Se a chance de ser assassinado fosse a mesma para homens brancos e negros, a taxa de homicídio na cidade do Rio de Janeiro seria 12,9% menor do que a atual. É o que mostra o estudo Democracia Racial e Homicídio de Jovens Negros na Cidade Partida, dos pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Daniel Cerqueira e Danilo Coelho, divulgado sexta-feira (18).
Eles fizeram o exercício para verificar como seria a sociedade sem o que eles chamam de “racismo que mata”, ou seja, se a cor da pele não tivesse impacto na letalidade. “A gente fez um exercício contrafactual. O que aconteceria se o racismo acabasse? Se o diferencial entre negros e brancos fosse reduzido a zero, qual seria o impacto na taxa de homicídio no Rio de Janeiro?”, explica Coelho.
A pesquisa calculou, com um modelo econométrico inédito, como cada característica afeta a chance de a pessoa sofrer homicídio. Foram analisados os dados de escolaridade, local de residência, idade e estado civil, além da cor da pele, na amostra de homens entre 14 e 70 anos do censo de 2010, residentes no Rio de Janeiro, e o número de mortos na cidade naquele ano. A conclusão é de que os homens negros têm 23,5% mais chances de serem assassinados do que os brancos, mesmo sem considerar as condições socioeconômicas.
O exercício considerou também, como um segundo passo, o aumento da escolaridade como fator redutor de risco de ser assassinado. Cerqueira explica que, com o ingresso no ensino médio, a taxa de homicídio na cidade poderia cair 19,8%.
“A chance de quem tem até sete anos de escolaridade sofrer homicídio é altíssima, quando o cara entra para o ensino médio, a chance já diminui. Se ele vai para o ensino superior, é um verdadeiro escudo contra os homicídios. A educação é um verdadeiro escudo contra os homicídios. Então, a brincadeira é: vamos imputar àquele cara que tem sete anos ou menos de estudo, a chance de sofrer homicídio de um cara que entrou no ensino médio”.
Pelos cálculos dos pesquisadores, a chance de uma pessoa com até sete anos de estudo ser assassinada é 70,2% maior do que a de alguém que tenha de oito a 11 anos de estudo. Somando a redução dos homicídios que a eliminação do racismo geraria ao fator de elevar os anos de escolaridade, Cerqueira e Coelho chegaram a uma provável redução de 30,2% na taxa de homicídio na cidade.