Frente à bizarrice grotesca do atentado terrorista em Nice, feito onde foi utilizado um caminhão, pessoas se inconformam e se questionam sobre a lógica por trás disso. O acúmulo de atentados e a percepção de que a França tem sido vítima de vários* fortalece esses questionamentos. As Olimpíadas também intensificam a ansiedade e colocam terrorismo na boca do povo.
Outro dia um colega falava intrigado da pessoa que foi presa aparentemente querendo colocar uma bomba num aeroporto em Brasília. Ele se perguntava: mas por que um aeroporto e não um prédio do governo?!
*(como se ela fosse especial, ignorando a situação de outros países, especialmente do Oriente Médio, como o Iraque empesteado por atentados terroristas do ISIS além dos exércitos desse grupo que ameaçam a própria existência do país).
Eu mesmo coloquei certas aflições numa rede social:
Me dá um pouco de raiva (….) os caras não param. A ideia é como numa campanha guerrilheira tirar resultados políticos obrigando o inimigo a se militarizar, levantar mais a guarda…. e como, realmente, evitar isso? É ataque atrás de ataque e começo a desconfiar do discurso de “se manter firme”. Acontece que é mais fácil atacar a França do que os EUA.
Existe um discurso predominante de que os terroristas querem destruir a liberdade e que por isso é preciso ser forte, não ceder, não passar leis malucas ou jogar o exército na rua. Eu mesmo, no entanto, cedo terreno psicológico para o terrorismo e acabo duvidando: será que isso é possível? Vejamos; além da distância geográfica, os Estados Unidos são um país com mais controle e menos liberdade do que a França (isso é um fato independente de argumentos sobre a presença de determinadas comunidades com certas fragilidades no seio da França). Ou seja, mesmo eu que reconheço que é necessário conservar a firmeza moral e o terreno psicológico frente ao terror, também enxergo a França caindo num abismo, até porque lá inexiste liderança ou um espírito político nacional realmente preparado para enfrentar o terrorismo. A França vai ter que se acostumar? Um amigo respondeu:
Do ponto de vista estratégico é realmente dificil dizer que os imigrantes vão ganhar algum beneficio, mas o ponto nunca foi esse.
Talvez o poder do terror aí seja o fato de ser algo “trivial”. Descobriram uma maneira de matar tanto quanto uma bomba, mas com muito menos dinheiro investido.
Eu queria entender se, sendo um feito de um grupo terrorista, há algum objetivo claro de longo prazo. Porque, convenhamos, uma campanha dessas vai recrudescer a opinião pública contra imigrantes, ainda que o governo vá tentar capitalizar pro intervencionismo.
E bem, o resultado não vai ser muito bom a longo prazo para os envolvidos. Ou a esperança deles é outra? Que choque após choque o Estado francês vai simplesmente entrar em colapso e deixar de existir?
Essa é a magia do terror. Ficamos aqui especulando e se bobear os caras estão lá praticando terror pelo terror (o que é a essência real do terrorismo, para além de toda razão, cálculo e avaliação).
Uma intervenção justa e interessante, mas devo colocar ressalvas para que não nos enganemos. É possível sim entender a lógica destes terroristas islamistas, essa lógica existe.
Para entendermos a lógica desses terroristas nós precisamos recuar para as concepções que fundaram a Al Qaeda, as ideias que nortearam o grupo de Al Zarqawai no Iraque (conhecido como “Al Qaeda no Iraque”), grupo que viria a ser o atual ISIS e cujas ideias também devemos fazer uma breve visita.
Osama Bin Laden formulou uma estratégia para levantar o mundo muçulmano e enfrentar aquilo que percebia como sua crise e seus problemas. Essa estratégia consistia em aumentar a tensão com os Estados Unidos através de atentados terrorista visando uma intervenção militar direta da potência. O objetivo foi cumprido especialmente no Afeganistão e no Iraque. A intervenção militar, na visão de Bin Laden, implicaria em:
a) Uma maior união, solidariedade e senso de identidade dentro do mundo muçulmano. Hostilidade contra os “cruzados”, os “infiéis”, os Estados Unidos e seus aliados, incluindo aliados regionais, “as tiranias apóstatas”.
b) Os Estados Unidos gastariam uma grande massa de recursos financeiros e humanos, bem como energia política, tendo que lutar uma guerra e eventualmente mais de uma guerra. Na guerra estão obrigado a se engajar em combates diretos, seriam desgastados politicamente com a perda de vidas americanas e encontrariam a ruína econômica por causa da guerra. Bin Laden gostava de aludir ao exemplo da União Soviética no Afeganistão, dizendo que a derrota da intervenção ali foi a liquidação daquela federação de países.
Bin Laden fez uma versão reacionária, islamista e terrorista de uma estratégia já concebida por Che Guevara, a de criar “vários Vietnãs”, situação em que o imperialismo deveria lutar em várias frentes ao mesmo tempo, contra diversos focos de resistência, o que o levaria a ruína (e esta estratégia tricontinental é o verdadeiro “foquismo”, pelo menos o foquismo guevarista, não as reflexões de Régis Debray).
O terrorismo islamista também bebe de outras fontes, ao lado das ideias de Bin Laden surgiram outras. O jordaniano Al Zarqawi fez da sua prática na liderança da Al Qaeda no Iraque (AQI, uma organização específica) um grande ensinamento para o terrorismo islamista. AQI tinha uma predileção especial pela filmagem e edição de decapitações – cortar cabeças virou uma forma muito especial de fazer política, espalhar propaganda e disseminar o terror. Al Zarqawi começa ir muito além do convencional na sua preocupação estética com a brutalidade. Esses recursos eram elementos táticos dentro de uma estratégia que não tinha precedente e não contava com a aprovação de Bin Laden: a estratégia da ruptura sectária com os xiitas. Al Zarqawi defendia e praticava o uso de bombas em bairros e templos xiitas, assassinatos chocantes, de preferência com decapitação; o que causasse a divisão entre sunitas e xiitas era considerado bom, não só porque consideravam os xiitas hereges (e isso Bin Laden também achava), mas porque fazia uma consideração realmente estratégica. A ideia era justamente que houvessem retaliações, esquadrões da morte xiitas, divisão sectária, para que assim os sunitas tivessem que se recompor como comunidade, se unificar e se entender como sunitas, ir para guerra como sunitas, tornar-se-iam sectários. Através disso Al Zarqawai pretendia estimular o ódio dos xiitas, o ódio contra os xiitas e sabotar um projeto de “Iraque nacional” concorrente com sua visão sectária sunita. Uma guerra entre correntes do Islã seria muito má para o Estado iraquiano, para o nacionalismo iraquiano, para a unidade iraquiana, mas seria muito boa para um grupo como a AQI. Uma consecução bem sucedida dessa estratégia demanda o uso espetacular da violência, com forte ênfase na sua divulgação, pois é preciso maximizar a tensão comunitária, é preciso explodir os lugares sagrados dos xiitas, deixar bem claro que eles são mortos porque são xiitas, de preferência das formas mais chocantes, cruas, brutais e se possível mulheres e crianças.
O ISIS, ou “Estado Islâmico”, por sua vez continuou aplicando essa estratégia (com consequências nefastas para milhares de vidas xiitas ceifadas brutalmente pelo grupo), prestando mais atenção ainda na estética e na propaganda da violência. No momento atual o grupo adquiriu uma prática e um ethos ainda mais violentos, ainda mais disposto a ações brutais, aparentemente sem sentido, quase sempre estetizadas para fins de propaganda. Chegamos numa forma sangrenta, grotesca e cinematográfica de terrorismo.
Um dos faróis ideológicos por trás disso é uma obra obscura que surgiu em um blog no ano de 2004, assinado pelo desconhecido Abu Bakr Naji, com o nome de “A Administração da Selvageria: O Estágio Mais Perigoso pelo qual a Comunidade Muçulmana irá passar”. A obra gerou grandes discussões e se tornou referência para muitos terroristas, conquistando um lugar de relevância. Nela o autor defende o máximo de violência e selvageria para acelerar e promover a destruição do sistema, gerando um racha entre os verdadeiros muçulmanos e os infiéis. Ainda faz críticas aos movimentos muçulmanos existentes, tanto por ideologia como por método (um degenera no nacionalismo, outro é quietista e covarde, outro é presa fácil, etc), defendendo uma forma de “anarquismo jihadista ultra-violento”, que prefere células isoladas de grandes organizações conduzindo ações próprias ou melhor ainda a ação de lobos solitários. “Administração da Selvageria” pretende ser a obra de referência do “terrorismo pós Al Qaeda”, do terrorismo que penetra mais fundo na fragmentação pós-moderna e responde de forma mais radical e caótica ao grande aparato internacional de repressão que se erigia na “Guerra contra o Terror”(War on Terror).
Vejam as seguintes citações:
“…os níveis mais abomináveis de selvageria ainda são menos do que a estabilidade sob a ordem da descrença em vários graus.”
“Se nós tivermos sucesso na administração dessa selvageria, esse estágio (com permissão de Deus) será a ponte para o Estado islâmico que vem sendo esperado desde a queda do califado. Se nós falharmos nós buscamos refúgio em Deus e isso não significa o fim do assunto: pelo contrário, esse fracasso vai trazer um aumento na selvageria!”
O autor então postula que para um bom muçulmano não resta outra coisa senão aspirar e promover a total desintegração dos sistemas atuais (internacional e de seus respectivos países) pois eles são dominados pela descrença, merecendo somente a destruição, só esta capaz de construir uma ponte para uma restauração islâmica. É importante salientar também que selvageria não é tida somente como um método, mas como um estado das coisas pelo qual sociedades diversas passam em diferentes momentos da história, um estado de anarquia e injustiça. Neste caso a selvageria iniciou já com a queda do califado otomano no começo do século passado, o que é um trauma de religiosos sunitas que serve de grande motivação para os militantes religiosos até hoje (a queda do califado foi uma perda religiosa, política, moral, civilizacional, foi cair em desgraça, perder a glória, etc). A selvageria se intensificou com as ditaduras nacionalistas “descrentes” e mais ainda com a ocupação militar norte-americana. O livro quer dizer para o leitor:
“Está vendo o que acontece no Iraque? Vê o que os americanos fazem lá, os males que o povo crente passa? Está vendo as desgraças de um governo de xiitas? Viu que fulano foi morto por um soldado? Não há lei, não há justiça, há a selvageria e nós, sunitas, bons muçulmanos, devemos administrar essa selvageria a nosso favor.”
Não basta ser religioso purista, é preciso destruir, tomar parte na administração da selvageria. ”Esses daqui que querem se isolar e ter uma prática perfeita, eles são brinquedos da injustiça, dos tiranos, os tiranos e os infieis continuam dominando enquanto eles são puros”, já “aqueles ali que tem um pensamento mais politico e são reformistas, eles se comprometem demais em nome do objetivo, se sujam demais”, ai a conclusão é que antes de tudo é necessário demolir a coisa toda, destruir.
O que o ISIS faz com maestria é administrar a selvageria, querem ser os mais selvagens, mais violentos, mais temidos. E atentem vocês o poder que um blog de Internet pode ter nos dias de hoje, uma ideia de 2004 que seria essencial num dos fenômenos mais debatidos, temidos e combatidos no ano de 2015 (não subestimem as ideias e as ferramentas que as veiculam).
Nunca se tratou de preocupação com a segurança de muçulmanos nativos ou imigrantes na França, nem de uma esperança de simplesmente derrubar o Estado francês com base em ações terroristas. Esqueçam a guerrilha clássica ou mesmo o velho terrorismo. Não é suma aplicação simplista do básico princípio de guerrilha de faça o Estado se militarizar para que sua contradição com o povo se amplie e se torne um antagonismo; o princípio está presente mas de forma muito mais complexa e refinada. Ações terroristas podem e devem ampliar a perseguição contra os muçulmanos na França, e os terroristas não acham isso ruim. A perseguição contra os muçulmanos na França vai aproximar essa comunidade religiosa de posições mais radicais e vai polarizar toda a comunidade muçulmana mundial contra o ocidente, o jihadismo em geral e o ISIS em específico podem se fortalecer.
Essas coisas se reproduzem. Eles não querem muçulmanos liberais, não querem muçulmanos que sejam bons patriotas franceses, defensores da constituição, querem muçulmanos que morrem dirigindo um caminhão contra multidões. Se amanhã surgirem retaliações terroristas contra muçulmanos, tanto melhor na visão deles. Não só surgem novos terroristas, como muito provavelmente muitos voluntários que se dirigirão para a Síria.
Alguns mais atentos devem ter pensado que há um componente apocalíptico nessas ideias de selvageria, e de fato há. O pensamento apocalíptico na verdade transcende essa obra e é outro pilar fundamental do terrorismo na atualidade, principalmente do ISIS. A Al Qaeda não compartilha do fundamentalismo apocaliptico do ISIS, inclusive rejeita em tons intelectuais o que seria a vulgaridade teológica do filho renegado e agora rival jurado – ainda assim apologistas do ISIS parecem ter um bom repertório teológico para defender suas posições (repertório capaz de atropelar qualquer defesa desavisada de uma versão liberal do Islã; se você for debater com os apologistas, inclusive os ideólogos de segunda que povoam a Internet, prepara-se para lidar com um torrente de conhecimento religioso e jurídico – esse tipo de coisa dá força ideológica para os terroristas defenderem suas posições no mundo muçulmano e converterem pessoas para sua causa). O ISIS realmente divulga que o fim está próximo e que eles estão trabalhando para isso, se justificam com base nisso e que a batalha final está muito próxima, quando “todos os exércitos de cruzados e infiéis se reuniram contra nós”. Existe uma lógica meta-política: mais morte, mais perseguição e mais terrorismo são coisas boas porque mais muçulmanos aderem ao caminho correto e mais muçulmanos são salvos e elevados por seu martírio. Dentro dessa lógica é importante acrescentar que o Califado não tem fronteiras e tem direito a se espalhar pelo mundo todo, além de todo muçulmano ter obrigação de jurar lealdade ao califa ou do contrário está fora da fé. Todo o resto está errado, é ilegal, é injusto, éselvageria. Diferente de outros movimentos, o ISIS não aspira a reconhecimento político e territorial.
Não importa se a liderança do Estado Islâmico é oportunista ou eventualmente vai fazer cálculos políticos para manter algum território (melhor do que nada!), porque a ideologia apocaliptica vai inspirar pessoas no mundo todo, vai fazer com que um individuo isolado dirija um caminhão contra uma multidão no Dia da Bastilha e tudo isso vai ser bom para o ISIS. O ISIS não pode se tornar um movimento guerrilheiro perdido em alguma montanha, isso seria sua falência, ele depende dessa lógica de velocidade, adrenalina e ultra-violência.
Esse é o panorama geral partindo da lógica dos terroristas. Estrategicamente, porém, não é possível definir de uma forma linear unilateral quem é que ganha com isso – a realidade é muito maleável e vários lados podem ganhar, o que não necessariamente resulta na previsão dos terroristas ou em algo benéfico para eles. Na década passada, parecia que a Al Qaeda trabalhava para os Estados Unidos, com o “Novo Século Americano”, leis de Estado policial, intervenções unilaterais no mundo todo, “guerra contra o terrorismo”, o re-estabelecimento de um grande aparato militar imperial, muito claro e vistoso no Oriente Médio porém presente no mundo todo. Na nossa década, porém, mais parece que são os Estados Unidos que trabalham para Al Qaeda, com o grupo e suas franquias se beneficiando das políticas dos EUA no pós Primavera Árabe*. A realidade sempre foi maleável, mas hoje ela parece mais maleável e acelerada do que nunca, cabe a nós se acostumar.
*Isso acontece por causa de considerações próprias da estratégia dos EUA, claro. Na Síria, por exemplo, seu namoro inicial e sua atitude ambígua em relação aos aliados da Al Qaeda acontecem em função de uma estratégia que tem por prioridade outras coisas que não combater a Al Qaeda, como derrubar o governo de Bashar al-Assad. A destruição da Líbia, por sua vez, não só beneficiou milicias internas ligadas a AQ como melhorou a situação geral do terrorismo na região no que concerne o fluxo de armas. A “aliança vergonhosa” também acontece devido a prioridade geopolítica da política norte-americana de isolar e atacar a República Islâmica do Irã. Israel também merece uma menção honrosa por se preocupar muito mais com o Irã e com o Hezbollah, que são xiitas, do que a Al Qaeda que combate esses dois inimigos; um ex membro e analista da inteligência israelense chegou a comentar de forma bem pragmática sobre o apoio dos israelenses a rebeldes na Síria, “a Al Qaeda nunca nos atacou”.
FONTES
Administração da Selvageria em inglês: https://azelin.files.wordpress.com/2010/08/abu-bakr-naji-the-management-of-savagery-the-most-critical-stage-through-which-the-umma-will-pass.pdf (último acesso em 21/07/2016)
“What ISIS Really Wants” http://www.theatlantic.com/magazine/archive/2015/03/what-isis-really-wants/384980/ (o melhor texto aqui) /(último acesso em 21/07/2016)
“Ideology of Islamic State” http://www.brookings.edu/research/papers/2015/03/ideology-of-islamic-state (último acesso em 21/07/2016)
“Sectarianism of Islamic State: Ideologica Roots and Political Context” http://carnegieendowment.org/2016/06/13/sectarianism-of-islamic-state-ideological-roots-and-political-context-pub-63746 (último acesso em 21/07/2016)
“Ideology of Islamic State” http://www.brookings.edu/~/media/research/files/papers/2015/03/ideology-of-islamic-state-bunzel/the-ideology-of-the-islamic-state.pdf (último acesso em 21/07/2016)
“ISIS Ideology and vision and their implementation” http://www.crethiplethi.com/isis-s-ideology-and-vision-and-their-implementation/islamic-countries/syria-islamic-countries/2015/
“The Mind of the Islamic State: An ideology of savagery” https://www.themonthly.com.au/issue/2016/june/1464703200/robert-manne/mind-islamic-state (este também é bem interessante) / (último acesso em 21/07/2016)
“The link between Muslim Brotherhood and ISIS” http://www.voltairenet.org/article191278.html
“Osama Bin Laden“ por Michael Scheuer, Oxford University Press, 2011. Bom para conhecer a trajetória e as ideias de Bin Laden.
“Estado Islâmico: Desvendando o exército do terror” de Michael Weiss e Hassan Hassan, Editora Seoman, 2015. É uma introdução ok, com um estilo jornalistico de fácil leitura e em português, uns componentes interessantes de entrevistas, porém é o discurso oficial americano-britânico. O livro recorre muito a notícias questionáveis dentro desse discurso que culpam até Saddam e a República Islâmica do Irã. Dedica uma parte considerável a AQI. Hassan Hassan é um dos porta-vozes ideológicos desse discurso. Todos os links que postei acima te oferecem uma compreensão melhor do que a leitura deste livro.
“A fênix islamista: O Estado Islâmico e a reconfiguração do Oriente Médio”, de Loretta Napoleoni, Editora Bertrand, 2015. Gostei mais do que o livro de Weiss e Hassan, mesmo com menos páginas considero que de certa forma conta melhor a ascensão do grupo já como ISIS (sua relação com as tribos, por exemplo) e trás reflexões mais profundas. A autora, no entanto, paga pedágio para o discurso oficial e chega ao ridículo de se perguntar “oh mas como os EUA saberiam que as armas caíram nas mãos do Estado Islãmico, oh como eles não perceberam que essa estratégia de armar grupos marginais na Síria era armar o ISIS, oh como não viram isso?”. Pelo menos essa auto-flagelação que soa um pouco hipócrita é mais crítica do que o discurso oficial que quer culpar Assad por tudo e que se alia com a “Revolução Síria” intocável e irresponsável frente os islamistas – o intervencionismo é cobrado pela suas consequências, mesmo que indiretamente. Não sei o que dizer da edição em português pois li em inglês, a capa sem dúvida é chamativa.
“A Origem do Estado Islâmico: O Fracasso da ‘Guerra ao Terror’ e ascensão jihadista” de Patrick Cockburn, Editora Autonomia Literária, 2015. Situa de forma interessante a questão do sectarismo e da ideologia, no próprio título original que fala em “Revolução Sunita”. Em geral já gostei mais do que o livro de Weiss e Hassan, até por ser mais crítico e colocar de forma mais nevrálgica a influência do intervencionismo na criação do ISIS. Cockburn é um grande jornalista e traça bem o panorama iraquiano, assim como o geopolítico. Também possui estilo fácil e envolvente, jornalistico.