O Memorial da Resistência, na capital paulista, coloca em exposição, a partir de hoje (10), cerca de 70 correspondências trocadas entre presos políticos da ditadura, seus parentes e amigos entre os anos de 1969 a 1974. Carta Aberta – Correspondências na Prisão traz mensagens que foram mantidas guardadas pelos próprios ex-presos e familiares por mais de quatro décadas.
“Você percebe que essas correspondências eram uma forma de eles permanecerem conectados com o lado de fora [da prisão], e também de saber notícias do que estavam acontecendo”, ressalta a curadora e coordenadora do Memorial da Resistência, Kátia Filipini.
O conteúdo das correspondências mostra que os presos buscavam, nas primeiras mensagens, não deixar os parentes preocupados, apesar da situação que encontravam no cárcere. Segundo a curadora, é possível depreender das mensagens que eles e familiares, na tentativa de diminuir o risco de a correspondência ser bloqueada pela censura, evitavam alguns assuntos nas cartas, como a tortura.
“O que você vai perceber é que, em nenhum momento, no início da prisão, eles falam da questão da tortura. Se estavam presos na Oban [Operação Bandeirante] eram torturados, mas eles não falam para os familiares. Já em cartas posteriores, diziam que os primeiros momentos foram terríveis, mas em nenhum momento eles entram em detalhes”, disse Filipini.
A curadora ressalta que apesar de as cartas tratarem predominantemente da ansiedade pela liberdade e da angústia da prisão, os presos políticos mostravam, nas mensagens, convicção de sua ação. “Em nenhum momento eles se arrependem. Eles acreditavam que estavam tentando mudar o regime”.
A exposição ocorre no Memorial da Resistência de São Paulo, Sala 2 – 3º andar, Largo General Osório, 66 – Luz. A mostra estará aberta até 20 de março de 2017. Informações adicionais podem ser encontradas em memorialdaresistenciasp.org.br.