Entre perplexos e arrasados, petistas tentam explicar o ex-ministro Antônio Palocci – não para justificar suas atitudes, mas para tentar prever os próximos passos da delação oficial que certamente virá por aí.
Palocci fez o que o PT mais temia, entregar Lula. Não o terá feito com satisfação, já que os dois eram próximos e se gostavam. Mas o raciocínio entre petistas é de que a pressão foi tanta que o ex-ministro acabou cedendo no ponto em que mais resistia desde o início das negociações com o Ministério Público. No vídeo depois distribuído, fica claro que o juiz Sérgio Moro – que em depoimento anterior ouvira do ex-ministro ameaças de delatar setor financeiro e outros – fez Palocci ajoelhar no milho e dizer o que ele queria.
E agora, Palocci vai dizer o que muita gente não queria? Em tese, depois de derrubar as próprias resistências e delatar Lula, o ex-ministro pode delatar qualquer um. E isso agora gera muita preocupação, dentro e fora do PT. Afinal, não vai pegar bem aparecer com uma delação que só entrega o PT depois de ter acenado com tanta coisa. O pessoal dos bancos começou a coçar a cabeça.
O que não surpreendeu ninguém no núcleo petista é o fato de Palocci não ter tido dó nem piedade da ex-presidente Dilma Rousseff, incluindo-a como personagem em diversos relatos, ainda que com papel secundário. Não precisava, por exemplo, num processo contra Lula, tê-la acusado de beneficiar a Odebrecht no leilão do Galeão. Nem dizer que ela estava presente na suposta reunião em que Lula teria mandado José Sérgio Gabrielli usar os contratos das sondas do pré-sal para fazer caixa para a campanha de 2010.
Mas Palocci tem bronca de Dilma desde que ela o demitiu da Casa Civil, nos primeiros meses de seu primeiro mandato, quando vieram a público cifras sobre os ganhos da consultoria do ex-ministro, que não quis divulgar quem eram seus clientes.
Palocci divulgará agora alguma coisa sobre seus ex-clientes? O fato é que um delator sempre tem nas mãos o destino de muita gente, desafetos e afetos. Gabrielli, por exemplo, foi poupado pelo ex-ministro, que fez questão de esclarecer que ele não cumpriu a missão que teria recebido de Lula e disse que não o faria.
A pergunta que não quer calar hoje é sobre até onde irá Palocci em sua delação não-delação. Vai dizer tudo ou só o que o MP quer ouvir?