Movimentos sociais e organizações de direitos humanos se mobilizaram para denunciar o que chamam de “jogos da exclusão”, em referência às violações de direitos humanos praticadas no Rio de Janeiro desde 2007, em nome dos megaeventos esportivos que a cidade recebeu ao longo de quase uma década. Esta semana foi lançado o Mapa da Exclusão, que mostra onde ocorreram problemas como remoções, violações ao trabalho, impactos ambientais, militarização de comunidades e homicídios decorrentes de ação policial, além dos locais onde houve intervenções urbanas e construção de equipamentos esportivos.
Integrante da Jornada de Lutas contra os Jogos da Exclusão, Mario Campagnani explica que o mapa é colaborativo e reúne dados de diferentes fontes, como o Instituto de Segurança Pública (ISP), a Justiça Global e o Comitê Popular da Copa e da Olimpíada. Segundo ele, a ideia do mapa é mostrar o efeito negativo que os megaeventos causaram à cidade.
“Quando você coloca esse resultado no mapa, fica bem claro como essa olimpíada é realmente os jogos da exclusão. Você percebe como afeta uma série de moradores das áreas mais valorizadas da cidade, ou em valorização, que são expulsos de suas casas. Você percebe como existe uma grande militarização das áreas pobres, que trata essa população negra e favelada como inimiga, é uma política que você ocupa esses territórios não pensando no benefício dos moradores desses locais, você ocupa na verdade pensando no controle urbano dessa população”, destacou Campagnani.
Letalidade
Ele lembra que a letalidade da polícia também é alta na cidade. “A polícia carioca é uma das que mais matam e mais morrem no mundo”, disse. De acordo com os dados do ISP, de janeiro a maio deste ano, foram 322 homicídios decorrentes de intervenção policial no estado. O número de policiais mortos no mesmo período chega a 12. Segundo dados do instituto, na comparação de maio deste ano com maio de 2015, houve um aumento de 135% das mortes cometidas por policiais militares na cidade do Rio.
“Isso não aconteceu só agora, aconteceu na Copa do Mundo, aconteceu na Copa das Confederações. Historicamente, antes desses megaevento, o estado mata muita gente nas favelas. A gente pode lembrar que antes dos Jogos Panamericanos de 2007 houve a chacina do Alemão”, acrescentou Campagnani.
Ele explica que o Mapa da Jornada de Lutas contra os Jogos da Exclusão também será distribuído nas ruas e nos eventos que a campanha está organizando, como manifestações, atos, debates, oficinas, rodas de conversa e intervenções artísticas, entre os dias 1º e 5 de agosto. “Vamos ter pessoas do Brasil inteiro para debater os efeitos [dos jogos] e falar sobre o direito à cidade. A gente está disputando o nosso território, é um debate político sobre os rumos da nossa cidade.”
Abertura da Olimpíada
No dia da abertura da Olimpíada, 5 de agosto, segundo Campagnani, a concentração será na Praça Saens Peña, que fica a menos de dois quilômetros do Maracanã, palco do evento oficial. “Nosso objetivo é caminhar, a gente tem uma construção política de anos de manifestações na Praça Saens Peña, desde a época que nós manifestávamos contra a privatização do Maracanã.”
A prefeitura foi procurada para comentar o legado social dos Jogos Olímpicos, mas informou que isso é responsabilidade da Empresa Olímpica Municipal (EOM), que não retornou o caontato da Agência Brasil até a publicação da reportagem.