Em seu artigo clássico “Aspectos políticos do pleno emprego” (1943)¹, o economista Michal Kalecki esclarece as verdadeiras razões pelas quais os capitalistas se opõem às políticas de pleno emprego.
Os capitalistas em geral são contra as políticas econômicas expansionistas porque isso diminuiria o seu poder enquanto classe, removendo o seu controle sobre o nível de emprego e a função “disciplinar” do desemprego, dando melhores condições de organização política para a classe trabalhadora e maior poder de barganha para arrancar dos capitalistas as suas reivindicações, podendo-se evoluir disso para a tentativa de controle do Estado.
Eis a grandiosa e gritantemente evidente “descoberta” de Marx em relação à “lei do desenvolvimento histórico”, “de que os homens, antes de mais nada, têm primeiro que comer, beber, abrigar-se e vestir-se, antes de poderem se entregar à política”².
Essa oposição se dá mesmo que seja consenso na ciência econômica que os gastos públicos em investimentos e subsídio ao consumo de massas, financiados por dívida pública de baixo custo e/ou taxação dos ricos, possa abolir as recessões e o desemprego, e mesmo que nessas circunstâncias os lucros dos capitalistas produtivos tendam a ser maiores do que nas situações de “livre mercado”.
Só há uma coisa que os capitalistas apreciam mais do que o lucro: a “ordem”, ou seja, a manutenção das condições de possibilidade da exploração capitalista do trabalho. E é claro que não faltam “especialistas econômicos” para defender “teoricamente” políticas econômicas supostamente “saudáveis”.
Esta formulação tem grande poder explicativo em relação à realidade brasileira dos últimos três anos. Os únicos resultados concretos das políticas econômicas liberais (cortes de gastos públicos, choque de preços administrados e juros altos) foram o desmoronamento do PIB, o desabamento da arrecadação, o aumento dos déficits que supostamente seriam reduzidos e a produção de desemprego em massa. Foi um enorme ajuste sim, não nas “contas públicas”, mas na composição e no rendimento médio do mercado de trabalho.
Tudo isso, naturalmente, teve efeito sobre o poder de barganha dos trabalhadores, o que pode ser observado no gráfico. Os trabalhadores se viram mais constrangidos a “trocar” a manutenção do poder de compra dos salários pela precária manutenção dos postos de trabalho, dado o medo do desemprego.
Referências
1 – https://goo.gl/Gtb2H7
2 Friedrich Engels, Discurso diante do túmulo de Karl Marx, 17 de março de 1883: https://goo.gl/tNPkzq