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São Paulo recebe hoje mostra de fotos históricas da Guerra Civil Espanhola

A mostra, em parceria com o International Center of Photography (ICP), marca os 80 anos da Guerra Civil Espanhola.
por Marli Moreira – Repórter da Agência Brasil
Refugiados andando na praia, no campo de internação francês para exilados republicanos, em março de 1939. (Robert Capa)

Depois passar por cidades dos Estados Unidos, da França, do México, da Espanha e da Hungria, chega ao Brasil a exposição A Valise Mexicana: A Redescoberta dos Negativos da Guerra Civil Espanhola. Com entrada gratuita, a mostra será aberta ao público hoje (23), às 14h, no prédio da Caixa, na Praça da Sé. A exposição ocorre das 9h às 19h até o dia 2 de outubro.

A mostra, em parceria com o International Center of Photography (ICP), marca os 80 anos da Guerra Civil Espanhola, reunindo, em dois andares da Caixa, documentos que estavam perdidos há quase 70 anos. Entre os itens expostos estão 176 imagens, aproximadamente 70 reproduções de revistas da época e dois vídeos, em uma montagem conjunta da Caixa Cultural São Paulo e do International Center of Photography (ICP), com curadoria de Cynthia Young, do ICP.

Os negativos recuperados registram cenas de confronto durante a Guerra Civil Espanhola, que se prolongou de julho de 1936 a abril de 1939, após uma fracassada tentativa de golpe de estado. Todo esse material estava em uma valise que continha 4,5 mil negativos referentes às cenas capturadas pelas lentes dos fotojornalistas Robert Capa, Gerda Taro e David Seymour (Chim), conhecidos internacionalmente, pela difusão das atrocidades que presenciaram durante o conflito.

“[Esse trabalho] trouxe à tona uma estética fotográfica de guerra jamais vista até então. Esses negativos ficaram perdidos por quase 70 anos, muita coisa mudou no mundo desde então. Outro fator importante é termos a oportunidade de ver os contatos dos filmes, a sequência cronológica do olhar de cada um desses fotógrafos”, explicou Camila Garcia, uma das coordenadoras da exposição. Ela é pesquisadora do Centro Interdisciplinar de Semiótica da Cultura e da Mídia (CISC – PUC/SP).

Memória

A pesquisadora contou que, em outubro de 1939, quando as forças alemãs se aproximavam de Paris, Robert Capa deixou a Valise, às pressas, rumo a Nova York, a fim de evitar sua prisão como inimigo estrangeiro ou simpatizante comunista.

O que se sabe é que o fotojornalista deixou todos seus negativos em seu estúdio da Rua Froidevaux 37, sob os cuidados de seu revelador e amigo fotógrafo húngaro Imre “Csiki” Weiss ( 1911-2006). Ela teria sido entregue, em 1941 ou 1942 ao general Francisco Aguilar González, até então o embaixador mexicano em Vichy.

Apenas em 2007 é que a mala foi encontrada na Cidade do México e entregue ao irmão do repórter fotográfico, Cornell Capa.

Herbert Hemingway, Hebert Mathews, jornalista do New York Times, e dois soldados republicanos, em Teruel, Espanha, no final de dezembro de 1937
Herbert Hemingway, Hebert Mathews, jornalista do New York Times, e dois soldados republicanos, em Teruel, Espanha, no final de dezembro de 1937Robert Capa

Robert Capa

O nome verdadeiro de Robert Capa é Endre Ernö Friedmann. Nascido na Hungria, em 1913, ele deixou o país aos 17 anos para estudar jornalismo em Berlim, na Alemanha, onde iniciou a carreira como fotógrafo. Em 1933, mudou-se para Paris, onde conheceu Chim e Taro e nessa mesma década acabou tendo o talento profissional reconhecido após a primeira grande cobertura de guerra, indo para a Espanha. Graças à coragem dele, é possível ver imagens de edifícios destruídos, de batalhas, ou da mobilização para a defesa de Barcelona, ou o êxodo de espanhóis em direção à fronteira francesa.

Chim, cujo nome de batismo era Dawid Szymin, chegou a Paris como imigrante da Polônia com o objetivo de trabalhar para ajudar a família e logo conseguiu emprego de fotógrafo. Mas além do sustento, ganhou fama ao retratar cenas sobre ocorrências policiais.

Soldados republicanos no Front de Cordoba, Espanha, em junho de 1937
Soldados republicanos no Front de Cordoba, Espanha, em junho de 1937Gerda Taro
Na mesma época, a alemã Gerta Pohorylle foi para Paris com o nome de Gerda Taro, tornando-se a primeira mulher a ser reconhecida pelo trabalho em fotojornalismo. Ela retratou cenas dramáticas nas linhas de frente da guerra na Espanha, em companhia de Robert Capa. Ambos chegaram à Espanha, em agosto de 1936 para trabalhar como freelancers e tinham o objetivo de documentar a causa republicana para a imprensa francesa.

Para isso, se posicionaram nas linhas de frente da batalha, onde poderiam captar as melhores imagens. Mas Gerda morreu em meio aos combates, atingida por um tanque de guerra, enquanto cobria a Batalha de Brunete, um momento importante da guerra em 1937, nas proximidades de Madrid. Ela deixou imagens captadas em um treinamento do exército popular em Valência, o front de Segovia, e também fotografias, tiradas enquanto ela cobria a batalha de Brunete.

Já Chim registrou o que acontecia em consequência do conflito, mas fora dos locais de combate, fotografando personalidades importantes e o dia a dia de soldados e camponeses nas cidades afetadas pela guerra.

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