As campanhas de Kamala Harris e Trump pelo visto estão disputando para ver qual será considerada a mais anti-imigrante. Enquanto Trump tem divulgado histórias ridículas, racistas e completamente falsas sobre imigrantes, Harris está apostando na “segurança da fronteira” na sua campanha: isto é, a militarização da fronteira e a deportação de imigrantes. Sua campanha lançou anúncios, repletos de policiais e agentes de patrulha de fronteira, gabando-se de seu papel no apoio ao “projeto de lei de controle de fronteira mais rígido em décadas”.
A promessa de Trump: deportação em massa
A plataforma de Trump sobre imigração é horrível. Sua campanha promete que ele realizará “a maior operação de deportação imigrante doméstica da história americana”. Se implementada, essa medida incluiria o uso maciço de policiais e militares para praticar violência estatal em comunidades marginalizadas. Trump também promete acabar com uma série de direitos dos imigrantes sem documentos, inclusive o devido processo legal e a cidadania por nascimento.
Em sua plataforma, Trump também promete deportar pessoas com opiniões pró-palestina (às quais ele se refere como “radicais pró-Hamas”), ao mesmo tempo em que defende outros exames ideológicos para aspirantes à imigração. Por fim, ele promete o restabelecimento total de várias das políticas anti-imigração de seu primeiro mandato, como o muro na fronteira e a “proibição muçulmana”, a medida totalmente discriminatória que impede pessoas de diversos países de maioria muçulmana de viajarem aos EUA. Muitas dessas políticas nem sequer foram encerradas após o fim de seu mandato.
Sem dúvida, uma presidência Trump implicaria em grandes retrocessos nos direitos civis. Mesmo que Trump não seja eleito, governadores estaduais, como Greg Abbott, têm desencadeado o terror do estado policial racista por meio de medidas como o projeto de lei SB4, conhecido como “mostre-me seus documentos”, sancionado no ano passado.
Harris: flanqueando Trump pela direita?
Até recentemente, Harris estivera quase sempre longe dos olhos do público, após sua embaraçosa turnê anti-imigração em 2021 pela América Central, onde ela disse aos imigrantes: “Não venham… vocês serão mandados de volta”. A linguagem e o tom insensíveis de seu pronunciamento foram um dos fatores que levaram ao seu afastamento como principal rosto da administração democrata. Sua nomeação apressada para a chapa presidencial, após a desistência de Biden, agora trouxe de volta à tona seu histórico anti-imigração.
A campanha de Harris é comparativamente esparsa, mas sua retórica revela objetivos e métodos surpreendentemente semelhantes aos de Trump. Ela se vangloria de ter apoiado um projeto de lei anti-imigração bipartidário que os anúncios de sua campanha chamam de “o projeto de lei de controle de fronteira mais rígido em décadas”. Esse projeto de lei teria permitido que o governo federal “deportasse sumariamente os migrantes que entrassem entre os portos de entrada sem permitir que eles solicitassem asilo ” – em outras palavras, uma deportação em massa de refugiados que viola a lei internacional.
Esse projeto de lei quase foi aprovado em fevereiro, mas Trump usou seu poder sobre o Partido Republicano para bloquear o projeto no Senado, temendo que isso prejudicasse sua própria plataforma anti-imigração na próxima eleição. Harris tem prometido constantemente reviver esse projeto de lei quando chegar à Casa Branca. Em essência, a promessa de Harris e Walz para os Estados Unidos é de que, na aplicação das políticas racistas de fronteira de Donald Trump, eles serão mais eficazes do que o próprio Donald Trump.
Ambos os partidos se voltaram para a extrema-direita em relação à imigração
Não é difícil imaginar como seria uma política de fronteira de Kamala Harris: ela já comandou, durante quatro anos, a militarização da fronteira no governo Biden-Harris. A maioria das políticas conduzidas pelo primeiro governo Trump foi mantida e avançada sob Biden. Por exemplo, Biden prosseguiu com a construção do altamente impopular e ambientalmente destrutivo muro fronteiriço enquanto realizava quase tantas deportações quanto Trump. Tampouco foram fechadas as muitas instalações de detenção do ICE (Agência de Imigração e Alfândega dos EUA), que anteriormente já foram corretamente denunciadas como cruéis e desumanas pelos democratas.
Harris e sua ala da classe dominante preferem dar legitimidade bipartidária às políticas anti-imigração para fazer frente à campanha grosseiramente racista de Trump, mas o resultado, na prática, é o mesmo.
A causa da chamada “crise dos refugiados” é o imperialismo e o capitalismo. À medida que os EUA desestabilizam grande parte do mundo com guerras, sanções e golpes contra governos progressistas, e a mudança climática impulsionada pelo capitalismo se intensifica, milhões de pessoas procurarão fugir dos países sob mira. A arma mais poderosa do establishment dos EUA tem sido a tática de dividir e conquistar para usar os imigrantes e refugiados como bodes expiatórios. Como servos da classe capitalista, tanto Kamala Harris quanto Donald Trump são dedicados a esse sistema.
O que é realmente necessário é um movimento anti-imperialista unido da classe trabalhadora que rejeite os ataques racistas de ambos os partidos corporativos. Esse movimento deve ser unido em torno de uma plataforma ousada: o reconhecimento de que a interferência imperialista é a causa da crise dos refugiados, que a militarização das fronteiras e as deportações são um ataque aos direitos humanos, e que a verdadeira solução é reinvestir o orçamento militar de quase um trilhão de dólares por ano em moradia, saúde, educação, empregos e proteção ambiental para todos.
A campanha socialista de Claudia De la Cruz e Karina Garcia está concorrendo em uma plataforma desse tipo. A campanha prometeu acabar com o terror imperialista que o império dos EUA exerce ao redor do mundo, cortando o orçamento militar em 90% e fechando as mais de 800 bases militares espalhadas pelos Estados Unidos em todo o planeta. Esses recursos cruciais poderiam então ser reinvestidos na sociedade para o benefício de todos. Ao mesmo tempo, De la Cruz e Garcia estão apoiando a promessa de status legal completo e direitos iguais para todos os imigrantes.
Os democratas e os republicanos demonstraram que são incapazes de lidar com as complexas crises enfrentadas pelos americanos da classe trabalhadora. Eles não têm mais ideias e recorrem às velhas táticas de terror racista e divisão da classe trabalhadora. É exatamente essa guinada vulgar e extrema à direita do establishment político dos EUA que torna tão necessária a necessidade de se organizar fora dos limites estreitos desses dois partidos corporativos, construindo um movimento popular verdadeiramente independente.
(*) Tradução de Raul Chiliani