O anúncio da venda da Eletrobras com a entrega do setor brasileiro de energia (petróleo e elétrico) ultrapassa todo e qualquer senso, mesmo no campo liberal, sem necessidade de prefixos ou sufixos.
Assim, o mercado quer ter acesso ao que foi montado com recursos do povo brasileiro. Não se tratam de “parcerias” (ou sociedades) para fazer algo novo e além. A preço vil querem outra joia da coroa.
Os ingleses já fizeram várias autocríticas sobre o Estado abrir mão de controlar um setor monopolístico. A literatura sobre o assunto é farta, mesmo no campo liberal, mas ainda com algum projeto de nação ou sociedade. Não passam duas redes de energia na frente de sua casa ou empresa para você optar por uma, dizem os ingleses, que por aqui (Brasil) montaram as primeiras empresas do setor.
Na época de FHC, eles venderam a ponta do sistema: a distribuição, que hoje é operada por concessionárias nos estados. Agora vão mais fundo ao pote e querem juntar o lucro das outras partes deste setor. Assim, as corporações oligopolísticas do setor vão fazer o contrário do que estes governos mercadistas fazem, ao desintegrar estes setores (eletricidade e petróleo). Desta forma, as grandes corporações multinacionais do setor vão reintegrar o setor elétrico brasileiro para operar e manejar os lucros nos diferentes pontos da cadeia: geração, transmissão e distribuição até o consumo.
Até o liberais sabem que os preços subirão. Nenhum investidor vai deixar de lucrar e pagar dividendos para se preocupar com o consumidor desta energia. O caso é distinto da telefonia, onde as operadoras disputam (mesmo que disfarçadamente) como oligopólios os nichos dos mercados. No caso da energia elétrica, a elevação dos preços – em qualquer prazo – não será pouca, logo quando grandes gerações estarão disponíveis com a finalização das hidrelétricas pagas com os nossos recursos.
As corporações multinacionais que controlarão o setor já desintegrado, farão a “re-verticalização” do controle da área de geração de energia elétrica, como estão organizando para que seja feito na área de óleo e gás.
Veja abaixo o esquema gráfico para explicar o movimento do capital no setor de óleo:
Este esquema gráfico ajuda a explicar o movimento no setor elétrico. A ideia é a mesma para o setor de gás e óleo. Também energia. Assim, não é difícil compreender que eles não vão parar aí.
Este desmonte, desintegração e re-verticalização oligopolizada e global é o esquema adotado pelo modelo “liberal-dependente”. O mercado capturou o poder político e decidiu controlar diretamente o funcionamento do sistema capitalista nesta parte do trópico. O que estes oligopólios devem considerar é o risco de tudo isto ser suspenso por um poder político que decida – corretamente – revisar esta aberração.
É possível que eles contem com a força de seus parceiros no judiciário e na mídia para evitar. Os problemas estão se avolumando e as tensões seguirão subindo. Desconfio que estão exagerando no tamanho da boca e da goela.
*58 anos, professor e engenheiro do IFF (ex-CEFET) em Campos dos Goytacazes, RJ. Pesquisador do NEED-IFF.