente próximo a ele entre sorrateiramente no cenário eleitoral e tire boa parte de suas atuais intenções de voto.

Veremos o que acontecerá nos próximos meses no Equador. Esperemos que não tenhamos que inaugurar novas faculdades de Ciência Política para explicar o seguinte enigma: “A inutilidade como atributo positivo da democracia”.

CELAG Centro Estratégico Latinoamericano de Geopolítica

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