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Presidente colombiano assina Acordo Final com FARC-EP

Agora o acordo entre as FARC e o governo colombiano também deverá passar pelo crivo dos colombianos que votam no próximo domingo em um plebiscito.

por Mariana Ghirello – Correspondente especial da Revista Opera e Brasil de Fato na Colômbia
(Foto: Mariana Ghirello/Brasil de Fato/Revista Opera)

Acaba de ser assinado, na noite desta segunda-feira (26), pelo presidente colombiano Juan Manuel Santos e o chefe máximo das FARC-EP (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exercito do Povo), Timoleón Jiménez, o Acordo Final que põe fim a um conflito de mais de 50 anos no país. Desde o cessar fogo bilateral não se tem notícia de combates envolvendo o grupo insurgente e as Forças Armadas. O evento oficial acontece na costa caribenha, em Cartagena de Índias, Colômbia.

Vários especialistas afirmam que hoje é o dia mais importante para a Colômbia depois da independência. O Acordo Final é um documento extenso com quase 300 páginas que tratam de reformas no campo, restauração da ação do Estado na prestação de serviços básicos e proteção da população vulnerável, processo de Justiça transicional, anistia para os combatentes das FARC-EP, reparação de vítimas, integração dos guerrilheiros na vida pública e institucional e a implementação e verificação do acordo.

Agora o acordo também deverá passar pelo crivo dos colombianos que votam no próximo domingo (2/10) em um plebiscito respondendo à pergunta “você apoia o acordo final para terminação do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura?”, com um “sim” ou “não”. As pesquisas de opinião mostram que o “sim” continua sendo maioria, ainda que tenha apresentado uma baixa nas últimas pesquisas.

Após o pleito, os guerrilheiros devem seguir para o que eles chamam de “clausura” nas chamadas Zonas de Veredas e acampamentos. Lá deverão permanecer por um tempo indefinido até o momento da entrega total de armas, que deve acontecer paulatinamente, em até 180 dias. Mas para que isso aconteça ainda existe um longo caminho.

Para que se inicie a entrega das armas, primeiro o Congresso Nacional colombiano deverá aprovar o texto do Acordo Final, o projeto que anistia os combatentes e ainda tratados internacionais que garantem todo o processo. E somente depois de aprovados os três é que começa a contar o calendário dos acordos, o que tem se chamado de “dia D”. Assim, tudo dependerá do tempo que o Congresso leve para aprovar esses projetos chaves para o desfecho do processo.

Paz na Colômbia

O ELN (Exército de Libertação Nacional) se manifestou dizendo que não fará nenhuma ação militar entre os dias 30 de setembro e 5 de outubro para que a população possa participar ativamente do plebiscito. Também reforçaram que estão dispostos a seguir com os diálogos de paz iniciados publicamente em março deste ano.

Também em apoio ao processo de paz colombiano, a União Europeia suspendeu as FARC-EP da lista de grupos terroristas.

X Conferência Nacional Guerrilheira

Na última sexta-feira (23) o secretariado e o Estado Maior das FARC-EP anunciaram ao fim da X Conferência Nacional Guerrilheira que todas as Frentes estão de acordo com a íntegra do Acordo Final e que o processo foi bem recebido. O anúncio do comunicado foi lido por Iván Marquéz em uma coletiva de imprensa no local chamado El Diamante, na planície de Yarí, estado de Caquetá, ao sul da Colômbia. Essa foi a última Conferência realizada como grupo armado.

A Frente primeira havia anunciado que não estava de acordo com o Acordo Final e se negou a integrar o processo, e esse foi um dos argumentos mais utilizados pela oposição ao processo, que alegava que não havia unidade suficiente para o processo. Mas segundo uma fonte do Bloco Oriental das FARC-EP, alguns combatentes foram até a região e conseguiram retirar a maior parte dos guerrilheiros de lá. Hoje o grupo tem cerca de 20 pessoas, e passará a ser um problema das Forças Armadas.

“A reconciliação do país não deixa nem vencedores nem vencidos, ganha a Colômbia e ganha o continente e que a paz abrace a todos”, disse Iván Marquéz. “Acabou a guerra, digam a Mauricio Babilonia, que já podem voar as borboletas amarelas”, completou, em referência ao personagem macondiano do livro de Gabriel Garcia Marquez, do livro “Cem Anos de Solidão”.

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