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Presidente colombiano estabelece data para fim do cessar fogo; FARC-EP pedem que combatentes se protejam

Decisão ocorre após resultado negativo do plebiscito sobre a paz na Colômbia e entrada do ex-presidente Álvaro Uribe nas negociações.

Decisão ocorre após resultado negativo do plebiscito e entrada do ex-presidente Álvaro Uribe nas negociações – por Mariana Ghirello, correspondente especial da Revista Opera e Brasil de Fato na Colômbia
(Foto: Mariana Ghirello / Brasil de Fato / Revista Opera)

Em menos de 48 horas após o resultado do plebiscito sobre a paz na Colômbia realizado no último domingo (2), que deu vitória apertada ao “não”, o clima no país é de ânimos exaltados. Nesta terça-feira, o presidente Juan Manuel Santos colocou uma data para o fim do cessar fogo bilateral, ou seja, depois do prazo, os ataques das Forças Armadas colombianas aos acampamentos das FARC-EP (Forças Armadas Revolucionárias da Colombia – Exército do Povo) podem recomeçar. Além disso, a discussão agora conta com a participação do ex-presidente Álvaro Uribe, grande opositor do processo de paz.

Em um pronunciamento em rede nacional, o presidente colombiano informou que nesta tarde estava em reunião com pastores evangélicos. Segundo ele, a ideia dos encontros era escutar aos que votaram “não” no plebiscito e tentar dialogar para encontrar uma solução para os acordos de paz. Ele destacou que o país está vivendo um momento em uma “zona cinza, uma espécie de limbo, que é muito perigoso e arriscado”.

O presidente reforçou também que, diante disso, prorrogar por mais tempo as negociações poderia “botar a perder” todo o processo. Ele aproveitou a ocasião para anunciar que nesta quarta-feira (5) irá se reunir com o ex-presidente Álvaro Uribe e Andrés Pastrana; os dois também iniciaram processos de paz com as guerrilhas, mas não obtiveram sucesso.

Santos disse que também esteve reunido com os negociadores que dialogam com as FARC-EP em Havana (Cuba). Em sua conta disse que “mais do que nunca” vai precisar do apoio dos negociadores; o general Jorge Enrique Mora Rangel, o também general Oscar Naranjo, o empresário Gonzalo Restrepo e Frank Pearl. Por fim, disse que mesmo com todos os encontros, o cessar-fogo bilateral entre as Forças Armadas e as FARC-EP chegaria a seu fim no dia 31 de outubro.

O anúncio de uma data como forma de pressionar a guerrilha foi recebida com surpresa pelo chefe máximo das FARC-EP, Timoleón Jiménez. Em sua conta do Twitter ele questionou Santos sobre o prazo: “Daí em diante continua a guerra?” perguntou. Ele também convocou a população para respaldar o processo de paz. Pastor Alape, também integrante do secretariado das FARC-EP, pediu que as tropas se deslocassem para regiões seguras “para evitar provocações dos que não querem a paz”.

O integrante do Estado Maior, Iván Márquez, criticou a entrada de Álvaro Uribe, através de seu partido Centro Democrático, no centro dos debates pela paz. “Que Uribe, chefe da discórdia, vai por a mão no Acordo Especial de Havana assinado entre o governo colombiano e as FARC?”. Ele concordou com presidente Santos, declarando que “é verdade que o país atravessa um momento cinza e de limbo, mas será pior se colocamos a paz nas mãos de Uribe e Pastrana”.

Uribe, Pastrana e as FARC-EP são velhos conhecidos. Foi no governo de Pastrana que se instalou o Plano Colômbia para a paz, um acordo assinado entre o país e os Estados Unidos com o objetivo declarado de acabar com o conflito armado no país e erradicar o plantio de coca por meio de uma política de guerra às drogas, aos narcotraficantes e às guerrilhas, que foi continuado por Uribe. Na época, na tentativa de negociar com as FARC-EP, Pastrana abriu uma mesa de diálogos com a insurgência.

Em 2016, o Plano completou 15 anos de existência. Os números demonstraram um aumento no número de pessoas deslocadas pela violência do conflito armado. Além disso, a forte militarização do país trouxe um aumento nas violações dos Direitos Humanos com abusos por parte da inteligência do exército, com inúmeros casos reportados de tortura. E o objetivo principal de erradicação de cultivos ilícitos não foi satisfatório, ao contrário, aumentou com o passar dos anos.

O Ministério da Defesa também se pronunciou, através de um comunicado à imprensa, afirmando que o cessar fogo bilateral, iniciado em agosto deste ano, “poderá ser prorrogado de acordo com a necessidade de preservar o Cessar Fogo e Hostilidades Bilateral e Definitivo, assim como a segurança dos cidadãos, membros das FARC-EP e nossa força pública.”

Também estiveram reunidos na tarde de ontem os chefes de negociação do governo e os líderes das FARC-EP em Havanna (Cuba), como informou o jornal colombiano El Tiempo. Segundo a insurgência, o acordo não pode ser modificado porque já foi depositado no Conselho Federal Suíço, em Berna. Eles alegam também que os acordos têm validade jurídica.

Marchas

Antes mesmo do anúncio do possível fim do cessar fogo, já estavam confirmadas diversas marchas em defesa dos acordos de paz no país. Ocorrerão manifestações nesta quarta-feira, em Bogotá, e na sexta, em Medellín. O CRIC (Conselho Regional Indígena do Cauca) também irá definir hoje como e quando organizará uma mobilização integrando indígenas, negros e camponeses pelo acordo de paz. A região é uma das mais afetadas pelo conflito armado.

Também diversos países, entidades e movimentos sociais colombianos publicaram notas nas quais reafirmam a necessidade de seguir com o processo de paz.

 

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