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O aquecimento global e a “ameaça” dos carros elétricos baratos da China

Ao invés de direcionar tecnologia verde para o Terceiro Mundo, os países do G7 querem barrar tecnologia chinesa: não se preocupam com o planeta, mas com lucros
Dean Baker
Carros trafegam em uma rua do bairro chinês de Portland, no estado norte-americano do Oregon. (Foto: Ian Sane / Flickr)

Suponha que os ministros de finanças dos países do G-7 se reunissem e estabelecessem um plano para gastar milhões de dólares por ano para subsidiar os países em desenvolvimento em sua transição para uma economia verde. Muitos de nós pensariam que se trata de uma boa ideia, uma vez que o aquecimento global representa uma ameaça real para o planeta.

Infelizmente, os ministros das finanças do G-7 parecem ter feito exatamente o contrário. O que fizeram foi decidir maneiras de retaliar a China em relação aos seus próprios planos para subsidiar a transição para uma economia verde – de acordo com a cobertura do jornal The New York Times.  

O artigo nos revela:

“Os dirigentes políticos receiam que uma inundação de produtos tecnológicos chineses de energia verde, fortemente subsidiados, prejudique os setores de energia limpa nos Estados Unidos e na Europa, levando à perda de empregos e à dependência da China em relação a painéis solares, baterias, veículos elétricos e outros produtos.

‘Precisamos nos unir e enviar uma mensagem unificada à China para que eles entendam que não é somente um país que se sente assim, e sim que eles enfrentam um muro de oposição à estratégia que estão adotando’, declarou a senhora [Janet] Yellen, [secretária do Tesouro dos EUA], em uma coletiva de imprensa na abertura das reuniões”.

Vale a pena distinguir aqui duas questões separadas. Os países do G-7 têm setores industriais sofisticados que produzem veículos elétricos, baterias e outros itens necessários para uma transição verde. Portanto, é compreensível que queiram proteger esses setores para que não se tornem completamente dependentes da China. Além disso, a curto prazo, estão em causa dezenas de milhares de postos de trabalho.

No entanto, tais fatos não alteram a essência do que a China está fazendo. De acordo com a informação do artigo, a China visa subsidiar massivamente as suas exportações de tecnologia verde. Aqueles que se preocupam com o aquecimento global poderiam ver isto como uma coisa boa, algo equivalente aos países do G-7 se dispondo a pagar o preço para ajudar a salvar o planeta.

Em vez de tratar a China como um país fora da lei, talvez fizesse sentido aproveitar as exportações subsidiadas da China e direcioná-las para países onde elas não estivessem competindo com as indústrias nacionais. Isso é uma descrição de grande parte do mundo em desenvolvimento.

Os países da África, da América Latina e do Sul da Ásia poderiam se beneficiar de veículos eléctricos (VE) de baixo custo, bem como de painéis solares, baterias e outros artigos necessários para a transição para uma economia verde. Tal fato não só teria um grande impacto na redução das emissões de gases de efeito de estufa, como também reduziria substancialmente outros poluentes nesses países, melhorando a saúde e aumentando a esperança de vida.

Seria uma excelente situação em que todos ganhariam, mas é claro que isso só seria verdade se nos preocupássemos com o futuro do planeta, algo que, aparentemente, não está na agenda da reunião do G-7.  

(*) Tradução de Raul Chiliani

CEPR O Center for Economic and Policy Research (CEPR) é um think-tank fundado em 1999 pelos economistas Dean Baker e Mark Weisbrot para promover debates sobre questões econômicas e sociais nos EUA.

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