As eleições municipais desse ano significaram uma derrota sem precedentes para o Partido dos Trabalhadores. Nas grandes capitais, o PT só elegeu prefeito no primeiro turno em Rio Branco (AC), e só foi para o segundo turno em Recife (PE), com João Paulo.
Enquanto isso, o PSDB manteve o número de candidatos disputando o segundo turno nas capitais em relação a 2012, e aumentou a quantidade de prefeitos eleitos em primeiro turno, com João Dória em São Paulo e Firmino Filho em Teresina. Apesar de ter eleito somente um candidato em primeiro turno, o PMDB por sua vez dobrou o número de candidatos disputando segundo turno nas capitais (neste ano foram seis, em 2012, três.)
Em 2012, o PT conquistou 644 prefeituras – neste ano, foram apenas 256 – tendo a possibilidade de eleger mais sete, que foram para o segundo turno. No que se refere aos vereadores, a queda é também significativa: em 2012, foram 5067 eleitos pelo partido; nestas eleições o número é de 2795 (-44,8%), enquanto que PMDB encolheu em 3,5% e PSDB cresceu 4,1%.
Os resultados destas eleições, no entanto, revelam mais que uma derrota para o PT – revelam também um avanço significativo da direita, inclusive entre as massas do povo trabalhador, e, portanto, uma derrota da esquerda. O caso mais evidente foi em São Paulo, onde Dória disparou com 53,2% dos votos, deixando o atual prefeito, Fernando Haddad, em segundo lugar, com 16,7%.
Fica difícil não recordar, frente a esses resultados, as discussões ininterruptas entre petistas e psolistas, que se acusavam mutuamente de oportunistas por seus candidatos não trocarem suas campanhas por uma “frente única” que nunca esteve em jogo – aliás, é bom lembrar a atitude oportunista de ambos os partidos durante a votação para a presidência da Câmara dos Deputados, quando o PSOL lançou Luiza Erundina como candidata – sabendo que ela não teria chance, em especial sem um apoio do PT e PCdoB, e já planejando sua campanha para a prefeitura de São Paulo – enquanto o PT apoiava a candidatura de Marcelo Castro (PMDB), em uma atitude execrável e covarde.
As razões para a derrota, no entanto, são mais profundas do que o clichê “a esquerda precisa se unir” pode resolver. Mesmo que somando os votos de todos os candidatos em SP – incluindo Marta e Russomano – não se obteria uma vitória contra Dória. Em todas as zonas eleitorais periféricas da cidade, com exceção da Zona Sul, onde Marta liderava, Dória esteve à frente. Isso significa que Dória, com um programa abertamente neoliberal e com a pose de “empresário que venceu pelo esforço”, sem ter sequer o apoio integral de seu próprio partido, teve mais capacidade de mobilização do que todos os outros candidatos juntos – inclusive dos que têm o apoio de igrejas evangélicas e contam com programas televisivos, como Russomano, e os que têm um discurso mais próximo da classe trabalhadora, como Haddad e Erundina.
Os resultados nos fazem chegar, também, a outra consideração importante: aparentemente, enquanto a “esquerda” cada vez mais responde mecanicamente ao conservadorismo com pautas progressistas nos costumes – muitas vezes de forma descompassada em relação à realidade concreta do povo -, a direita cada vez mais avança em seu projeto econômico. Isso não significa que o populismo neopentecostal esteja morto (o PRB cresceu em 37,7% nas Câmaras), nem que seu projeto econômico não seja neoliberal. Mas é admirável que, em tempos de crise, candidatos cujo motivo principal é o discurso neoliberal consigam vitórias, com o apoio de parte considerável da classe trabalhadora mais pobre.
Sinal de que o povo anseia, de fato, por algo para substituir o espaço deixado pelo projeto de conciliação petista – a falta de um trabalho com o povo focado na política econômica por parte da esquerda brasileira, no entanto, tem deixado o domínio para o neoliberalismo de empresários lobbistas com pompa de bons gestores. E isso são, de fato: nossa tarefa é dizer à classe trabalhadora a interesse de quem administram.